Estudo revela existência de patologias em residências de Delmiro Gouveia
Projeto de extensão do Campus do Sertão desenvolve cartilha que apresenta causas e possíveis soluções para a resolução do problema
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Deriky Pereira – Estudante de Jornalismo
Nos dias atuais ter uma casa pode ser considerado para muitos como sinônimo de independência. Mas antes de o projeto ficar pronto ele passa por vários processos. A construção, por exemplo, é o passo principal e para ser desenvolvida com sucesso, é necessário que o serviço seja desempenhado por profissionais capacitados, visto que quando a obra estiver concluída, não se espera encontrar nenhum tipo de problema.
Com a intenção de levantar a existência de algum tipo de problema, um estudo foi realizado pelo programa de Aperfeiçoando Cursos e Originando Elos Socioambientais (Ações) do Campus do Sertão da Universidade Federal de Alagoas e os trabalhos deram origem a uma cartilha que pode ser vista gratuitamente por meio do link. O estudo, coordenado pelo professor Alexandre Lima, do curso de Engenharia Civil e de Produção, contou ainda com a participação de dois bolsistas e outros dois colaboradores atuantes no Ações.
“A cartilha mostra a existência de patologias nas residências do município de Delmiro Gouveia. Em cada residência visitada, coletamos amostras de elementos que possuíam algum tipo de patologia e os moradores também responderam a um questionário previamente elaborado pela equipe de pesquisadores”, revelou o professor Alexandre.
Foi a partir da análise desses questionários que os pesquisadores começaram a elaborar um estudo mais detalhado. As respostas indicaram que, quanto à configuração da residência, 96% delas são térreas e que apenas 27% tiveram sua construção acompanhada pelo morador. Já com relação às características construtivas, 79% não possuíam projetos arquitetônicos ou complementares e em 74% das casas a obra não foi acompanhada por um profissional qualificado.
Segundo o professor, o erro começa a partir do momento em que a obra é realizada sem supervisão. “Descobrimos também que apenas 25% dos moradores sabiam de onde estavam vindo os materiais utilizados na construção de suas residências. Isso pode se transformar num grande problema no futuro, pois eles podem ter utilizado materiais de má qualidade que podem contribuir, justamente, para o surgimento de anomalias nessas construções”, ressaltou.
A cartilha explica ainda que o surgimento dessas anomalias se relaciona a duas causas: humanas e naturais. “Quando falamos de causas humanas, podemos citar a inadequação ao ambiente, informação insuficiente no projeto e má execução do mesmo e dimensionamentos incorretos. Já quanto às causas naturais, destacamos as bruscas variações de temperatura do ambiente, a presença de água e de sais, de vento, vegetais ou, até mesmo, de animais que possam danificar a construção e entre outros”, comentou.
Principais patologias encontradas
De acordo com o estudo, em Delmiro Gouveia predominam as residências de um pavimento: 30% delas possuem entre 4 a 7 cômodos e os outros 70% equivalem às residências de 8 a 11 cômodos. É a partir daí que a cartilha destaca as duas principais patologias encontradas: em paredes e nas obras de concreto armado.
Nas paredes, as principais patologias encontradas foram as fissuras e a umidade. Além do desconforto aos usuários das residências em que se manifestam, as fissuras ainda reduzem a durabilidade dos revestimentos e da própria parede. “O aparecimento de fissuras em paredes se deu em 87% das residências pesquisadas, o que indica a falta de costume de os moradores não colocarem vergas e contra-vergas de concreto armado nessas regiões de alta concentração de tensões”, ressaltou o professor Alexandre.
Já a umidade foi detectada em 84% das residências e se encontra, geralmente, na base das paredes de até um metro de altura, em relação à base. De acordo com o pesquisador, esse é o tipo mais complicado de ser corrigido. “Estas manifestações patológicas podem levar ao esfarelamento da argamassa, à formação de áreas com empolamento, podendo chegar à desagregação da superfície. E ainda há o risco de contrair um problema que comprometa a saúde e o conforto de vivência no local”, salientou.
Nas obras de concreto armado o estudo detectou as principais patologias em pilares, vigas e lajes, decorrentes de fissuras, corrosão da armadura e desagregação do concreto. Das três manifestações encontradas, a infiltração em lajes foi detectada em 40% das residências pesquisadas e esse número equivale à maior ocorrência em estruturas de concreto armado.
“Como 95% das casas alvo de pesquisa de nosso estudo são térreas, as lajes presentes nas mesmas são utilizadas apenas como cobertura. Dentre as principais patologias encontradas em estruturas de concreto armado, foi detectado que a infiltração ocorre com maior frequência. Essas infiltrações acarretam em manchas, destacamento do reboco e o mofo”, explicou Alexandre.
Como solucionar o problema?
Os questionários e as fotografias tiradas durante a pesquisa foram os materiais utilizados para a análise dos problemas e apresentação de possíveis soluções. O estudo mostra que pela predominância de casas com apenas um pavimento e pelo baixo número de moradores que fiscalizaram o andamento das construções, Delmiro Gouveia é uma cidade que ainda vive da experiência de mão de obra local, ficando aquém quando se fala em tecnologia de construções.
“A umidade comum nas bases das paredes poderia ser evitada com o uso de materiais impermeabilizantes, além da utilização de cintas de concreto armado, que também podem diminuir a ascensão de água. Quanto às fissuras, normalmente encontradas próximas aos vãos de portas e janelas, podem ser corrigidas com a aplicação de grampos metálicos e reconstituição de parte da argamassa de revestimento na região da patologia”, revelou Alexandre.
Como sugestão para as fissuras causadas pela infiltração, patologia encontrada em destaque nas obras de concreto armado, a pesquisa sugere diferentes maneiras para o seu tratamento. “O selamento das fissuras com resina, o preenchimento da mesma com argamassa impermeável e passar o material impermeabilizante sobre toda a laje são algumas das soluções em destaque na cartilha”, salientou o professor.
Alexandre destaca ainda que pretende fazer o lançamento de mini-cartilhas sobre as patologias para facilitar a compreensão das pessoas sobre o assunto. “Como a cartilha atual possui uma linguagem um pouco técnica, a ideia das mini-cartilhas é utilizar uma linguagem mais simples. Uma para cada tipo de patologia e suas soluções. Elas estarão disponíveis a partir de fevereiro ou março”, concluiu o pesquisador.
Clique no link e confira o estudo na íntegra.