Estudo revela potencial erosivo de isotônicos em contato com os dentes durante exercício físico

Desmineralização e redução da microdureza do esmalte são alguns danos ocasionados pela bebida


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Anna Thereza, Natanael e Daniella utilizaram  resultados da pesquisa para construção de TCC
Anna Thereza, Natanael e Daniella utilizaram resultados da pesquisa para construção de TCC

Jhonathan Pino – jornalista

Comumente utilizados por atletas amadores, os isotônicos são símbolos de reposição de energia e reidratação de seus usuários nas academias. No entanto, diversas pesquisas vêm demonstrando que o uso deles pode gerar males para a saúde bucal, como a desmineralização e redução da microdureza do esmalte nos dentes. Uma destas pesquisas foi desenvolvida pelo Laboratório de Cariologia da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Alagoas (FOUFAL), que aponta alternativas em substituição aos isotônicos.

Conforme as alunas Anna Thereza Ramos e Daniella Mascarenhas, e o professor Natanael Barbosa, integrantes do projeto de pesquisa intitulado “Análise, in vitro e in situ, do potencial erosivo de bebidas isotônicas sob a realização de exercício físico”, a água e a água de coco podem ser sugeridas em substituição aos isotônicos proporcionando a hidratação necessária sem provocar danos às estruturas dentais durante o exercício físico.

Anna e Daniella relatam que, de acordo com a pesquisa, o esmalte e o cimento dental sofrem desmineralização quando expostos aos isotônicos, porque durante atividades desportivas o indivíduo pode sofrer redução do fluxo de saliva produzido. “A saliva é um importante fator de proteção dental devido a elevação do pH do meio oral. Este processo, conhecido por capacidade tampão, neutraliza os ácidos do meio bucal, protegendo a estrutura dental da desmineralização”, explicam.

De acordo com a pesquisa, a ingestão frequente de líquidos, ao longo dos exercícios deixa a boca constantemente molhada, enviando sinais ao sistema nervoso para que a produção de saliva não cesse. Isso previne não somente a desidratação, como ajuda também a manter o fluxo salivar adequado. No entanto, o contato prolongado dos isotônicos com a superfície dos dentes é capaz de proporcionar remoção de minerais, devido ao seu teor ácido.

“Mas ingerir esse tipo de bebida não implica, necessariamente, em dizer que ocorrerá desenvolvimento de lesões erosivas, a erosão dental trata-se de uma doença de caráter multifatorial que depende de características não só relacionadas às bebidas, mas também relacionadas ao indivíduo e até mesmo a forma de como elas são ingeridas”, explicam Anna e Daniella.

Os refrigerantes, sucos a base de frutas ácidas e de soja, além de alguns medicamentos, produtos consumidos com frequência, também são capazes de provocar desgaste químico da estrutura dental. “Quanto ao consumo de refrigerantes e sucos cítricos, o uso de canudos, por exemplo, diminui o contato dessas substâncias com a estrutura dental, reduzindo assim o desenvolvimento das lesões”, completam as estudantes.

Produtos analisados

O projeto, que também virou tema do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) das estudantes, analisou quatro bebidas: duas isotônicas, a base de tangerina e limão (Gatorade ®  Perform  02); água de coco (Socôco ®) e água destilada e deionizada. Entre os resultados apontados estão uma redução acentuada nos valores de microdureza dos espécimes de esmalte e cemento dental bovino, causados pelos isotônicos, “o que sugere potencial erosivo às estruturas dentais, principalmente se consumidos de modo inadequado e com elevada frequência”, acrescentam Anna e Daniella.

Conforme relatório da pesquisa, o pH em torno de 7,0 indica neutralidade, e com esse pH, a cavidade oral encontra-se protegida da desmineralização dental. “Para que ocorra o desenvolvimento de lesões erosivas o pH precisa estar com valores abaixo de 4,5”, detalharam.

Os isotônicos de sabor tangerina e limão apresentaram pH em torno de 3,0, revelando potencial erosivo. Enquanto a análise da água de coco mostrou um valor de pH em torno de 5,0, facilitando assim a neutralização pela saliva. “Durante a prática de atividade física, ela proporcionaria a hidratação necessária, sem provocar danos às estruturas dentais”, enfatizam Anna e Daniella.

Eles ainda alertam que o cirurgião dentista precisa estar atento para identificar e orientar seus pacientes que apresentem essas lesões, já que elas podem levar a sensibilidade dentinária e alteração na forma dos dentes. “O profissional precisa estar atento a esse tipo de lesão, que tem sido cada vez mais frequente devido ao maior consumo de bebidas ácidas, resultante da mudança no estilo de vida da população. É preciso remover a causa do desenvolvimento da erosão dental para que assim seja realizado o tratamento odontológico adequado e eficaz”, sugerem.