Pesquisa aponta cultura de Eucaliptos favorável para o crescimento do semiárido alagoano
A experiência no Sítio Sementeira mostrou a viabilidade de cultivo de espécies de eucaliptos no semiárido alagoano para evitar a degradação do meio ambiente e como alternativa econômica
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Diana Monteiro - jornalista
Para alavancar o desenvolvimento em consonância com a realidade do semiárido alagoano, considerando as condições climáticas e ambientais da região, desde 2010 a Universidade Federal de Alagoas tem em desenvolvimento o curso de Pós-graduação Lato Sensu em Ciências Ambientais-Semiárido, com foco nos estudos mais avançados de culturas alternativas na região.
Sob a coordenação do professor José Gomes Chaves, do Instituto de Geografia e Meio Ambiente (Igdema) do Campus A. C. Simões, o curso tem como principal objetivo produzir riquezas intelectual e econômica da região sertaneja, já tendo formado a primeira turma de especialistas para essa finalidade. O professor frisa que a iniciativa mostra que a educação contextualizada em concomitância com a pesquisa científica trouxe conhecimento e perspectiva socioeconômica para a região sertaneja do Estado de Alagoas.
A mais recente pesquisa concluída é a que trata do cultivo de espécies de eucaliptos para a produção de lenha, diversidade biológica e matéria prima para o mercado madeireiro da região. Durante sete meses desenvolveu-se no Sítio Sementeira, instalado no município de Santana do Ipanema, a 237 km de Maceió, a pesquisa Competição de espécies e híbridos de eucaliptos, no Estado de Alagoas.
Os resultados mostraram que algumas espécies da planta foram resistentes às extremas condições climáticas e ambientais do semiárido, o que torna viável o desenvolvimento de projetos com a finalidade proposta. As espécies de eucaliptos cultivadas foram Eucalyptus grandis, E. camaldulensis, Eucalyptus cloeziana, Eucalyptus brassiana, Corymbia maculata, Eucalyptus phaeotrica, E. tereticornis, e Eucalyptus urophylla.
“Houve o plantio de 1.176 mudas numa área de 10.584 metros quadrados, e mesmo o estudo tendo sido prejudicado pela longa estiagem, nos primeiros resultados constatou-se que é viável a execução do projeto, atendendo assim aos objetivos propostos na pesquisa”, afirma José Gomes Chaves, também coordenador do Grupo de Pesquisa Climatologia Agrosocial e dos estudos científicos.
O pesquisador adianta que além do eucalipto resistir às condições climáticas e ambientais, o cultivo da planta no semiárido é uma importante alternativa de proteção ao solo exposto constantemente às degradações, evitando a destruição da biodiversidade e preservando o valioso bioma da caatinga com o fornecimento de madeira para uso doméstico.
Crescimento
José Gomes Chaves acrescenta que o ciclo de desenvolvimento do eucalipto ocorre de quatro a cinco anos e a planta teste pode atingir atinge até 40 metros de altura. Na experiência realizada em Santana do Ipanema, em torno de seis meses, determinadas espécies alcançaram cerca de 80 centímetros de altura. Pela longa estiagem ocorrida a partir de outubro de 2011, muitas espécies não resistiram às condições climáticas e ambientais da região.
“As espécies que superaram o déficit hídrico, tornaram-se “pasto” para o gado, vez que não havia o alimento natural (pasto) para os bovinos se alimentarem. A resistência de algumas espécies às condições climáticas e ambientais locais comprova a viabilidade do projeto na região, que tem trabalho contínuo”, adianta o professor.
Parcerias e formação acadêmica
A formação da primeira turma de especialistas em Ciências Ambientais resultou em uma equipe multidisciplinar de pesquisadores dedicada ao desenvolvimento regional. “Os alunos da pós-graduação tornam-se mão de obra qualificada e das nove monografias apresentadas às bancas examinadoras, quatro foram desenvolvidas na área experimental, que é instalada no Sítio Sementeira”, frisa José Gomes.
O projeto teve concessão financeira do CNPq, do Instituto do Semiárido (INSA) e apoio da Prefeitura Municipal de Santana do Ipanema, e para continuidade das ações científicas o grupo de pesquisa vem articulando a parceria da Secretaria de Agricultura do Estado.
Integram as atividades acadêmicas e científicas alunos de graduação da Ufal e do Instituto Federal de Alagoas (Ifal). Os estudos envolvem também o professor Gilberto Gouveia Neto (Ifal-Santana do Ipanema); zootecnista Márcia França; Técnica agropecuária Cristina França; Marcos Antônio Drumond (Embrapa/Petrolina-PE); José de Arimatéia Silva, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro; o engenheiro-agrônomo José Teodorico de Araújo Neto e a bióloga Ana Christina Nascimento.
A participação nas atividades do Grupo de Pesquisa Climatologia Agrosocial para alunos da graduação do Campus do Sertão representa, também, uma oportunidade para o fortalecimento profissional e para o mercado alternativo de trabalho.
Dois eventos levarão ao conhecimento da sociedade as ações científicas promovidas pelo Grupo de Pesquisa Climatologia Agrosocial em prol do desenvolvimento do semiárido alagoano: no dia 15 de abril, um workshop no Centro de Ciências Agrárias (Ceca) da Ufal (a confirmar); e no dia 25 de abril, na Fundação de Amparo à Pesquisa em Alagoas (Fapeal), durante evento na área de Ciência e Tecnologia.
Girassóis
O professor destacou também os resultados positivos dos testes experimentais com a cultura de girassóis no semiárido alagoano, realizados no Sítio Sementeira, em Santana do Ipanema, dentro do modelo agrosocial proposto para gerar desenvolvimento socioeconômico para a região.
A pesquisa com girassóis objetivou a produção agroindustrial de óleo alimentar na região, além da produção de ração para aves (já em execução) em sítio de pequeno agricultor de Santana do Ipanema. “Esses resultados já renderam artigo publicado na IV International Conference of Science Society, Berkeley, California, USA, em novembro\2013 e aprovado para publicação no International Journal Science in Society”, informou José Gomes Chaves.