Pesquisa em agroecologia aponta alternativas para agricultores do Sertão
Professor revela como estudos desenvolvidos no Sul do Brasil podem auxiliar agricultores alagoanos
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Myllena Diniz - estudante de Jornalismo
Transformações socioeconômicas presentes no ambiente rural brasileiro têm potencializado recursos produtivos do campo. As mudanças estimulam o desenvolvimento de diferentes atividades – agrícolas ou não agrícolas. De acordo com a pesquisa A Pluratividade na agroecologia como uma alternativa de desenvolvimento para o ambiente rural, produzida por Luciano Barbosa, professor de Economia do Campus do Sertão, esse contexto permite estruturação de sistemas produtivos diversificados e multissetoriais, com espaço para o turismo rural, a produção de bioenergia e a agroindustrialização.
O estudo, desenvolvido no Programa de Pós-graduação em Meio Ambiente e Desenvolvimento da Universidade Federal do Paraná (UFPR), corresponde à análise de regiões e de instituições da região metropolitana de Curitiba, no Paraná. Nele, são apontadas relações entre o sistema socioprodutivo agroecológico e as múltiplas atividades socioeconômicas sob a perspectiva da sustentabilidade socioambiental dos agricultores, bem como alternativas para o desenvolvimento do ambiente rural.
Segundo Luciano Barbosa, dados coletados na pesquisa podem ser úteis para projetos no semiárido alagoano. “Nós podemos confrontar as duas realidades e propor caminhos para Alagoas, a partir do Sertão. O rural e o urbano estão em constante diálogo. Hoje, nós temos uma região rural que não é restrita apenas à estrutura agrícola. Temos outras oportunidades que podem ser abraçadas sem prejudicar a atividade agrícola”, enfatizou.
O objeto de estudo fica localizado na região Sul do Brasil, mas a proposta serve para outras localidades. O intuito do pesquisador foi detectar atividades rurais produtivas que vão além da produção de alimentos. “Nosso objetivo foi verificar outras atividades socioeconômicas dos agricultores, que surgem a partir de relações entre a pluralidade e a agroecologia. Esse levantamento pode ser feito, entre outros aspectos, por meio de informações sobre o modo como as áreas são alocadas [para comercialização – renda monetária –, ou para autoconsumo ou troca – renda não monetária]; e sobre o nível de renda das famílias analisadas”, explicou Barbosa.
Para execução da pesquisa, foram analisados 93 agricultores agroecológicos pertencentes ao Núcleo Maurício Burmeister do Amaral (MBA), distribuídos em 15 grupos e em 15 municípios da região metropolitana de Curitiba. O núcleo compõe a Rede Ecovida de Agroecologia, por meio da qual agricultores, familiares, técnicos e consumidores estão reunidos em associações, cooperativas e grupos informais em prol do desenvolvimento da agroecologia. Além disso, questionário semiestruturado aplicado com 19 agricultores e informações contidas nos Planos de Manejo Orgânico do MBA foram utilizados como instrumento analítico da pesquisa.
Segundo Barbosa, a associação entre atividades de turismo rural e de produções de bioenergia e de insumos garantiram bons resultados ao MBA. “Eles geraram mais de 20 salários mínimos com ações multissetoriais. Para isso, foi preciso aproveitamento eficiente do espaço e dos recursos existentes, bem como articulação em rede, fator que potencializa espaços e recursos. Na rede, eles trocam saberes, fazem reuniões periódicas, promovem oficinas e dialogam com o poder público”, ressaltou.
O funcionamento da Rede Ecovida é descentralizado. Baseada na criação de núcleos regionais, ela reúne membros de uma região com características semelhantes e permite troca de conhecimentos e certificação participativa. Para o professor, esse mecanismo apresenta algumas vantagens.
“Como muitas informações são trocadas, a dinâmica aplicada possibilita o desenvolvimento de outras atividades. Então, os agricultores podem participar de vários mercados. A rede também propicia escambo entre feiras agroecológicas e fortalecimento da identidade dos agricultores. Além disso, restringe o fluxo migratório do rural para o urbano e fortalece a divisão do trabalho”, destacou Luciano Barbosa.
O docente verificou que a renda monetária é superior entre os agricultores analisados, mas a não monetária também é muito expressiva. “Rendas não monetárias favorecem o autoconsumo. Assim, o indivíduo alivia suas despesas, pois o que deixa de gastar com outros produtos é investido em outros setores, como lazer e educação. A filosofia da rede valoriza o autoconsumo de alimentos. Eles primam por segurança alimentar”, salientou.
Diversificação produtiva agrícola e não agrícola, inserção plural dos membros da família no desenvolvimento de atividades produtivas, obtenção múltipla de rendas no decorrer do ano e equilíbrio ecológico dos agroecossistemas são apontados pela pesquisa como alguns frutos da pluratividade na agroecologia.
Aplicação em Alagoas
Os estudos também revelam que a pluratividade permite o desenvolvimento de um ambiente rural diferenciado, estruturado nas singularidades locais e nos diferentes modos e projetos de vida adotados pelos agricultores inseridos no processo. Com base nessa reflexão, Luciano Barbosa observou que as mesmas particularidades podem ser adotadas em Alagoas.
O docente alertou: “Em Alagoas, ainda é alto o número de agricultores com renda monetária ou de subsistência. Precisamos aplicar política não monetária. No Sertão, por exemplo, podemos aproveitar o ecoturismo e a produção de energia. Além disso, precisamos formar uma rede; incentivar a utilização do espaço; incluir gestão empreendedora entre os pequenos agricultores; e ter produção diversificada, divisão do trabalho e utilização de mão de obra”.
No Campus do Sertão, o docente já desenvolve projeto de extensão voltado para alunos de Economia e de Ciências Contábeis. Os trabalhos têm como foco o desenvolvimento rural e agroecológico da região sertaneja e engloba 16 municípios alagoanos. Inicialmente, o grupo fez levantamento das variáveis que geram desenvolvimento para agricultores paranaenses.
Atualmente, analisa o cenário da agroecologia em Alagoas. Em seguida, serão confrontadas as duas realidades e indicadas alternativas para o semiárido alagoano.