Pesquisa revela impactos climáticos da destruição da Mata Atlântica em Alagoas
Estudo verifica mudanças climáticas provenientes da cultura da cana-de-açúcar
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Myllena Diniz – estudante de Jornalismo
Dados do Ministério do Meio Ambiente comprovam que, originalmente, a Mata Atlântica se estendia por cerca de 1,3 milhão km² do território brasileiro, área distribuída entre 17 estados. Desse total, apenas 7% dos remanescentes da vegetação estão conservados em fragmentos acima de 100 hectares. Pesquisa desenvolvida na Universidade Federal de Alagoas revela que, no território alagoano, a devastação esteve associada ao cultivo da cana-de-açúcar, uma das principais atividades econômicas do Estado.
Segundo o professor do Instituto de Ciências Atmosféricas (Icat) e coordenador da pesquisa, Marcos Moura, tudo indica que esse é o primeiro experimento de monitoramento das condições climáticas da Mata Atlântica. “O objetivo do trabalho é desenvolver sistemas de monitoramento que ajudem a detectar mudanças em padrões ainda desconhecidos. Também pretendemos gerar base de dados climáticos locais que possibilitem conhecimentos básicos mais detalhados sobre a complexidade climática de fragmentos da Mata Atlântica”, explicou.
Apesar dos impactos ambientais, estima-se que esse bioma englobe 20 mil espécies vegetais. A diversidade de espécies e o alto grau de endemismos renderam à Mata Atlântica a classificação de hotspot, denominação atribuída às regiões que concentram elevado nível de biodiversidade e necessitam de ações de conservação.
Pesquisa no território alagoano
Marcos Moura destacou que, no passado, a Mata Atlântica ocupou metade do Estado de Alagoas. Atualmente, ela só representa 4,5% do território alagoano. “O bioma era muito extenso. Ele ocupava todo o litoral brasileiro, mas com a colonização foi trocado, quase que em sua totalidade, pela cultura da cana-de-açúcar”, reforçou.
O intuito de Moura é analisar as diferenças existentes entre a região onde a Mata está intacta e a área devastada – o canavial. Desde 2009, o pesquisador desenvolve trabalho de medição, com torre 24 metros de altura, situada a 400 metros da borda da Mata, para não sofrer interferência externa. Os estudos acontecem em fragmento da Floresta Ombrófila Aberta, localizado na Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) – Lula Lobo I, pertencente à Usina Coruripe, no Litoral Sul do Estado. Paralelamente, as pesquisas também são realizadas na área canavieira. Tripé de dois metros de altura, instalado no canavial da Usina Utinga Leão, coleta dados climáticos da região devastada pelo homem.
As variáveis quantificadas são radiação solar global, radiação fotossinteticamente ativa, albedo, balanço de energia, temperatura do ar e do solo, umidade do ar, fluxo de calor no solo, condensação, precipitação e vento. Na floresta, são realizadas medições em três níveis: a dois metros do solo; entre o solo e a copa; e na parte externa da floresta.
“Nosso trabalho mede a radiação global e a PAR [radiação fotossinteticamente ativa], por meio da qual verificamos quanto da global é utilizada para a fotossíntese e quanto é refletida para a atmosfera. Já com a medição do balanço de energia, nós buscamos o saldo de radiação que é utilizado para geração de fenômenos atmosféricos diversos, como formação de nuvens”, salientou Marcos Moura.
Resultados
Segundo Marcos Moura, a pesquisa deve continuar até meados de 2015. Ainda assim, dados preliminares já revelam os estragos da devastação ambiental em Alagoas. As mudanças climáticas sinalizam perigo aos limites do bioma e às espécies que vivem nele.
O pesquisador destacou que a presença de árvores minimiza a retenção de calor pelo solo, bem como de propagação do calor na atmosfera. “Na área de Mata Atlântica, a temperatura é estável, porque há retenção de aproximadamente 95% da radiação solar que consegue adentrar na copa, sendo apenas 5% absorvida pelo solo”, detalhou.
A situação da área devastada é bem diferente. “No canavial, há menos retenção da radiação solar. No entanto, como não há árvores na zona canavieira, menos energia é retida nesse sistema. Assim, mais energia é refletida para o espaço – ao contrário da floresta. Além disso, mais energia é absorvida pelo solo e transferida para a atmosfera, acarretando aumento da temperatura”, alertou Marcos Moura.
A principal consequência desse fenômeno é o aquecimento, que provoca aumento da temperatura, baixa umidade do ar, diminuição de precipitação e de evapotranspiração, e alteração no balanço de energia. Além dos impactos ambientais, a situação tem interferências diretas na economia local e ameaça a produção de alimentos.