Sistema do Aeroporto Zumbi dos Palmares é insuficiente para prever formação de nevoeiros

Falta de dados meteorológicos impossibilita a previsão do fenômeno a curto prazo


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Natália Fedorova e o orientando João Maria de Souza alertam sobre as consequencias da má visibilidade | nothing
Natália Fedorova e o orientando João Maria de Souza alertam sobre as consequencias da má visibilidade

Jhonathan Pino - jornalista

A localização do Aeroporto Zumbi dos Palmares numa região de Clima Tropical faz muitos pensarem que não existem fatores adversos no pouso e decolagem de aeroplanos. No entanto, a inexistência de dados de radiossondagens em Alagoas limita a previsão dos nevoeiros em curto prazo. De fato, raros foram os problemas registrados no espaço aéreo nordestino, causados por fenômenos metereológicos. Isso explica o porquê de tão poucos estudiosos na região se preocuparem com o tema.

Indo na contramão, a pesquisadora Natália Fedorova, do Instituto de Ciências Atmosféricas (Icat), da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), vem estudando, desde 2001, os fenômenos adversos em Alagoas. “Procuramos entender quais são os processos de formação dos nevoeiros, porque na região tropical quase não existem estudos nessa área, o que dificulta qualquer análise”, explicou.

Ao restringir suas pesquisas às proximidades do aeroporto entre os anos de 2002 e 2007, a docente inicialmente constatou oito casos de baixa visibilidade, ocasionadas por nevoeiros na região. Uma delas, ocorrida a quatro quilômetros do Aeroporto, na cidade de Rio Largo, provocou a queda de um avião bimotor Sêneca II, com a morte do piloto e a suspensão das atividades do aeroporto por oito horas. Segundo a professora, a ocorrência desse acidente se deu porque não são existe nenhum método na previsão do fenômeno na região.

Fedorova ainda relata que há falta de um instrumento chamado radiozond, que é muito importante na elaboração do método.  “Tentamos analisar os processos físicos de formação. Mas isto é complicado, porque temos poucos dados. E são necessários dados de radiossondagens precisos para prevê-los. No entanto os mais próximos ficam em Recife e não são próprios para a nossa análise, devido a distância daquela cidade”, detalhou a russa.

A inexistência de dados de radiossondagens em Alagoas limita a previsão dos nevoeiros em curto prazo e outros fenômenos adversos, como trovoadas e chuvas fortes. Por outro lado, também não foram criadas alternativas para a constatação desse fenômeno na região, deixando vulnerável o sistema aéreo no Estado. “Nenhum dos oito eventos de nevoeiro nestes anos foram previstos. O nevoeiro que provocou a queda da aeronave em 2007, por exemplo, não foi previsto por nenhum dos órgãos de controle meteorológico do Estado”, lembrou a pesquisadora.

Produção de dados auxiliares

Em busca de formas alternativas para prever esses nevoeiros, Fedorova e os alunos Aliton Oliveira da Silva e João Maria de Sousa Afonso colheram dados do Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea), do Aeroporto Zumbi dos Palmares, previsões feitas pelo Terminal Aerodrome Forecast (TAF) para Maceió, além de dados dos satélites meteorológicos do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (CPTEC/INPE) e da Diretoria de Meteorologia da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos de Alagoas (DMET-SEMARH/AL).

O trabalho fez parte da pesquisa de iniciação científica “Previsão dos fenômenos meteorológicos adversos no Estado de Alagoas”, que verificou a efetividade do modelo PAFOG, adotado pelo Aeroporto Zumbi dos Palmares. O sistema foi doado pelo professor alemão Andreas Bott, do Meteorological Institute, University of Bonn, e é capaz de fazer a previsão de visibilidade dentro de uma massa de ar, identificando os fenômenos adversos, causadores da baixa visibilidade.

Dados constatados

Conforme a docente, ficou constatado que durante o ano acontecem entre 300 a 500 ocorrências de nevoa úmida na região e é a partir delas que se formam os nevoeiros. “Esses fenômenos afetam aviões de qualquer porte, porém eles também atingem as rodovias. Mas estas não são analisadas, porque não existem informações sobre os nevoeiros nas regiões. No entanto, alguns meterereologistas vêm constatando a perda de visibilidade nas rodovias, em várias partes do Alagoas”, relatou.

No relatório de pesquisa, João Maria Souza alerta que a previsão dos fenômenos não serviria apenas ao transporte aéreo, mas salvaria vidas principalmente nas rodovias. “Esse problema tende a se agravar cada vez mais, devido ao crescimento (prolongamento da nova pista) do Aeroporto Zumbi dos Palmares e, consequentemente, o aumento do tráfego aéreo. A melhoria das previsões acarretará, certamente, em uma economia de recursos, uma vez que objetivam evitar perdas econômicas e sociais, e até mesmo de vidas humanas”, relatou.