Comunidade acadêmica debate sobre as florestas e a água

O debate abordou o Código Florestal, ciclo hidrológico e os desafios da sustentabilidade


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Anivaldo Miranda (centro),  da Bacia do São Francisco critica o crescimento desordenado de Maceió
Anivaldo Miranda (centro), da Bacia do São Francisco critica o crescimento desordenado de Maceió

Diana Monteiro - jornalista

O Dia Mundial da Floresta, 21 de março, e Dia Mundial da Água, 22, motivaram a comunidade acadêmica a participar da terceira edição do Projeto Ufal Debate Grandes Temas, que enfocou Águas e florestas: desafios para a Gestão Sustentável". O evento, realizado nesta segunda-feira, 17, pela Pró-reitoria de Extensão (Proex), contou com a participação dos pesquisadores e especialistas Vladimir Caramori Borges de Souza e Letícia Ribes de Lima, da Universidade Federal de Alagoas; jornalista Anivaldo Miranda, presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco e o engenheiro José Roberto Valois Lôbo, gerente de produção e desenvolvimento operacional da Companhia de Abastecimento de Alagoas (Casal).

O Código Florestal, ciclo hidrológico, os desafios da sustentabilidade e a problemática dos recursos hídricos em Alagoas deram a tônica do evento, coordenado pelo pesquisador e ecólogo da Ufal, Ulisses Gomes. “O papel dos sistemas florestais no ciclo das águas”, foi enfocado pela bióloga Letícia Ribes contextualizado também, na realidade alagoana que destacou ser fundamental a existência de matas ciliares nesse processo: “As matas ciliares têm como um dos papéis conter as enchentes e a erosão dos rios auxiliando na dispersão da enxurrada. Protegem também os rios dos agrotóxicos, assim como na proteção de espécies da flora e fauna e na criação do micro hábitat dos rios”, destacou.

Sobre o Código Florestal, Letícia Ribes enfatizou que as alterações em vigor foram o retrocesso nessa área. “O Código foi criado em 1965 e é um instrumento legal das matas brasileiras, cabendo ao agricultor também deveres, como reconstituir integralmente a área desmatada. O Código atual, alterado em 2012, tem como um dos retrocessos, a redução de reconstituir a faixa da mata ciliar provocando redução de espaço para o rio extravasar. O novo Código Florestal tem tendência de apagão hídrico por apresentar relação estreita com apagão elétrico”, disse Letícia.

O professor Vladimir Caramori destacou o ciclo hidrológico urbano e disse: “Maceió é abastecida pelos mananciais, e a cidade continua crescendo. As mudanças não estão sendo percebidas pelos gestores, além das emergências. Ainda não se parou para pensar sobre essa problemática. É preciso melhorar o conhecimento e gestão da relação água e clima”, disse.

Recursos Hídricos

A climatologia, o desmatamento e a gestão sustentável foram apontados como problemática dos recursos hídricos em Alagoas pelo engenheiro e especialista na área José Roberto Lôbo, representante da Casal no debate: “Na região sertaneja alagoana chove 300 ml/ ano enquanto no litoral e zona da mata 2.400 ml/ano, sendo uma variação de precipitação grande. No sertão é onde há a maior evaporação natural da água, ou seja, evapora-se mais do que se tem”, frisa.

Roberto Lôbo acrescenta que a falta de chuvas vem reforçando uma estiagem prolongada que já dura dois anos comprometendo dessa forma os recursos hídricos, cujo abastecimento em municípios como o de Estrela de Alagoas, vem sendo feito em caixas d´águas. “São 36 municípios que estão em estado de calamidade pública, com 1.120 comunidades abastecidas por carros - pipas. A vazão do Rio São Francisco vem sofrendo também restrição”.

O jornalista e ambientalista Anivaldo Miranda reforçou a existência da crise ambiental e disse que a velocidade da degradação é muito maior do que as ações na área e enfatizou: “Estamos entrando na era dos extremos climáticos e é preciso que a humanidade acorde. Com a proximidade do Dia mundial da Água, 22 de março, é necessário fazer essa reflexão”. E complementou: “Além das águas florestais, os oceanos são outro ecossistema. Erroneamente eles são considerados a cloaca do planeta".

Sobre a reforma do Código Florestal, o ambientalista considera também um retrocesso. “O atual Código foi tirado à força pela bancada rural. Além do retrocesso, não está sendo aplicado e o cadastramento rural vem sendo sabotado”, frisa. Aproveitou a oportunidade e colocou o crescimento desordenado da cidade para o litoral norte, condenando a omissão do Estatuto da Cidade: “A especulação imobiliária aprovou um Plano Diretor que não serve e tem proporcionado a ocupação urbana suprimindo áreas verdes, e para conter essa devastação é fundamental a mobilização da sociedade”, destacou Anivaldo.