ICAT realiza pesquisa para melhorar a precisão dos prognósticos de vento em parques eólicos do Nordeste

O estudo visa contribuir para evitar risco de racionamento de energia elétrica no país


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O pesquisador Roberto Lyra | nothing
O pesquisador Roberto Lyra

Lenilda Luna - jornalista 

O professor Roberto Lyra, formado em Meteorologia pela Ufal e doutor em Física da Atmosfera pela Universidade de Tolouse, conhece bem o potencial energético dos ventos que sopram no estado. Em 2008, ele participou da elaboração do Atlas Eólico de Alagoas, financiado pela Eletrobras, e já naquele período pôde constatar que existem condições para produzir 64% da energia elétrica consumida na no Estado com esta fonte alternativa. 

Nos últimos anos, com o esgotamento de modelos de matriz energética tradicionais, o governo brasileiro está investindo mais em fontes sustentáveis. Para isso, pesquisas sobre a precisão do vento em parques eólicos, são fundamentais. "É necessário ter dados precisos sobre a intensidade dos ventos, constância, turbulência, etc., para auxiliar na elaboração dos projetos de implantação dos parques eólicos e para que o investimento seja feito de forma segura", explica o pesquisador. 

Com a proposta de desenvolver usinas eólicas com capacidade de produzir energia elétrica, de forma competitiva, reduzindo o risco das variações climáticas sobre à matriz energética do pais, baseada em hidrelétricas, o CNPq lançou, em 2010, um edital exclusivo para pesquisas relacionadas à energia eólica. "Apresentamos um projeto e alcançamos a aprovação na faixa máxima de destinação de recursos, em torno de 750 mil reais, o que indica a relevância da pesquisa", ressaltou Roberto Lyra. 

A pesquisa desenvolvida numa área plana do agreste alagoano, no município de Craíbas, conta com a cooperação do Centro de Tecnologia Aeroespacial (CTA) e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), que são unidades do Governo com grande experiência em desenvolver ferramentas de simulação e modelagem ambiental. Em meio a uma plantação de fumo, foi erguida uma torre de 100 metros de altura, com sensores no topo e aos 70 metros e 50 metros de altura. "Essa é a primeira fase, onde estamos coletando dados em medidas altas", informou Roberto Lyra. 

Segundo o professor, na segunda fase serão instalados sensores em mais 5 níveis (30, 18, 12, 9 e 2 metros). Na terceira fase, será instalado uma torre menor equipada com um anemômetro ultrasônico 3D (para medidas de vento em alta frequência) e de um sistema de medição de fluxos (eddy covariance). A combinação destes dois permite quantificar os fluxos de calor, vapor de água e CO2. Além disso permite diagnosticar com precisão a turbulência de origem térmica e de origem dinâmica. "São equipamentos que nos dão cerca de 120 medidas por segundo. É uma tecnologia cara, mas é um investimento necessário, quando levamos em conta que um parque eólico é bem mais rápido de instalar do que uma hidrelétrica, e com muito menos impacto ambiental", ressalta o pesquisador. 

O professor Roberto Lyra destaca que o incentivo à produção de energia eólica é crescente e representa uma importante alternativa para a diversificação da matriz energética, na tentativa de evitar que tenhamos que passar por mais um racionamento de energia elétrica. "No Brasil, a capacidade instala para produção de energia eólica (148 parques) é de 3,6 MW, mas temos problemas estruturais a serem superados. Por exemplo, falta de linhas de transmissão. Existem parques eólicos prontos que não está funcionando porque falta interligação com a rede para que a energia possa ser distribuída", alerta o pesquisador. 

Os resultados das pesquisas realizadas pela Ufal em Craíbas servirão como referência para estudos com modelos para prognóstico do vento e, principalmente, para instalação de parques eólicos em todo o Nordeste. Além de participar de um projeto importante para o país, as pesquisas também incentivam a formação acadêmica na Universidade Federal de Alagoas. "Temos mais de 60 publicações fruto desse projeto, entre Artigos científicos, Dissertações de Mestrado e Trabalhos de Conclusão de Curso (TCCs)", relata o professor.