Empresa ClimaTempo seleciona Ufal para monitoramento de riscos de queimadas no Nordeste

As queimadas provocam falhas nas linhas de transmissão de energia elétrica e desde 2010 o Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites utiliza imagens do Satélite Meteosat para desenvolver estudos na área


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Pesquisador Humberto Barbosa coordenando equipe dos estudos científicos na área das ciências atmosféricas | nothing
Pesquisador Humberto Barbosa coordenando equipe dos estudos científicos na área das ciências atmosféricas

Diana Monteiro - jornalista

A Universidade Federal de Alagoas está entre as instituições federais de ensino superior, selecionadas pela Empresa ClimaTempo para desenvolver estudos voltados ao monitoramento de queimadas no território brasileiro. As queimadas registram maior período de incidência natural ou são provocadas entre os meses de julho a outubro e potencializadas em anos de secas extremas. Do bioma do cerrado, parte da caatinga e toda a região central do Brasil a incidência maior é de agosto a outubro, e no Nordeste as queimadas têm como uma das causas mais comuns falhas nas linhas de transmissão de energia elétrica.

O professor Humberto Barbosa, coordenador do Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis) e dos estudos na área, destaca que há um desconhecimento técnico no uso adequado do manejo do solo para práticas contínuas de corte-e-queima (manejo inadequado), com a finalidade de abrir novas áreas para agricultura e pastagens, através de incêndios de alta temperatura.

Ressalta que o calor e a fumaça provenientes das queimadas podem atingir as torres e as linhas de transmissão elétrica, e como uma das consequências preocupantes é o encadeamento de desligamentos em série que podem atingir grandes extensões do território brasileiro, uma vez que o sistema elétrico nacional está praticamente todo interligado. “Normalmente as linhas e as torres de transmissão estão espalhadas onde se tem essa prática de utilização de queimada”, reforça o professor.

Com estudos desenvolvidos desde 2010 sobre queimadas nas proximidades de linha de transmissão e torre de energia elétrica com informações geográficas de incêndio ou ponto de queimadas no país, a Ufal foi selecionada em outubro do ano passado para se engajar nacionalmente nas atividades propostas pela Empresa ClimaTempo, quando da visita da equipe ao Laboratório Lapis.

A equipe visitou de norte a sul do Brasil universidades federais para selecionar projetos e pesquisas de aplicação de meteorologia na área de energia alternativa, como a eólica e a solar e conheceu os estudos realizados pela instituição alagoana. “O estudo contou com a colaboração do Operador do Sistema Elétrico (ONS), uma organização atrelada ao Ministério de Minas e Energia, responsável pela coordenação e controle da operação da geração e transmissão de energia elétrica no Sistema Interligado Nacional”, enfatiza o professor. Humberto coordena várias pesquisas com aplicação de satélite para monitoramento meteorológico.

Recentemente ele esteve participando em São Paulo de um encontro promovido pela Empresa ClimaTempo que reuniu cerca de cem representantes das universidades selecionadas e setores de meteorologia e energia do Brasil para discussão e ação estratégicas em consonância com a preocupante realidade existente. “O foco do encontro foi entender a influência das informações meteorológicas no setor de energia voltados à produção e transmissão de energias alternativas. Também entender a necessidade do setor elétrico de compreender a componente meteorológica na energia solar e elétrica”, destaca Humberto.

Ele adianta que as empresas de distribuição de eletricidade necessitam de dados de localização das queimadas em tempo quase real e ferramentas para gerenciar de forma eficiente suas operações. “O projeto em desenvolvimento tem por objetivo implementar um protótipo de visualização conjunta de linhas de transmissão de energia elétrica e focos de queimadas, independente do sistema de internet, além de analisá-los em um sistema de informações geográficas”, enfatiza.

Monitoramento por satélite

Humberto Barbosa informa que até este ano o monitoramento de queimadas baseado em produtos do serviço EUMETCast vem sendo realizado por meio de projetos vinculados às universidades federais, a citar o Sistema Integrado de Alerta de Queimadas (SIAQ), desenvolvido pelo Laboratório de Análise e Processamento de Imagens (Lapis). Esse sistema é voltado para a detecção e monitoramento de queimadas por satélite em tempo quase real para o Nordeste do Brasil, a partir do emprego da plataforma tecnológica TerraMA2 do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

O sistema SIAQ permite fazer a gestão, integração e visualização dos dados recebidos pelo serviço EUMETCast e demais informações geográficas, e o pesquisador explica que plataforma TerraMA2 é um produto de software livre, desenvolvido utilizando-se como plataforma de desenvolvimento a biblioteca de software TerraLib. “Em tais iniciativas, vale ressaltar o envolvimento, a custo bastante reduzido, de professores, pesquisadores e estudantes”, frisa Humberto Barbosa que integra o corpo docente Instituto de Ciências Atmosféricas (Icat), da Ufal.

Acrescenta que os produtos de satélite (fire radiative power, fire risk map) para o monitoramento de queimadas em tempo quase-real, podem ser acessados através de estação de recepção de baixo custo, compostas por uma antena parabólica, um amplificador conversor de baixo ruído, uma placa de recepção de vídeo digital via satélite e um software de ingestão e organização dos dados instalados em um computador de configuração intermediária. “A estação é conectada ao serviço EUMETCast da EUMETSAT (European Organisation for the Exploitation of Meteorological Satellites) que através de um sistema Digital Video Broadcast (DVB), um sistema similar ao sistema de televisão a cabo, dissemina dados ambientais”, diz.

Informa que acoplado aos dados de localização das queimadas em tempo quase real, uma base de dados geográficos das torres de linhas de transmissão permitirá o cruzamento e visualização de mapa ou imagem que possam auxiliar na tomada de decisão, no caso específico de danos à estruturas de transmissão de energia elétrica. “A implementação operacional do protótipo pode ser feita em Salas de Situação de agências operacionais de Defesa Civil, Meteorologia, Concessionárias e Proteção Ambiental”, explica o pesquisador.

Risco de “apagões”

Sobre a situação do Nordeste frente à crise energética Humberto Barbosa diz que é a principal região de investimento para instalação do parque de aerogeradores, destinados a converter a energia cinética contida no vento (eólica) em energia elétrica. Ele aproveita para informar sobre a influência de El Niño para a redução da capacidade hídrica e a consequente possibilidade de queimadas.

Há a previsão de formação de El Niño na região do Pacífico Equatorial, mas só saberemos da possível existência desse fenômeno natural entre setembro e outubro. Se confirmado, haverá a diminuição da capacidade hídrica do Nordeste, agravando a situação da capacidade de armazenamento de água na Bacia do São Francisco. Além disso, em função do baixo índice de precipitações (chuvas), também pode crescer a incidência de queimadas da região, o que pode provocar os conhecidos apagões”, destaca o professor Humberto Barbosa.

Lapis e a Copa do Mundo

Nos dias de jogos da Copa 2014, é fácil acompanhar a previsão meteorológica das doze cidades-sede do mundial disponibilizada ao vivo pelo Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites. O interessado pode acessar os produtos tais como: Imagens de Satélite, Meteogramas; Prognóstico on-line; Mapas de Ventos e Câmeras de Monitoramento pelo site http://www.lapismet.com. Denominada de Lapis na Copa do Mundo ao Vivo, para a iniciativa o laboratório é dotado de uma estação para recebimento de informações meteorológicas em tempo real e conta com cooperação de diversos órgãos nacionais e internacionais de meteorologia por satélite.

O sistema de telecomunicação em funcionamento no Lápis utiliza o serviço EUMETCast, que é de baixo custo de transmissão de informações por satélite em tempo real e em arquivo. “Esse sistema foi projetado para distribuir imagens do satélite meteorológico Meoteosat Segunda Geração (MSG), de produtos e de serviços do Programa Global Earth Observation Systems of System (GEOSS)”, concluiu Humberto Barbosa.