“Para cada som tem um gesto, para cada gesto tem um som. Este é o cerne da Pedagogia Dalcroze”
Diretora da Escola Técnica de Artes da Ufal, professora Rita Namé, fala sobre a Oficina de Rítmica Dalcroze
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Natália Oliveira – estudante de Jornalismo
Pela quinta vez, a Universidade Federal de Alagoas recebe a Oficina Rítmica Dalcroze, ministrada por Iramar Rodrigues, professor do Instituto Jacques-Dalcroze de Genebra, na Suíça. Neste ano, as 50 vagas disponíveis foram rapidamente preenchidas. Em entrevista, a diretora da Escola Técnica de Artes da Ufal e professora de música, Rita Namé, fala sobre o criador da Pedagogia Dalcroze e a oficina, que será realizada de 4 a 8 de agosto, no Espaço Cultural Universitário, na Praça Sinimbu.
Ascom - Esta é a quinta vez que a Ufal recebe a “Oficina Rítmica Dalcroze”. De que forma começou a pareceria entre a Universidade e o professor Iramar Rodrigues?
Rita Namé – O primeiro contato foi feito por mim, porque fui aluna dele há 30 anos. Durante as férias na Europa [o professor mora em Genebra, na Suíça], ele vem para a América Latina para ministrar oficinas e, com isso, eu fiz contato para ele vir a Maceió. A Ufal está sempre em busca do conhecimento e de pessoas que possam ligar as diversas linguagens artísticas, como teatro, música, dança e outras, e Dalcroze é fundamental para isso.
Ascom – O que é a Pedagogia Dalcroze?
Rita Namé – A Pedagogia Dalcroze é uma pedagogia aplicada, tanto a alunos e professores de música, como de dança e de teatro, porque ela trabalha a música dentro de uma esfera corporal, gestual. Todos os elementos da música podem ser incorporados gestualmente e trabalhados para que haja um entendimento do universo musical. Então você pratica muito. Não é uma dança, é preciso aprender partituras musicais, mas o aprendizado é através do corpo e do gesto. Para todas as possibilidades musicais, existem possibilidades gestuais.
Ascom – Quem foi Dalcroze?
Rita Namé – Émile Jaques-Dalcroze foi um pedagogo que nasceu no século 19. Antes dele, o ensino da música era muito teórico. Dalcroze fez uma revolução muito grande junto a pessoas do universo da dança e trabalhou em cima das novas conquistas para a educação. Aí ele transformou o ensino da música em algo mais prático, prazeroso, lúdico.
Ascom – Qual é a importância do processo de aprendizagem da Pedagogia para apreciadores e pessoas ligadas ao universo das artes?
Rita Namé – A Pedagogia Dalcroze atinge pessoas de várias idades, como criança, adolescentes e idosos. Ela é importante por ser um processo muito prático, onde ensina a linguagem musical de uma forma muito vivencial através do corpo. Por exemplo, é importante que o bailarino aprenda música, porque ele trabalha com ela. Da mesma forma o músico precisa da dança, pois ele necessita do corpo para tocar um instrumento. Para cada som tem um gesto, para cada gesto tem um som, uma representação sonora. Esse é o cerne da Pedagogia Dalcroze.
Ascom – Como é a metodologia das aulas durante a oficina?
Rita Namé – Em Dalcroze, usa-se o piano, um instrumento harmônico, e materiais externos à música, como bolas, garrafa PET e copos, que tornam-se instrumentos. As aulas têm uma visualidade, uma plasticidade. Como o público está sempre se renovando, o professor Iramar Rodrigues destina um tempo aos novos e antigos alunos. A prática começa logo no início da aula para todos que participam da oficina. Depois de duas horas de trabalho, há uma reflexão sobre o que foi feito, e é onde entra a Pedagogia Dalcroze. No período da tarde, a oficina é voltada aqueles que já estão em um estágio avançado.
Ascom – A turma prepara alguma performance durante as aulas?
Rita Namé – Sim, geralmente há apresentação dos músicos ou diálogos musicais transpostos para o palco, para marcar o encerramento da oficina. Durante as atividades, o professor Iramar consegue captar o potencial criativo da turma. A partir disso, ele dá direções aos alunos para eles prepararem uma performance.
Ascom – As vagas para a oficina foram preenchidas rapidamente. Como a senhora enxerga o interesse do público?
Rita Namé - Quando a Ufal traz alguém para ministrar oficinas, a resposta é muito boa por parte do público. Os alunos dos cursos de artes são interessados e os professores também. E isso é muito bom, porque raras são as vezes que professores e alunos estão de igual para igual, sem a hierarquia encontrada nas salas de aulas.