Estudo propõe educação inclusiva para crianças surdas e autistas

Projetos são desdobramentos das reflexões em torno dos grandes desafios da Interação Humano-Computador


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Professor Ig Ibert integra a pesquisa sobre acessibilidade e inclusão digital
Professor Ig Ibert integra a pesquisa sobre acessibilidade e inclusão digital

Lenilda Luna - jornalista

Desde 2006, a Sociedade Brasileira de Computação promove uma reflexão conjunta de pesquisadores sobre grandes desafios da pesquisa em computação no País. Uma das linhas deste debate é a Interação Humano-Computador (IHC), que definiu cinco desafios para serem avaliados para o decênio 2012-2022: Futuro, Cidades Inteligentes e Sustentabilidade; Acessibilidade e Inclusão Digital; Ubiquidade, Múltiplos Dispositivos e Tangibilidade; Valores Humanos; Formação em IHC e Mercado.

Na Universidade Federal de Alagoas (Ufal), há um representante nesse esforço científico para pensar questões sobre as quais os pesquisadores devem se debruçar, tentando enxergar os cenários possíveis para a próxima década. O professor Ig Ibert Bittencourt integra a pesquisa sobre Acessibilidade e Inclusão Digital. Após a apresentação do relatório, os grupos estão se dedicando a criar alternativas para o enfrentamento dos desafios avaliados.

O Instituto de Computação (IC) da Ufal está com duas linhas de atuação em acessibilidade: uma pesquisa sobre recursos tecnológicos para a educação em Libras, a Língua Brasileira de Sinais, e outra voltada às crianças com autismo. "A proposta é desenvolver tecnologia que possibilite a inclusão de crianças em fase de alfabetização. Que recursos tecnológicos podem auxiliar os educadores na interação e na comunicação com crianças surdas e autistas no ambiente escolar?", questionou o professor Ig Ibert.

Comunicação bilíngue

Segundo o pesquisador, que tem acompanhado estudos desenvolvidos pelo Centro de Educação (Cedu), existe uma grande dificuldade para as crianças surdas aprenderem o Português. Já as crianças ouvintes têm pouco interesse ou estímulo em aprender a Língua Brasileira de Sinais. Essa situação impõe uma barreira na comunicação entre os dois grupos. "Diante dessa realidade, pensamos em desenvolver um jogo didático que facilite a alfabetização bilíngue. Temos um protótipo em desenvolvimento, que ainda não foi testado", revelou.

O trabalho com a Língua Brasileira de Sinais está sendo realizado pelo aluno do mestrado, Denys Fellipe Souza Rocha, com a orientação do professor Ig Ibert. "Denys já entrou demonstrando que é possível superar estereótipos. Ele foi o primeiro aluno formado no curso de Sistemas de Informação, no ensino a distância, a ingressar no mestrado em Informática, o que já demonstra que não existe diferença de qualidade entre a formação presencial e a EaD", destacou Ig Ibert.

Desde a graduação, Denys começou a pesquisar tecnologias voltadas para o ensino de Libras. "Apesar de não ter ninguém no meu circulo de convivência com surdez, fiquei interessado nessa linha de pesquisa. Quando entrei na Universidade, fui informado de um projeto de tradutor da Língua de Sinais que estava em desenvolvimento desde 2001, e que estava parado porque faltava alguém para fazer as animações e alimentar o banco de dados do aplicativo com Sinais de Libras", relatou o estudante.

Denys Rocha desenvolveu então o AssistLibras, que é um assistente de construção de símbolos da Língua Brasileira de Sinais, projetado para que qualquer leigo em computação gráfica possa criar as representações. "Criamos um avatar em 3D, para orientar uma pessoa que não tem conhecimento de computação gráfica, mas tem conhecimento em Libras, a construir essas representações gráficas para alimentar o banco de dados de um tradutor", explicou.

O AssistLibras foi testado com três usuários: uma professora de Libras, um leigo na linguagem e um surdo, apresentando resultados satisfatórios e um grande potencial de uso. O estudo foi premiado como o melhor Trabalho de Conclusão de Curso, durante o Simpósio Brasileiro de Informática na Educação, realizado na Universidade de Campinas (Unicamp), em novembro de 2013.

Agora cursando o mestrado em Informática, Denys Rocha, sob a orientação de Ig Ibert, pretende realizar um estudo que possibilite a oferta de um modelo de educação inclusiva, estimulando uma interação maior entre crianças surdas e ouvintes. "Queremos desenvolver um estudo longitudinal, ou seja, acompanhar o desenvolvimento escolar de uma pessoa surda, dos cinco anos até que ela ingresse na universidade", disseram os pesquisadores.

Aplicativos para educação de crianças autistas

Outro grande desafio abraçado por pesquisadores de Ciência da Computação é contribuir com tecnologias que facilitem a inclusão escolar de crianças autistas. Não é uma tarefa fácil, pois basta avaliar que escolas e educadores ainda estão pouco preparados para lidar com crianças que têm esse transtorno de desenvolvimento, que afeta as habilidades sociais e de comunicação.

Até mesmo as leis que garantem a convivência escolar para crianças com deficiência são recentes e a capacitação dos professores para lidar com as diferenças dentro de uma mesma sala de aula ainda está no início, fomentando muitas pesquisas e debates. Mas, desde a graduação em Sistemas de Informação, no Instituto Federal de Alagoas (Ifal - Campus Maceió), o aluno Ezequiel Batista se interessou pelo tema.

 Ele integrou um grupo, no Ifal, orientado pela professora Mônica Ximenes, que desenvolveu o aplicativo ABC Autismo, um jogo baseado em estudos da psicolinguística, criado para facilitar a aprendizagem de crianças e jovens com autismo, utilizando atividades interativas e atrativas. O aplicativo foi apresentado em feiras de informática e teve uma boa aceitação. Ele está disponível no Google Play para plataformas Android e já teve mais de quatro mil downloads.

A partir dessa experiência, Ezequiel Batista, que foi aprovado no mestrado em Informática do Instituto de Computação da Ufal, no início deste ano, está dando continuidade aos estudos, por meio da orientação conjunta dos professores Ig Ibert, da Ufal, e Mônica Ximenes, do Ifal. "Queremos avaliar qual o impacto dessas tecnologias desenvolvidas na alfabetização de crianças com esse tipo de transtorno. Nossa proposta é a pesquisa e o desenvolvimento, com a intenção de colaborar com o trabalho de educadores na alfabetização de crianças autistas", esclareceu Ig Ibert.

Participação no IHC 2014

Dando continuidade ao debate sobre os Grandes Desafios da relação Humano-Computador, será realizado o 13º Simpósio Brasileiro sobre Fatores Humanos em Sistemas Computacionais, promovido pela Sociedade Brasileira de Computação, no período de 27 a 31 de outubro de 2014, em Foz do Iguaçu-Paraná. Neste encontro, pesquisadores vão compartilhar informações sobre estudos e pesquisas multidisciplinares que buscam contribuir com a interação entre usuários e sistemas computacionais.

Será mais uma oportunidade para os pesquisadores do Instituto de Computação da Ufal apresentarem os estudos que estão realizando. "Estaremos lá, mais uma vez, interagindo com pesquisadores na área de Ciência de Computação de todo o País e apresentando o que já pudemos produzir no tema que nos coube sobre Acessibilidade e Inclusão Digital", planejou o professor Ig Ibert Bittencourt.