Pesquisa revela sentido da velhice na passagem do século 20 ao 21
Estudo enfoca as contradições existentes e todas as mazelas que permeiam a velhice no contexto do sistema capitalista
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Diana Monteiro – jornalista
A organização Mundial de Saúde (OMS) classifica cronologicamente como idosos as pessoas com mais de 65 anos de idade, em países desenvolvidos, e com mais de 60 anos de idade, em países em desenvolvimento. No mundo inteiro, o número de pessoas com 65 anos de idade ou acima dessa faixa etária está crescendo de maneira mais acelerada que antes. Nesse contexto, estudos apontam que o crescimento é ascendente porque também mais crianças atingem a idade adulta.
Com o objetivo de entender os sentidos da velhice na passagem do século 20 para o século 21, a temática ganhou importante estudo na Universidade Federal de Alagoas, realizado pelo professor Helson Flávio da Silva Sobrinho, da Faculdade de Letras (Fale). Sociólogo e doutor em Linguística na área de análise do discurso, o pesquisador já fez o lançamento do primeiro livro Discurso, Velhice e Classes Sociais, editado, em 2007, pela Editora da Ufal (Edufal).
O trabalho de pesquisa atual A velhice na imprensa e os sentidos de aposentadoria delimitando o dizer foi selecionado para a 66ª Reunião da Sociedade Brasielira para o Progresso da Ciência (SBPC), realizada em julho, na Universidade Federal do Acre, em Rio Branco, e integrou um dos eixos temáticos do projeto O Funcionamento do discurso sobre a velhice e os trajetos sociais de sentidos, coordenado pelo professor Helson Flávio. Além dele, o projeto conta com a participação das alunas de Letras, Simone Valéria de Araújo e Camila Medeiros, e da doutoranda em Linguística, Juliana Tereza de Souza Lima Araújo.
A pesquisa enfoca as contradições existentes e todas as mazelas que permeiam a velhice no contexto do sistema capitalista: discriminação, quando se trata de condição sócioeconômica, dizeres pejorativos sobre os velhos, limites no mercado de trabalho, aparência física e direito à aposentadoria.
Contradições sobre a velhice
Segundo o professor Helson Sobrinho, mesmo com a Política Nacional do Idoso e o Estatuto do Idoso, há uma dissimulação de sentidos e um processo de silenciamento das contradições. “Percebe-se na construção de velhice no século 20 o sentido negativo; no século 21. Quando convém, no sentido de ser necessária à lógica do capital, a velhice é encarada de modo positivo, daí as denominações terceira idade, melhor idade, velhice ativa, idoso jovem, tanto no que se refere ao lazer, turismo, vida social e, sobretudo, ao trabalho”, ressaltou.
De acordo com os pesquisadores, há também olhares diferenciados sobre a velhice e, quando não convém tê-la como algo positivo, a contradição é evidenciada, reforçando os sentidos pejorativos, como incapacitados, inativos, improdutivos, doentes, à espera da morte.
Superação das contradições
O estudo aponta que nos trajetos sociais de sentidos existem discursos contraditórios sobre a velhice e o envelhecimento e que têm implicações sérias nas relações sociais porque reproduzem a opressão sobre o idoso. Helson destaca que é preciso criticar as evidências de sentidos. “Essa crítica aos efeitos ideológicos de evidências que atuam na construção e significação da velhice para nossa sociedade não é o bastante. A crítica tem raízes históricas”.
Para a superação das contradições da vivência da velhice e dos sentidos que causam incômodos, Hélson Flávio e Simone Valéria defendem: “Há a exigência de uma luta pela superação das relações de exploração do trabalho e, por fim, da sociedade capitalista que visa ao lucro e à produtividade e torna tudo mercadoria, pois a lógica do capital é ainda o fundamento último que tem sustentado e determinado a repetição dos gestos de interpretação sobre os sujeitos tidos, paradoxalmente, como produtivos e improdutivos, úteis e inúteis, nesta passagem do século 20 para o 21".