Ufal ajuda a recuperar acervo documental da Arquidiocese de Maceió

História e Computação unem-se para contribuir com a pesquisa histórica no Estado de Alagoas


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Bolsistas do projeto
Bolsistas do projeto

Pedro Barros - estudante de jornalismo 

O moderno e o antigo se juntaram para desvendar a História de Alagoas. A partir de 2013, o projeto Alagoas Histórica Digital passou a unir a tecnologia do Instituto de Computação aos conhecimentos do curso de História, ambos da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), para recuperar e disponibilizar documentos antigos na internet. 

Antes de ser incorporado ao Programa de Ações Interdisciplinares (Painter), para o financiamento de bolsas estudantis, a iniciativa deu seus primeiros passos em 2011, com a disciplina Estágio Supervisionado em Arquivos, do curso de História. No ano seguinte, a universidade assinou um convênio com várias instituições alagoanas de guarda documental, com o objetivo de oferecer estágio para os estudantes de História, fomentar a pesquisa na área e promover a conservação e difusão dos acervos. 

Entre essas parcerias, podemos também dizer que a fé uniu-se à ciência em benefício do interesse público. Uma das instituições conveniadas é o Arquivo da Cúria Metropolitana de Maceió, que reúne parte do acervo documental da Igreja Católica em 38 municípios ao nordeste de Alagoas - área que corresponde à Arquidiocese Metropolitana de Maceió - e se tornou uma fonte de pesquisa para genealogistas e historiadores. 

O Arquivo 

A coleção eclesiástica reúne itens que vão de fins do período colonial à República. São livros de batismo, casamento e óbito (o que representa o maior número de itens do acervo); grande parte das edições publicadas pelo jornal centenário "O Semeador"; processos de ordenação de padres, desde o período colonial; livros de tombo das paróquias; relatórios de atividades pastorais; correspondências dos bispos; atas de reuniões dos movimentos católicos; e até bulas papais dirigidas às dioceses de todo o mundo ou mesmo diretamente aos bispos de Alagoas. Fazem parte dele raridades como um exemplar original da primeira edição de "O Semeador", publicada em março de 1913, e um testamento feito em 1794, o documento mais antigo do Arquivo. O período mais farto de material vai de cerca de 1800 a 1990. 

"Através desse material temos a possibilidade de estudar a formação social, cultural e política de Alagoas; as relações de poder na organização do espaço e das instituições; a religiosidade popular; a história da Igreja Católica como instituição no mundo e no Brasil e sua influência na formação cultural alagoana, as lutas dos movimentos sociais vinculados ou não à ela e os conflitos sociais e de classe", explicou a professora Irinéia Franco, coordenadora do projeto na área de História. Segundo ela, documentos e edições de "O Semeador" das décadas de 1960 a 1980 auxiliam bastante o estudo da Ditadura Civil Militar (1964-1985) no estado. "A perseguição política no período atingiu também padres, religiosos, leigos militantes e outros trabalhadores", explicou. "Também ajuda a pensar os problemas enfrentados pelos trabalhadores rurais por conta do latifúndio. Isso só para ficarmos com exemplos para a área de pesquisa da História Política. A variação de temas para pesquisa é muito grande", salienta. 

Surgimento

Segundo a pesquisadora, o acervo passou a ser formado nos anos 1940, durante o bispado de dom Ranulpho Farias. "À época, ele havia percebido que a documentação da secretaria era pouca e estava dispersa, principalmente aquela que contava a história da fundação do Bispado de Alagoas (1900) e outras de interesse histórico para a presença da Igreja Católica no estado", contou Irinéia. 

Nas décadas de 1970 e 1980, a organização das pastas foi organizada conforme critérios arquivísticos. Depois, conta a professora, o acervo permaneceu mais ou menos o mesmo. "O acervo foi aumentando aos poucos, sem um acompanhamento rigoroso para sua organização, mas conservado com carinho pelo trabalho voluntário do Sr. Genivaldo, leigo militante do Movimento Missionário Católico, e do padre Delfino Barbosa", contou Irinéia. 

A professora conta que a Arquidiocese foi bem receptiva aos estudiosos. "Quando procurei a Cúria para ter acesso ao Arquivo e ver a possibilidade de atuação dos estudantes de História, fomos recebidos com muita abertura pelo Sr. Genivaldo e por dom Antônio Muniz. O acervo, de uma instituição privada (Igreja), possui documentos de interesse público para a história e outros temas. Nem todas as instituições que guardam documentação histórica têm a percepção da importância de se abrir para os pesquisadores", contou. 

Revitalização

O projeto Alagoas Histórica Digital conta com cinco bolsistas de História, que ajudam na limpeza, acondicionamento e catalogação do acervo, além de duas estudantes do Instituto de Computação, que desenvolveram um sistema para o registro das informações. "O trabalho serviu de base para construir a plataforma que disponibilizará futuramente a documentação digitalizada na rede mundial de computadores", explicou Irinéia. "É um trabalho demorado que precisa de muito cuidado e atenção. Porém, enquanto ele prossegue, o acervo está aberto à consulta - menos aqueles documentos que estão muito deteriorados e que não podem ser manuseados em excesso", informou. 

Acesso

Hoje, o recepcionista do Arquivo é um estudante da Ufal. Gustavo Alfredo, do curso de História Bacharelado, conheceu o Arquivo na disciplina de estágio e acabou ficando por lá, como bolsista da Arquidiocese. "Minha responsabilidade é manter o Arquivo aberto ao público", explicou. 

O espaço, que funciona no bairro do Farol, em frente ao colégio Marista, fica aberto de segunda a quinta, das 8h às 13h. "Quem mais procura o arquivo são estudantes de graduação e pós-graduação, pessoas que desejam requerer cidadania no exterior (através da confirmação de antepassados estrangeiros) e um pequeno grupo de interessados em genealogia", explicou ele. 

Alguns livros de batismo do século XIX até a década de 1960 já estão digitalizados e podem ser consultados no arquivo; outros, mais recentes, ainda não. "Nesse caso, as pessoas interessadas têm de procurar a própria paróquia onde o batismo foi realizado", explicou Gustavo. Segundo a professora Irinéia, uma circular foi encaminhada no início deste ano, pedindo às igrejas da capital e do interior (veja os municípios que fazem parte da Arquidiocese http://www.arquidiocesedemaceio.org.br/arquidiocese/mapa) que enviassem documentos antigos que porventura ainda possuíssem. "Já temos a previsão da chegada de livros das paróquias de Atalaia e de Santa Luzia do Norte", relatou Gustavo. 

Genealogia 

Segundo o estagiário, o material é fonte de curiosidade para aqueles que desejem reconstruir sua história familiar, pois durante muito tempo os registros da Igreja Católica foram os únicos documentos oficiais de nascimento no Brasil. "Há um pequeno grupo, umas quatro ou cinco pessoas, que sempre vêm pesquisar por genealogia", disse. Ele explica que algumas informações básicas facilitam a pesquisa. "Saber o nome (mesmo que não seja completo), a data de nascimento, o lugar e o nome dos pais (pelo menos da mãe) já ajuda bastante", declarou.