Pesquisador debate no Chile sobre seca e desertificação
O professor Humberto Barbosa é o representante acadêmico do Projeto Euroclima, que promove o simpósio internacional
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Diana Monteiro – jornalista
De 19 a 21 deste mês pesquisadores da América Latina e da América Central reúnem-se em Santiago do Chile para debater sobre secas e desertificação, fenômenos naturais que têm causado preocupação em todo o mundo. O evento, denominado de Simpósio Internacional de Especialistas de Manejo da Seca é promovido pelo Projeto Euroclima, uma rede financiada pela União Europeia e coordenada pelo Centro Comum de Pesquisa JRC, na Itália.
A Rede Euroclima aglutina 33 países representados por universidades e agências que desenvolvem ações nas citadas áreas e foi criada para chamar a atenção da problemática situação. O primeiro encontro da rede foi em setembro deste ano no México para definição de enfrentamento de secas e de processos de desertificação na América Latina e contou com a participação de 400 pesquisadores que discutiram formas inovadoras de adaptar a agricultura na América Latina e América Central (Caribe) às mudanças climáticas anunciadas para as próximas décadas.
O simpósio deste mês objetiva fazer um relatório destacando ações para o enfrentamento de secas e desertificação e também constará de informações sobre a situação dos países envolvidos. Cada país tem seu ponto focal que é ligado ao seu respectivo Ministério de Governo. A agência brasileira que integra a rede é o Instituto Nacional do Semiárido (INSA) e caberá ao citado instituto a geração dos índices socioeconômicos brasileiros.
No que se refere ao Brasil, o relatório será enviado ao Itamaraty e constará de informações sobre vulnerabilidade das áreas semiáridas na América Latina aos processos de desertificação e de secas e também de sistemas de captação de água de chuva, temáticas onde o país tem experiência.
O pesquisador Humberto Barbosa, do Instituto de Ciências Atmosféricas (Icat), é o representante acadêmico da Rede Euroclima e no encontro do México integrou o Grupo de Trabalho sobre Seca e Desertificação. Humberto coordena, na Universidade Federal de Alagoas, o Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis), que entre as atividades científicas desenvolvidas gera informações para mapeamento e monitoramento de secas e desertificação em todo o território brasileiro.
A desertificação tem aumentado em consequência da degradação ambiental e do acometimento de secas. “De 2010 a 2013 o regime de chuva ficou abaixo da média, e para 2014 está em curso um El Niño com efeitos na próxima estação chuvosa que vai de fevereiro a maio de 2015”, enfatizou.
Segundo o professor, o El Niño aquece mais do que a média as águas do Oceano Pacifico Central provocando uma alteração da circulação atmosférica levando a Região Nordeste a ser acometida de uma massa de ar que impede a formação de chuvas com mais frequência.
Humberto Barbosa destaca que o semiárido nordestino abrange 67% da Região e faz cinco anos que chove abaixo da média e com distribuição irregular de chuvas. “Na estação chuvosa, de fevereiro a maio, tem chovido no Nordeste de 300 a 800 mililitros ao ano, enquanto a evaporação é de três mil mililitros. Quanto mais seca a atmosfera maior é a capacidade evaporatória da atmosfera”, reforçou.
Além das secas o processo de desertificação vem sendo acelerado também pela degradação do solo. Na Região Nordeste, conforme imagens de satélites, existem cinco núcleos de desertificação em áreas dos Estados do Ceará, Piauí, Paraíba, Rio Grande do Norte e Pernambuco. Em Alagoas, na parte central, nos últimos seis anos tem aumentado a degradação ambiental e em processos de desertificação. “A Região Sudeste já enfrenta situação semelhante e é fundamental um trabalho governamental em parceria com a academia para gestão e manejo de seca”, disse Humberto.
Quanto à situação na América Latina e América Central ele informou que os relatórios apontam um aumento dos processos de desertificação em países com a Argentina, que é referência no enfrentamento da problemática situação, Equador e Paraguai. "Devido ao processo de mudanças climáticas trazendo a escassez hídrica teme-se que se instale uma nova realidade socioeconômica no semiárido dessas regiões, pois já se constata uma migração da classe média para os grandes centros urbanos", afirmou.
Desastres naturais
O professor Humberto Barbosa informou que recentemente a Capes aprovou o Projeto Pró-Alertas em convênio com Cemaden para a formação nas universidades brasileiras de recursos humanos na área de desastres naturais. O Lapis e o Radar Meteorológico da Ufal desenvolverão o projeto em parceria com a Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) e Universidade Federal da Paraíba (UFPB). O projeto com duração de quatro anos terá início em 2015 e destinará bolsas de mestrado e doutorado. As ações terão como foco a Costa Leste do Nordeste Brasileiro.