Cientistas buscam novas fontes para produzir etanol de segunda geração
Laboratório da Ufal promove este mês primeiro workshop voltado para o assunto
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Pedro Barros – estudante de Jornalismo
Transformar problemas em solução, limões em limonada, bagaço em energia. Seguindo essa lógica, um grupo de pesquisa da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) procura novas formas de produzir etanol. Há três anos, o Laboratório de Tecnologia de Bebidas e Alimentos (LTBA) do Centro de Tecnologia (Ctec) faz de restos de diversos alimentos o combustível alcoólico.
O álcool derivado de resíduos da cana-de-açúcar é chamado de etanol segunda geração (etanol 2G ou E2G). Enquanto o original é derivado do caldo, esta nova versão é retirada do bagaço e da palha desse vegetal. Como uma das especialidades do LTBA é diversificar os produtos derivados de alimentos – como vinhos de cajá, maracujá, acerola e até mel –, eles não se contentaram em fazer etanol somente de cana – muito menos só de caldo. “Estudamos a fabricação de etanol a partir do sabugo e da palha de milho e de cascas de coco, arroz e soja”, explicou a professora Renata Rosas, coordenadora do projeto.
Essas matérias-primas são compostas por três tipos de moléculas complexas que os químicos conseguiram quebrar para produzir o combustível: a lignina, a hemicelulose e a celulose – por isso, ele também pode ser chamado etanol celulósico. O avanço foi uma grande oportunidade para o reaproveitamento dos recursos naturais. "Quando não utilizado como ração de animais ou para produção de adubo, a agroindústria buscava se livrar desse material. O bagaço então torna a usina autossustentável em termos de energia: ela consome a energia que produz e ainda pode vendê-la", explicou a professora.
A equipe é formada por cerca de dez pessoas, entre professores e estudantes de graduação e pós-graduação, do curso de Engenharia Química da Ufal e trabalha em parceria com a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Além da professora Renata Rosas, colaboram com o projeto de pesquisa os professores Fred Carvalho e Wagner Pimentel, na parte computacional.
Movimentando a economia
Para Renata, no entanto, diante das demandas comerciais, o E2G deve ser compreendido apenas como um complemento. "Eu não considero que ele vá substituir o etanol original, o Brasil não está suprindo nem o mercado interno. Mas é um complemento importante, sim, visto as crises de energia que a gente vive", opinou.
O novo método de produção permite que se poupe a produção direcionada para a indústria alimentícia. "Não podemos acabar com todas as plantações de alimentos para produzir etanol. Usar o que resta delas, porém, é uma opção excelente", destacou a professora, acrescentado que o etanol de segunda geração é também uma alternativa à escassez de recursos naturais.
"A gente descobre o pré-sal e temos petróleo a vontade; depois, o preço do petróleo sobe e voltamos para o álcool. Vivemos um ciclo, mas sempre pensando que as reservas de petróleo não vão durar para sempre; enquanto isso, a cana pode ser plantada e replantada indefinidamente", enfatizou.
Profissionais especializados
Conforme a pesquisadora, os profissionais do etanol 2G podem atuar basicamente em duas áreas. “Pode ser na área do campo, da agricultura – há muitos engenheiros agrícolas pesquisando tipagem genética, melhoramento genético da cana-de-açúcar etc.; ou pode ser na parte da engenharia, mexer com os processos dentro da indústria”, explicou. Segundo ela, o curso de Engenharia Química da Ufal dedica-se bastante à indústria canavieira, tanto com disciplinas obrigatórias quanto eletivas. “O curso leva em consideração a vocação histórica do Estado de Alagoas para essa indústria”, explicou.
1º Workshop em Etanol 2G
Para capacitar novos profissionais a atuar na área e mostrar os resultados de suas pesquisas, o grupo está promovendo até esta sexta-feira, 27, o 1º Workshop em Etanol 2G. Foram convidados, como palestrantes, pesquisadores, da Ufal e de outras instituições, especialistas no assunto, entre eles a professora Vera Dubeux Torres, recentemente nomeada membro da Academia de Agricultura da França.
Segundo a professora Renata, é uma oportunidade de compartilhar conhecimento entre universidades, estudantes, pesquisadores, os setores da indústria e da agricultura. “Aproveitamos para discutir também sobre a realidade, porque uma coisa é fazer tudo aqui dentro do laboratório e outra é ir para a indústria, onde há uma série de macro-problemas”, observou.
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