Pesquisas sobre asfalto nos Estados Unidos resultam em excelência acadêmica
Tássio Magassy recebeu título de excelência acadêmica por universidade do Arizona e participou de dois trabalhos premiados
- Atualizado em
Pedro Barros - estudante de Jornalismo
Das coisas que marcaram a vida do estudante maceioense Tássio Magassy, uma delas, com certeza, são as estradas do Estado. Estudando Engenharia Civil no Campus do Sertão da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), em Delmiro Gouveia, Tássio viaja sempre à capital para visitar a família - sem deixar de reparar a péssima qualidade das rodovias brasileiras num percurso de mais de 250 km.
Em 2013, o aluno foi selecionado, pelo programa Ciência sem Fronteiras, para um intercâmbio na Northern Arizona University (NAU), nos Estados Unidos. A cidade onde ficou é Flagstaff, cruzada pela histórica Rota 66, citada inclusive na canção homônima de Bobby Troup.
Ao contrário daqui, onde o principal problema é a falta de infraestrutura, o que detona as estradas de lá é o frio. Não é à toa que vários cientistas locais se dedicam ao assunto. Tássio Magassy, por exemplo, foi premiado, junto a dois estudantes brasileiros e um professor taiwanês, Juno Ho, em dois eventos norte-americanos, graças à pesquisa em que participou sobre a influência da temperatura sobre o asfalto.
Na entrevista a seguir, o estudante conta um pouco de sua história:
Ascom - Como foi sua seleção para o intercâmbio no Arizona?
Tássio - Eu sempre sonhei em ter uma oportunidade como essa, e o CsF foi uma chance muito boa. Eu me inscrevi em 2013 e escolhi os Estados Unidos porque acho que, para o meu curso, eles são bem desenvolvidos e eu teria muito o que aprender e, aqui, compartilhar experiências.
Ascom - Teve apoio de algum professor?
Tássio - Tive apoio dos professores das engenharias do meu Campus, especialmente da minha orientadora, Viviane Regina Costa, que me deu o suporte necessário para que eu pudesse ir para Flagstaff, EUA. Ela me ajudou com a parte da documentação necessária, a escolha das matérias, quando eu tinha algumas dúvidas. Mesmo com a distância, creio que foi muito importante manter o contato com minha orientadora no Brasil. Até mesmo quando fui entrar na pesquisa, ela me deu coragem, falou bem da área, etc.
Ascom - Você recebeu uma carta de reconhecimento da NAU por ter chegado a um "GPA" de 3,5. O que isso significa?
Tássio - GPA é tipo o nosso Coeficiente de Rendimento Acadêmico, uma média das notas do semestre. Na Ufal, somos avaliados de 0 a 10; Lá, a nota vai de 0 a 4. Isso é muito importante para colocar no curriculum e os alunos que têm um GPA maior que 3,5 são reconhecidos pela universidade pelo excelente desempenho acadêmico.
Ascom - Sua pesquisa na área de controle de qualidade de asfaltos começou no intercâmbio ou você já tinha feito algo sobre isso antes?
Tássio - Não. Comecei a trabalhar com isso aqui, depois do convite do professor Jun Ho, que me apresentou o seu trabalho e me interessei. Enquanto eu estava na Ufal, fui bolsista do programa Ações (Aperfeiçoando Cursos e Originando Elos Socioambientais) e também do PET [Programa de Educação Tutorial] Engenharias, onde eu trabalhava numa pesquisa sobre a utilização de materiais recicláveis como elementos de construção. Foi uma mudança considerável na área de atuação.
Ascom - Sobre o que os trabalhos premiados falam e a que resultados vocês chegaram?
Tássio - Na verdade, os dois trabalhos são bem similares, publicados em eventos diferentes. O primeiro, apresentado em setembro, num evento da Sociedade Americana de Engenheiros Civis (ASCE), 2014 Annual State Conference, ficou em terceiro lugar; outro, publicado em novembro, numa conferência sobre pavimentação e materiais (2014 Arizona Pavement/Materials Conference), na cidade de Tempe, ficou em segundo. Ambos falam de controle de qualidade em asfaltos. Eles mostram, basicamente, o uso de uma máquina chamada BBR (Bending Beam Rheometer; em português: Reômetro de Fluência em Viga) como uma alternativa mais rápida e eficiente para controle de qualidade em misturas asfálticas, independentemente do tamanho do agregado usado.
Ascom - Como é feita essa avaliação?
Tássio - A gente coleta amostras do asfalto de onde ele está sendo construído e, no laboratório, trabalha com uma máquina de compactação, onde são feitas amostras cilíndricas. Depois disso, nós cortamos esse cilindro em várias partes até chegar em pequenas vigas. Então, aplicamos uma carga sobre elas por cerca de cinco minutos, em diferentes temperaturas (-6°C, -12°C e -18°C), para simular o comportamento na região. Após os dados coletados, com a análise da rigidez e do coeficiente de variância dos dados, é possível fazer previsões sobre aquele asfalto.
Ascom - Quais foram os outros estudantes que participaram desses trabalhos?
Tássio - São outros dois brasileiros: João Lima, da Universidade Federal do Piauí (UFPI), e Tamyres da Silva, da Universidade Federal de Viçosa (UFV), ambos da Engenharia Civil. Nesse grupo de pesquisa, tinha outros intercambistas (da China, Arábia Saudita e Kuwait) e eles também foram premiados. Achei bem legal o envolvimento com pessoas de outros continentes.
Ascom - Em Alagoas e em todas as partes do Brasil, as estradas são cheias de problemas. A pesquisa de vocês pode trazer benefícios para as rodovias brasileiras?
Tássio - Sinceramente, eu não sei, porque lá a gente analisa a problemática local. Há muito gasto com reparo e reconstrução de asfaltos por conta dos ciclos de congelamento-descongelamento nas regiões frias, onde as temperaturas são normalmente negativas. Lá nos Estados Unidos o problema é o frio. Mas eu acho uma área interessante e não descarto trabalhar com isso na Ufal.
Ascom - Qual a diferença das estradas brasileiras para as dos Estados Unidos?
Tássio - Não atuei exatamente na área de construção, o que eu aprendi foi mais a parte laboratorial. Lá, eu não via muitos buracos nem acidentes. Vejo muitos buracos em Alagoas, até porque, sempre que vou para casa, tenho que cruzar todo o Estado até Maceió e percebo como o asfalto é irregular. Comparado ao Brasil e a Alagoas, consideraria a situação dos EUA melhor, porém, há muita rachadura no inverno e tem que haver manutenção numa frequência maior do que eles gostariam, e isso é gasto.
Ascom - O Arizona é bem conhecido pelas suas áreas desérticas e quentes, mas as paisagens de Flagstaff mostram que esse Estado tem uma geografia bem variada. Como é o clima de lá?
Tássio - Pois é, eu também pensava que seria assim, mas a cidade que eu fiquei é localizada numa altitude de mais de 2.100 metros. Então venta muito e faz muito frio. Eu sofri muito no começo com o clima seco (nunca tinha conhecido clima assim), mas foi só nos primeiros meses: com cerca de dois meses eu já estava adaptado. No fim de 2013 nevou, cheguei a pegar -20° C. Daquela neve que o pé afunda, sabe? Mas bem agasalhado dá para ir à aula. [risos]
Ascom - Como é a cidade de Flagstaff e a rotina na NAU?
Tássio - A cidade é relativamente pequena, as pessoas são extremamente simpáticas, educadas e super atenciosas, achei isso uma coisa marcante de lá. A NAU é muito moderna: tem um campus muito bem distribuído, há ônibus rodando toda hora, as questões de locomoção, moradia e alimentação são muito boas e as aulas e professores são de qualidade, tudo muito bem organizado.
Ascom - O que esse intercâmbio lhe proporcionou como pessoa e como profissional?
Tássio - Eu creio que foi muito proveitoso. Além do crescimento pessoal, o crescimento acadêmico foi imensurável, pois pude conhecer e atuar em novas áreas relacionadas à engenharia, conhecer um pouco das novidades e tecnologias que são utilizadas por aqui, e fazer contatos profissionais com pessoas de várias partes do mundo. Fiquei muito feliz em participar desses eventos e ter a recompensa e o reconhecimento das premiações. Tudo isso foi gratificante. Por fim, acho que a principal experiência do intercâmbio foi compartilhar o conhecimento que tive na Ufal com o adquirido na NAU.
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