Entenda o processo de empalhamento dos animais do Museu de História Natural
Biólogo Bruno Collaço explica como foram feitas as peças que estão na exposição dos 25 anos do Museu
- Atualizado em
Pedro Barros - estudante de Jornalismo
Desde a semana passada, a Biblioteca Central da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) exibe a Exposição Itinerante em comemoração aos 25 anos do Museu de História Natural (MHN). Um dos principais atrativos do acervo são os animais expostos: jacarés, serpentes, aves típicas das matas alagoanas…
Continuando nossa série de reportagens sobre o Laboratório de Taxidermia do MHN, você vai conferir como esses animais foram preparados para se transformar em peças de museu. Na reportagem anterior você soube um pouco sobre a produção, os serviços e o histórico desse laboratório. Nesta segunda parte, você vai conferir como é o processo de empalhamento, que materiais são utilizados e as particularidades dessa profissão.
Etapas
O biólogo responsável pelo setor, Bruno Collaço, resumiu seu trabalho em algumas etapas. Primeiro, o animal chega ao MHN, sendo direcionado para os setores específicos (de mamíferos, aves, répteis etc.). Pode ser por doação - quando entidades como o Ibama doam animais encontrados mortos - ou por coleta científica, quando os pesquisadores do Museu vão à campo fazer pesquisas. “Aí é feita uma análise primária, uma triagem e é decidido se ele será taxidermizado ou não. Depois, o animal vem para meu laboratório e fazemos sua biometria: medidas, pesagem, análise da estrutura externa, se há algum parasita, etc.”, explicou Bruno.
O tratamento também depende do tipo do bicho. “Os grupos de animais têm protocolos de taxidermia bem diferenciados, por causa do tipo de pele, a quantidade de gordura e outros fatores”, explicou. Na técnica mais comum, de conservar a pele do animal torneada por um molde, o processo inicia-se com a retirada de todo esse tecido, que depois é limpo o máximo possível e tratado com produtos químicos. É preparado um esqueleto interno para essa peça, geralmente feito de arame galvanizado, e ela é preenchida, para ficar mais sólida.
No MHN, o material mais utilizado para esse preenchimento é um algodão repelente à água. O animal é fechado, por costura ou colagem, e levado para a secagem. A pele precisa perder toda a umidade, ficar completamente seca. Nesse estágio, ela fica dura e deixa de ser modelável.
Diferentes representações
As coleções científicas visam facilitar os estudos e o armazenamento. As peças com essa finalidade vão para os laboratórios, mas as que vão para exposição têm um tratamento diferenciado: na taxidermia educativa, o animal é colocado numa posição que normalmente se encontraria num ambiente natural. “A gente faz uma ‘maquiagem’ nesse animal para que no final de tudo ele pareça estar vivo”, explicou.
Para apresentar os espécimes de forma realista, os museus utilizam o conceito de diorama: um esquema que envolve o próprio animal num cenário parecido com o que ele vive. Segundo o biólogo, não se deve apenas representar bem o animal em si, mas a ambientação dele permite levar mais conhecimento para o público.
A peça favorita de Bruno é um exemplo: uma preguiça carregando um filhote nas costas e subindo num tronco. “Até agora, acho que é a melhor peça que produzimos neste laboratório e já esteve presente em todas as exposições itinerantes do Museu”, observou.
Muito mais que “empalhar”
Há vários produtos que podem ser utilizados para empalhar bichos - e palha é apenas um deles. Bruno explica que o termo empalhamento se popularizou devido ao material que era muito utilizado por taxidermistas dos Estados Unidos e Europa no passado. “Eles já têm a cultura de secar gramíneas para fazer feno para o consumo dos animais durante o inverno. Muitos caçadores eram quem faziam taxidermia, então eles utilizavam o que tinham em mãos. A palha era uma das principais coisas, porque deixava leve, mantinha seco e perdurava durante muito tempo”, explicou.
A taxidermia, no entanto, é algo bem mais complexo que encher peles de animais com palha, ainda mais nos tempos de hoje. “Com os anos de experiência, cada um vai criando suas próprias técnicas para determinada espécie ou grupo. No meio desse caminho, a gente desenvolve umas manias que acabam se tornando específicas nossas, algo como uma ‘assinatura do artista’”, explicou Bruno.
No MHN, Bruno busca dar o melhor acabamento à sutura do animal. “Em alguns casos, tentamos fazê-la sem costura, com um adesivo específico para colagem de pele, para não aparecer a linha. Sempre são feitos pontos internos, você nunca vai ver um ponto numa taxidermia bem feita, mas procuramos também outras alternativas”, explicou.
A técnica de preparação de pele é apenas uma. “Também existem a preparação de ossos, órgãos e do animal inteiro, como a técnica chamada diafanização: é tornar o esqueleto do animal ou outras partes internas visíveis enquanto o animal fica todo translúcido. É uma técnica de estudo muito interessante”, explicou Bruno.