Evento debate dinâmicas da população negra no Brasil

Encontro África-Brasil convidou pesquisadores externos para relatar suas investigações na área


- Atualizado em
Wellington Gomes, Gian Carlo e Roberto Guedes em segunda mesa Sociedade e Cotidiano no Brasil Colonial e Imperial
Wellington Gomes, Gian Carlo e Roberto Guedes em segunda mesa Sociedade e Cotidiano no Brasil Colonial e Imperial

Jhonathan Pino – jornalista

A definição hierárquica da sociedade de acordo com as cores das peles foi uma das perspectivas apontadas pelos debates do Encontro África-Brasil: conexões entre ontem e hoje. Em três mesas-redondas, professores da graduação e pós em História, alunos e convidados externos foram reunidos pelo Núcleo de Estudos Sociedade, Escravidão e Mestiçagens – Século 16-19, para discutir as relações sociais e repercussões da segregação racial no Brasil.

De acordo com Gian Carlo de Melo, um dos organizadores do evento, a intenção era reunir um pesquisador externo, um professor do curso e um estudante da pós-graduação em cada mesa. “Queremos fomentar o debate sobre a África-Brasil, desde o processo de embarque, de captura de escravos na África, cultura e sociedades africanas, o processo do comércio e como o ser negro estava inserido aqui na sociedade, no passado, e como ele está inserido hoje”, disse.

Marcus Carvalho, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e Roberto Guedes Ferreira, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) foram alguns dos professores convidados. “Esses pesquisadores são referências na área de escravidão. Um trabalha com o século 19 e o outro com Colônia e Império. Ambos têm muitas publicações na área, livros de referência e artigos científicos. O Marcus Carvalho é pesquisador do CNPq”, disse Gian.

Todos eles fazem parte da Rede de Grupos de Pesquisa Escravidão e Mestiçagem, que reúne colaboradores da América Latina e Europa em investigações e na realização de eventos com temáticas em comum. No próximo ano, a Universidade Federal de Alagoas (Ufal) será sede do evento internacional da rede.

Atividades do segundo dia

O docente do curso de História, Gian Carlo participou da mesa Sociedade e Cotidiano Escravista no Brasil Colonial e Imperial, formada ainda por Roberto Guedes e Wellington José Gomes, aluno de pós-graduação de História. Enquanto os professores abordaram como o processo de batismo e o registro eclesiástico foram responsáveis pela formação de uma escala social, a partir das cores das peles, o último buscou desenhar os perfis e estratégias de escravos em fuga no estado alagoano.

Wellington recorreu ao Arquivo Público para fazer pesquisas sobre a escravidão em Alagoas, no século 19. “Essas dinâmicas da escravidão, a gente conhece muito bem em locais maiores como Bahia, Pernambuco, Rio de Janeiro mas, para Alagoas, isso é que está um pouco escondido”, relatou o pós-graduando, que para elaborar sua monografia, teve que se resumir as poucas informações disponíveis em jornais da época.

Para o seu mestrado, Wellington continua pesquisando a relação das fugas dos negros no Estado. “Existe uma riqueza muito grande. São fugas, variadas, coletivas e individuais. Então a gente tem uma gama muito grande desses escravos participando de movimentos políticos, agindo com a divergência entre os senhores. Isso dá margem para a gente conhecer um pouco dessa dinâmica, do escravo agindo conforme a situação lhe permitia”, detalha o discente.

O professor Guedes demonstrou que mesmo que já tenham recebido suas alforrias, os negros continuavam sendo tratados de forma diferenciada pela sociedade, como era o caso da Igreja Católica que, no ato do batismo, classificava os envolvidos pelas nomenclaturas de forro africano, negra da Guiné, mameluca, mulata, forro liberto, preto forro, cabra forro e crioulo, por exemplo, enquanto os livres quase não tinham a sua cor registrada. “Prestar honra a Deus é coisa dos libertos”, reproduziu uma frase da época, o pesquisador.

As atividades do núcleo podem ser acompanhadas na sua página eletrônica.