Laboratório de Taxidermia empalha animais para exposições e pesquisas científicas
Diversas espécies são retratadas pela coleção do Museu de História Natural
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Pedro Barros - estudante de Jornalismo
Se você já visitou alguma exposição do Museu de História Natural (MHN), deve ter visto preguiças, serpentes, saguis, aves de várias cores. Alguns ficam se perguntando se são reais. As crianças se arriscam a tocar só para tirar a dúvida, mesmo com medo de serem mordidas... Uma coisa é certa: eles impressionam. E parece que, ao apagar das luzes, vão sair de seus lugares e se aventurar secretamente por aí, como no filme Uma Noite no Museu.
Sim, esses animais já foram reais e estiveram vivos. Eles foram taxidermizados, ou “empalhados”, como se diz popularmente. É uma técnica que permite conservar pele, ossos, órgãos ou outras partes de animais e é utilizada para fins científicos, educativos e artísticos.
Uma série de reportagens vai mostrar o trabalho do Setor de Taxidermia do MHN, fundamental para o funcionamento desse tipo de instituição, tanto interna, para as pesquisas científicas, quanto externamente, para apresentar ao público.
Nesta reportagem, você vai conhecer um pouco desse laboratório e as peças que vem sendo criadas por ele – inclusive para a exposição que começa nesta quinta-feira (7). Sobre o profissional que faz esse trabalho de taxidermia, você vai conhecer no Portal do Servidor: a incrível história do biólogo Bruno Collaço, que veio ao Brasil fugido da Guerra Civil da Angola e tornou-se o primeiro taxidermista da Universidade Federal de Alagoas (Ufal).
Laboratório
As atividades de taxidermia no MHN tiveram início pouco depois de sua criação, em 1991, ainda de modo não-oficial, com o técnico de laboratório Maurício Ramon Dacal. A Ufal, à qual o Museu de História Natural alagoano pertence, é a única instituição do Estado a designar um cargo para essa função, que foi efetivado em 2012, com a posse do biólogo Bruno Collaço.
A partir desse ano, foi constituído um laboratório específico para a atividade, que, desde então, já empalhou cerca de 90 animais, entre mamíferos, répteis e aves, tanto para coleções científicas quanto para as exposições ao público. Apesar de procurar focar na fauna natural de Alagoas, as coleções do Museu também incluem animais que vem de outras regiões – como pinguins encontrados no litoral do Estado. Um termo de cooperação firmado em 2013 entre o MHN da Ufal e o Museu Darwin de Moscou inclui a possibilidade de troca de material entre as duas instituições.
Bruno conta que, desde sua chegada, o ano em que o setor mais produziu foi 2013, quando foram realizadas três exposições itinerantes (no Shopping Pátio Maceió, no Museu Palácio Floriano Peixoto e na Biblioteca Central da Ufal).
Processo colaborativo
As peças são produzidas de acordo com a demanda dos setores específicos do Museu, que se dividem conforme os grupos de animais – como Mastozoologia (mamíferos), Herpetologia (répteis e anfíbios) e Ornitologia (aves). Geralmente, antes de preparar o bicho – principalmente para o acervo científico, que prioriza a sistematização acadêmica –, Bruno é orientado pelos pesquisadores do Museu. “Eu pergunto como ele quer a peça, se há algo que deveria ser ressaltado no animal, se algum detalhe precisa de um acabamento melhor e se existe alguma posição específica em que se queira deixá-lo”, explicou.
Como é o único servidor designado para essa função, a parte manual é feita em maior parte por ele. Bolsistas dos outros setores acabam ajudando. “Eles vêm acompanhar a taxidermia das peças de seus setores de origem e adquirem esse conhecimento complementar”, explicou.
Função educativa
Segundo Bruno, a finalidade de seu trabalho é servir à sociedade. “De acordo com o tipo de animal, eu vejo qual seria a melhor forma de representá-lo ou como ele chamaria mais atenção no sentido bom, da educação, porque o Museu de História Natural tem um fim básico perante a sociedade: além das pesquisas e da deposição de material científico, ele também tem a função social, a função de educação, principalmente a educação ambiental”, explicou.
Para ele, é função do Museu quebrar visões equivocadas sobre determinados grupos de animais. “Muitas vezes, um animal não é muito bem-visto socialmente pelos seres humanos. Uma serpente, por exemplo. Dependendo da forma como a apresentamos, podemos causar mais impacto negativo. Escolhemos uma forma de apresentar o animal que leve as pessoas a buscar o porquê daquela representação. E estamos lá presentes para explicar. As pessoas terminam até mudando um pouco sua concepção”, explicou.
Empréstimo
Além de servir para as exposições, as peças podem ser emprestadas para exposições temporárias, como feiras de ciência. Segundo o diretor-técnico do MHN, professor Jorge Luiz Lopes, o serviço está provisoriamente suspenso devido às mudanças da sede do Farol para o Prado, mas os interessados podem entrar em contato pelo telefone 3214-1629 ou pelo e-mail mhnufal@gmail.com e deixar seus nomes na lista de espera.
Exposição dos 25 anos
Em 2015, quando o MHN completa 25 anos, o biólogo promete trazer novas peças para a mostra. “Já temos três peças selecionadas, são animais bastante interessantes”, anunciou. Quer ver o que a equipe do Museu tem preparado para sua exposição comemorativa? A partir da quinta-feira (7), visite o hall da Biblioteca Central da Ufal, no Campus A.C. Simões, em Maceió. Além da exposição, serão realizadas sete palestras sobre as pesquisas realizadas naquele equipamento cultural. Saiba mais.
Continua...
Na próxima semana, você confere mais detalhes sobre como é feito o preparo dos animais para as exposições e as curiosidades da profissão de taxidermista.