Família homenageia ente querido no Bosque em Defesa da Vida

Local instalado na Ufal representa lembrança deixada pelas vítimas da violência


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Ruth Vasconcelos e Daniela plantam mais uma árvore no bosque
Ruth Vasconcelos e Daniela plantam mais uma árvore no bosque

David Cardoso - estudante de Jornalismo

Mais uma família alagoana planta uma árvore no Bosque em Defesa da Vida, em homenagem a um ente querido que se foi, vítima da violência do Estado. A estudante de Serviço Social, Daniela Alcântara, acompanhada de seu marido Roberto Teixeira, procurou o projeto para que seu irmão, Valdemir Alcântara, assassinado no dia 28 de dezembro de 2013, também tivesse uma árvore plantada no bosque, instalado no Campus A.C. Simões, em Maceió.

A partir de agora, Valdemir será representado naquele espaço por meio de um pé de cajá, árvore escolhida pela família por sua característica de atrair pássaros. "Ele gostava muito de pássaros, e hoje [quinta, 28] é o aniversário de morte do meu irmão, faz exatamente um ano e seis meses que ele faleceu... Não se trata de coincidência, é Deus", disse Daniela, emocionada.

O Bosque em Defesa da Vida foi criado pela Universidade Federal de Alagoas em 2012 e ocupa uma área localizada no Campus A.C. Simões, próximo ao Núcleo de Desenvolvimento Estudantil (NDI) e ao Laboratório de Computação Científica e Visualização (LCCV). A ideia do Bosque é deixar algo dentro da Universidade para que as pessoas assassinadas em Alagoas sejam sempre lembradas de maneira positiva. “A simbologia da árvore é exatamente a vida, cada árvore plantada representa uma pessoa que teve sua vida interrompida brutalmente”, disse Ruth Vasconcelos, coordenadora do Programa Ufal em Defesa da Vida, responsável pelo projeto. 

Para a professora, em uma sociedade que, estatisticamente, produz tanta violência, o foco principal parece sempre estar voltado para a prevenção e a proteção contra tudo aquilo que atente contra a vida, que é o bem mais valioso que cada um possui. A missão da Ufal, por meio desse programa, é atuar no campo educacional na construção de uma nova cultura que esteja pautada no respeito, na responsabilidade, na solidariedade e na compaixão. "A prevenção é exatamente um processo educativo, um processo reflexivo porque para cada árvore que temos aqui, representa uma pessoa que foi professor ou médico, taxista, estudante, pedreiro. O bosque expressa que a violência está espalhada na sociedade e atinge a todos", comentou a Ruth Vasconcelos.

Ruth aproveitou também para falar sobre a urbanização do bosque, que em parceria com os estudantes de arquitetura, da disciplina de Planejamento e Urbanismo, planeja executar o projeto o mais breve possível. "Estamos providenciando um projeto arquitetônico, planejamos colocar banquinhos e passagens. Os estudantes de arquitetura estão construindo essa proposta e pretendemos executar ainda esse ano para que esse lugar se torne um espaço de encontros, de reflexão e harmonia. Estamos associando ciência com afeto, porque para que todas essas árvores estejam aqui, estudantes e professores também estão cuidando delas", enfatizou. 

Segundo a coordenadora, o Bosque tem uma missão educacional e afetiva. “São gestos assim que demonstram a sensibilidade de uma academia que não faz ciência por fazer, mas faz pensando nos seres humanos que vão se beneficiar com suas ações”, reforçou.

Alguns familiares visitam frenquentemente o bosque, como é o caso de seu Sebastião Pereira, que não teve a oportunidade de enterrar seu filho, Carlos Roberto, mas faz questão de visitar e cuidar do espaço rotineiramente. "A árvore plantada por seu Sebastião em homenagem ao filho Carlos é uma das maiores, porque é a mais cuidada porque ele está sempre por aqui. É cuidada pelo pai que não encontrou o corpo do filho, mesmo após anos do assassinato", revelou Ruth Vasconcelos.