Políticas de Ações Afirmativas na Ufal em discussão no Caiite
Atividade faz parte das comemorações do aniversário de 33 anos do Neab
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Natália Oliveira – estudante de Jornalismo
O terceiro dia de atividades do Congresso Acadêmico Integrado de Inovação e Tecnologia (Caiite 2015) foi marcado pelo evento sobre as Políticas de Ações Afirmativas dentro da Universidade Federal de Alagoas, entre 2003 e 2014. O encontro, promovido pelo Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros (Neab) da Ufal, que, neste ano, comemora 33 anos de criação, contou com a participação da coordenadora do Neab, Clara Suassuna; a vice-reitora da Universidade, Rachel Rocha; o pró-reitor de Extensão, Eduardo Lyra, além de alunos, membros e ex-integrantes do órgão.
Durante o evento, a vice-reitora Rachel Rocha parabenizou o empenho e as conquistas do Núcleo ao longo de sua história. Ela afirmou ter estado envolvida desde o início com o programa de Política de Ações Afirmativas e, desde então, trabalha com estudantes cotistas e com temáticas relacionadas ao afro-brasileiro, como religião, patrimônio e cultura alagoana e negra.
“Antes das cotas, a Ufal não refletia internamente o que é o espelho da população alagoana dentro do ponto de vista sócio-econômico e étnico-racial. Ninguém desconstrói quatro séculos de preconceito, discriminação e racismo em dez anos. É preciso continuar. Demos um salto muito grande. Hoje, somos uma universidade mais plural e inclusiva”, destacou.
De acordo com a coordenadora do Neab, Clara Suassuna, o aumento do número de cotistas no corpo discente da Ufal é motivo de comemoração. “É bom ver mais alunos matriculados em cursos da área de saúde e de exatas, consideradas de elite pela sociedade em geral. Hoje, nós vemos as estatísticas e constatamos que houve um aumento de estudantes matriculados em Medicina, nos cursos de Engenharia, em Arquitetura, entre tantos outros”, avaliou.
Ações na Ufal
O Programa de Políticas para Afro-descendentes no Ensino Superior da Ufal foi avaliado em seus dez anos de implantação. A aprovação do programa, dada pelo Conselho Universitário da Ufal em 2003, foi uma conquista do trabalho desenvolvido pelo Neab com a parceria da Secretaria Estadual de Defesa e Proteção das Minorias.
Naquela década, o Neab acompanhou as conquistas na inclusão social não somente na Ufal, como nas demais instituições federais brasileiras. Em 2004, o Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão da Ufal estabeleceu uma cota de 20% das vagas dos cursos de graduação para a população negra oriunda exclusiva e integralmente de escolas públicas do ensino médio. A Ufal foi a terceira universidade brasileira a implantar o sistema de cotas.
Oito anos depois, em 2012, foi sancionada a Lei nº12.711, que garante 50% das matrículas por curso e turno a alunos oriundos integralmente do ensino médio público, em cursos regulares ou da educação de jovens e adultos (EJA). A lei será aplicada gradativamente em 59 universidades e 38 institutos federais de educação, ciência e tecnologia.
Ao longo dos dez anos de sistema de cotas na Ufal, que foi a terceira universidade brasileira a implantá-lo, houve diversas conquistas e avanços, como o aumento do acervo bibliográfico e do número de publicações sobre questões afro-brasileiras. Gradativamente, os cursos de graduação têm mais cotistas matriculados. Hoje, dentro do universo de cerca de 30 mil estudantes, cinco mil ingressaram pelo sistema de cotas.
Neab contribui com o conhecimento da história e cultura afro
O Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros desenvolve trabalhos como pesquisas, políticas públicas e ações afirmativas, capacitação para formação de professores, além de trabalhos com comunidades quilombolas. A aluna de Direito e cotista, Camylla Angelino, foi uma das muitas que conheceu o Neab. Para ela, a dificuldade para ingressar na Ufal é realidade dos estudantes de escolas públicas. “A carência de um bom ensino básico faz parte da vida dos alunos da rede pública. No colégio onde estudei, entrar na Ufal é um sonho dos alunos”, revelou.
De acordo com outra estudante de Direito, Fabiana Santos, o Neab proporcionou conhecer melhor a base da história do negro no Brasil. “A população carcerária é em sua maioria negra e pobre. Há uma história por trás dessa realidade”, disse.
Camylla e Fabiana fazem parte do grupo de 30 alunos bolsistas do programa Odé Ayé, coordenado pela Pró-reitoria de Extensão (Proex) e pelo Neab. O programa tem o objetivo de inserir o estudante cotista no âmbito acadêmico, por meio de ações de pesquisa e extensão, assim como desenvolver estudos relativos às relações étnico-raciais, além de contribuir para a formação profissional e cidadã dos alunos participantes.