Secretaria de Ressocialização promove mesa-redonda na Ufal

Professora Elaine Pimentel expôs hábitos do sistema prisional que interferem na saúde dos servidores


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Maria do Socorro Alécio, Elaine Pimentel e Ronei Prebistec fizeram parte mesa-redonda
Maria do Socorro Alécio, Elaine Pimentel e Ronei Prebistec fizeram parte mesa-redonda

Jhonathan Pino – jornalista

O auditório do Centro Integrado de Convivência (CIC) da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) estava lotado nesta sexta-feira (14). Mas o público não era aquele tradicionalmente formado pelos acadêmicos da instituição. Lá estavam agentes penitenciários do Estado de Alagoas para participarem da mesa-redonda Saúde, Segurança no Trabalho e Qualidade de Vida dos Agentes Penitenciários, promovido pela Diretoria da Escola Penitenciária (DEN).

Entre os debatedores estavam as professoras Elaine Pimentel, da Faculdade de Direito da Ufal, e Maria do Socorro Alécio, enfermeira do Tribunal Regional do Trabalho de Alagoas (TRT-AL). Juntas, elas haviam realizado pesquisas na área de segurança pública e aproveitavam a oportunidade para levar a experiência para a categoria dos agentes penitenciários.

“Quando a Amanda [Calheiros] me procurou para pensar num evento dessa maneira, fiquei muito feliz e satisfeita em perceber o despertar da necessidade de atenção à saúde com os trabalhadores do sistema prisional e isto coincidiu com uma experiência recente e profunda de uma pesquisa que participamos sobre a saúde para a garantia de segurança do trabalho de operadores de segurança pública, financiada pela Senasp [Secretaria Nacional de Segurança Pública] e destinada às polícias Militar, Civil, ao Corpo de Bombeiros Militar e peritos oficias. Os agentes penitenciários não entraram nessa pesquisa, para a nossa decepção”, lembrou Elaine.

Amanda Calheiros, diretora do DEN, ressalta que existe uma parceria com a Ufal devido a essa atuação da Elaine no sistema prisional. A docente vem realizando estudos na área há 18 anos e por meio do Núcleo de Estudos e Políticas Penitenciárias (Nepp) vem pesquisando os ambientes e as relações existentes dentro das penitenciárias pelo país.

Em 2012, Elaine realizou uma série de entrevistas para analisar a qualidade de vida do trabalhador nos presídios, como parte de um projeto do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic). Parte dos resultados foram expostos durante mesa-redonda, onde foram apontados a arquitetura prisional e o ambiente de hostilidade natural da prisão.

A docente ressaltou que todo o contexto das relações sociais na comunidade carcerária, da qual fazem parte os agentes e os próprios presos, gera insatisfações na vida profissional e o adoecimento dos servidores. “Quisemos investigar que impactos tem essa condição de ser vigilante, embora a ação e a atividade do agente penitenciário não sejam somente a vigilância, mas, de alguma maneira, o ambiente é naturalmente de vigilância. Mesmo que você não trabalhe especificamente na unidade prisional, e sim na unidade de gestão, você está no ambiente carcerário, com todas as suas implicações”, instigou a Elaine Pimentel.

Em suas análises, ficou evidenciado que a mecanização e robotização das tarefas, a pressão e imposições da organização, a desestabilização da identidade, com o desenvolvimento de uma subcultura carcerária, e a modificação de um comportamento, próprio dos ambientes de carceragem levavam a um processo acentuado de sofrimento psíquico dos envolvidos. Isso ocasionou problemas diversos, como a compulsão alimentar e as dificuldades de relacionamento interpessoal.

As doenças ocasionadas pelas tensões naquele ambiente de trabalho foram foco das discussões da enfermeira do TRT. Maria do Socorro apontou que diante do estresse, muitos dos agentes acabam adquirindo hábitos que os levam à obesidade, à vida sedentária, ao uso progressivo do álcool, à diabetes e à má saúde mental. “É preciso saber que a doença mental não vem só, mas está atrelada aos problemas físicos”, frisou.

A palestrante ainda sugeriu a realização de atividades que podem ocasionar uma mudança dessa perspectiva e na melhoria da qualidade de vida dos servidores. “Algumas delas são utilizadas no TRT, como a ginástica laboral, o clube da corrida, as campanhas educacionais na área de nutrição, torneios esportivos e o suporte psicossocial do servidor”, detalhou.

Depois das exposições dos palestrantes, os agentes puderam se posicionar quanto ao debate, que também contou com a mediação de Ronei Prebistec, chefe de gabinete da Secretaria de Ressocialização. Serão realizadas outras atividades, conforme as intervenções e demandas dos servidores.