Ufal cria sistema de irrigação com energia renovável para Canal do Sertão
Nesse projeto, também estão envolvidos o Ifal e a Uneal para promover uso racional do solo e da água na agricultura familiar
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Jhonathan Pino - jornalista
O Polo Agroalimentar de Arapiraca já começou a receber as primeiras instalações para a implantação do protótipo do Sistema de Irrigação Automática e Autossustentável, desenvolvido pelo Instituto de Computação (IC), da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Os experimentos vão contribuir para a posterior aplicação da tecnologia em locais de solo árido, existentes no Estado. Professores da Ufal, da Universidade Estadual de Alagoas (Uneal) e do Instituto Federal de Alagoas (Ifal) atuam em conjunto e desenvolveram um projeto que visa a utilização da água de forma eficiente, a geração de energia renovável e a consultoria dos agricultores familiares, que vivem no entorno do Canal do Sertão.
À frente do grupo do IC, Davi Bibiano relata que apesar de o Canal do Sertão está em processo de finalização, ainda não há uso racional da água. “Hoje, quase não existe um sistema de irrigação. Há 80 pontos de captação, mas nem todos são para a irrigação. Alguns são para carros-pipa, por exemplo. O que eles fazem hoje é uma irrigação totalmente sem controle, na grande maioria das vezes usando bombas a diesel, que tem um custo alto de combustível, além de poluir o ambiente. A irrigação é por microaspiração e normalmente não é feita a drenagem, o que termina acontecendo é que você não tem o rendimento esperado, gasta um recurso muito escasso, que é a água, e acaba degradando o solo”, explicou o professor da Ufal.
Estimulados pela chamada de Edital da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (Fapeal), em 2013, os pesquisadores das três instituições submeteram um projeto para tentar solucionar problemas vivenciados pelos agricultores que dependem do Canal do Sertão. “Foi uma demanda estimulada pelo Estado. O governo criou o Canal, que já tem 104 km prontos, de um total de 250 km. Tem-se uma preocupação de dar uso adequado a ele, pois existem apenas duas adutoras, a do Sertão e a que vai ficar em Arapiraca. Mas, fora isso, o Canal não tem uso”, detalhou Bibiano.
Enquanto a Ufal elaborou uma solução para a irrigação da área, o Ifal fez um projeto para análise de solos e a Embrapa propôs um consórcio de plantas nativas com os espécimes adaptados à região. Dentro da própria Ufal, o projeto de irrigação foi um trabalho conjunto desenvolvido entre o IC e o Centro de Ciências Agrárias (Ceca), além do Campus Santana de Ipanema da Uneal.
“Existe um grupo bem grande de professores e alunos de várias áreas envolvidos no projeto. A ideia é, a princípio, para agricultura familiar, áreas de até, no máximo, quatro hectares, onde você tem todo um conjunto de análise do solo e o projeto de irrigação. Desenvolvemos uma pequena estação meteorológica de baixo custo, que pega os dados ambientais de chuva para fazer o controle mais preciso da irrigação. Nós desenvolvemos alguns sensores que são enterrados no solo para determinar a quantidade de umidade e fazer o controle da água”, detalhou Bibiano.
De acordo com o docente, o uso inadequado da água do Canal foi um dos principais fatores de preocupação dos pesquisadores. “No sertão, há uma característica do solo, muito pobre em nutrientes, e há uma camada rasa de sal. Você tem mais ou menos meio metro de solo e depois uma camada salina, que é bastante dura. Se você encharcar o solo, a água não infiltra, ela vai ficar empoçada e o sal sobe, o que termina salinizando a terra e continua com o processo de degradação”, destacou.
Geração de energia renovável reduzirá gastos a médio prazo
Outro problema a ser solucionado com esse sistema elaborado pelo IC é a falta de distribuição de energia elétrica em grande parte das propriedades rurais. Para isso, o projeto prevê o uso da energia eólica e solar para acionar um conjunto de bombas e fazer a irrigação de precisão.
O sistema será disponibilizado por meio de pequenos kits, com painéis solares e aerogeradores, que serão capazes de captar a luz solar e o vento para a produção de eletricidade. Inicialmente, esses kits deverão ser disponibilizados onde já existe a água do Canal do Sertão, como os municípios de Delmiro Gouveia e Água Branca.
Cada família deverá receber um kit do sistema, que poderá ser financiado de duas formas. Uma delas é por meio de recursos não reembolsáveis do Fundo de Combate e Erradicação da Pobreza, em que as famílias com baixa renda receberiam gratuitamente os kits. A outra é por meio de empréstimos do Banco do Nordeste. “Nesse caso, eles têm uma linha de crédito para agricultura familiar, na qual você pode financiar o kit para o agricultor e aí, então, nós prestaríamos uma assistência técnica. O kit é adaptado para o que você vai plantar: nós fazemos a coleta e a análise do solo, o projeto de irrigação e o serviço de consultoria”, afirmou o professor.
A meta é que no início, ao menos 50 famílias sejam atendidas com os kits, que deverão custar por volta de R$ 150 mil cada um. A previsão é que num prazo de sete anos a economia com a energia e a produção dos agricultores possam pagar os custos de instalação do sistema. No entanto, os benefícios não ficariam restritos às famílias. A energia de sobra poderia ser vendida para as distribuidoras e os custos da energia subsidiada pelo governo também poderão ser reduzidos.