Campus do Sertão traz reflexão sobre a estética negra para a Bienal do Livro de Alagoas
Tema foi proposto pelo professor Gustavo Gomes e alunos do curso de História
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Lenilda Luna - jornalista
Jaraguá - Entre as várias oficinas realizadas durante a 7ª Bienal Internacional do Livro de Alagoas, a de Estética Negra atraiu pessoas interessadas em compreender toda a simbologia da cultura afro-brasileira, presente no cotidiano às vezes sem serem percebidas. O tema foi proposto pelo professor Gustavo Gomes, do curso de História do Campus do Sertão e dois dos seus alunos de graduação que fazem parte do grupo de pesquisa: Jefferson Lima e Ellen Cirilo.
Gustavo pesquisa a Cultura Negra ao longo dos oito anos de vida acadêmica. Ele é também candomblecista, ou seja, faz parte dos cultos das religiões de matriz africana, e militante do movimento negro. "Nosso objetivo durante a Bienal é refletir sobre os sentidos políticos mais profundos que estão em cada marca, cada elemento, que vem caracterizando uma identidade etnicamente assumida como negra", explica o professor.
O historiador destaca a importância de aprofundar essa temática numa sociedade racista, que há mais de 500 anos nega essa identidade africana. "Estamos trabalhando essa proposta de, a partir da estética, afirmar politicamente essa identidade. Estamos discutindo na perspectiva de combater a folclorização dessa estética, propondo que esses elementos sejam compreendidos de forma política. Em que momento essa prática cultural de elaborar essa estética constrói sentidos, de estar no mundo, de saber quem sou eu negro, a partir dos meus referenciais étnicos e ancestrais", ressalta Gustavo Gomes.
Combater a folclorização, de acordo com Gustavo, é não se limitar a usar determinados símbolos em datas comemorativas ou festas, sem se dar conta da profundidade histórica das roupas, músicas, etc. Um exemplo disso pode ser a Ala das baianas no carnaval carioca. "Esse termo foi cunhado por Nina Rodrigues, no seculo 19, mas na verdade é uma roupa de todas as mães de santo e mulheres do Candomblé usam, não só na Bahia. O Povo de Santo em Alagoas sofreu muito para afirmar a sua identidade e hoje está construindo uma nova história", defende o professor.
Gustavo Gomes diz ainda que, como em todas as religiões, os símbolos não devem ser usados com desrespeito ou profanados. "Na cultura negra tudo significa: a cor, o movimento, a textura, o aroma, o sabor. Tudo tem um sentido ancestral, político e religioso. Então, nosso objetivo nessa oficina é tentar entender como essa negritude se constrói através desses conceitos e que são experiências estéticas muito profundas", destaca ele.
Abi Axé Egbé
O grupo Abí Axé Egbé, que divulga a cultura negra no sertão alagoano, nasceu de um projeto de Extensão que apresenta para a comunidade a estética, as músicas e as danças afro-brasileiras. O aluno Jefferson Lima, do 5º periodo de História do Campus do Sertão, faz parte do grupo. "No Sertão esse trabalho faz a diferença, porque mesmo os negros se sentem intimidados de assumir a própria identidade. Eles preferiam se colocar como morenos escuros ao invés de se afirmarem como negros. Quando começam a compreender a riqueza dessa identidade cultural, o comportamento muda", garante o aluno.
Ellen Cirilo, também integrante do grupo, sabe que essas questões estão presentes de forma sutil e muito arraigada na sociedade. Por isso a necessidade de reafirmar a luta contra a intolerância religiosa e o racismo. "Essa oficina é fruto de muita dedicação a esse trabalho de pesquisa e extensão no sertão alagoano. Estamos mostrando que essa estética está no conceito de cabelo ruim ou bom, está nos turbantes que tem significado e não são apenas modismo, e nas estampas africanas. Queremos aguçar o olhar para essa experiências estéticas que estão presentes no nosso cotidiano", conclui a estudante.