Ufal premia alunos do Matexpo e Olimpíada Alagoana de Matemática
Solenidade lotou auditório da Reitoria na última quinta-feira com alegria, emoção e muitos aplausos
- Atualizado em
Deriky Pereira – estudante de Jornalismo
“Matemática não é um empecilho. O empecilho é a falta de atenção!” A frase é do estudante Lucas Marques, de apenas 13 anos, que veio da Escola Santa Clara de Assis, localizada no Município de Arapiraca, para ser premiado pela Universidade Federal de Alagoas. Lucas recebeu medalha de bronze por sua participação na Olimpíada Alagoana de Matemática (OAM) e foi um dos cerca de 80 estudantes premiados pela Ufal em solenidade realizada na noite da última quinta-feira (26).
A premiação foi comandada pelo professor Isnaldo Isaac, coordenador do Matfest, que premiou 30 alunos do Matexpo [Exposição de Matemática] e outros pelo desempenho na OAM. “Nossa ideia é fazer com que eles desejem, a cada ano, participar e interagir”, disse. E foi o que aconteceu. Com um auditório na Reitoria lotado, o Campus A.C. Simões, em Maceió, teve uma noite de alegria, emoção, vibração e muitos aplausos a cada aluno que subia ao palco para receber sua medalha.
“Tivemos alunos de Arapiraca, Maceió, São Miguel dos Campos e premiamos, aqui, as escolas que se destacaram com número de alunos premiados, bem como os docentes que também se destacaram. O Matfest é um evento essencial pra divulgação da matemática em Alagoas. A gente tem matemáticos de renome, mas temos um Estado com um dos piores índices no ensino dessa área. O IM [Instituto de Matemática], preocupado com isso, tenta se aproximar mais da sociedade alagoana com a realização de um evento como esse”, disse Isnaldo.
Foi o que o professor Arthur Isidoro, da Escola Estadual Floriano Peixoto, de Atalaia, reafirmou ao dizer que o Matfest desperta, nos alunos, a questão da pesquisa, conhecimento, divulgação dos trabalhos, além de mostrar que o trabalho feito em sala de aula dá resultado. “E quando ele é exposto ao nível de um evento como esse dentro de uma Universidade Federal isso incentiva os alunos a buscar conhecimento ainda mais e provar que são capazes de estarem participando de evento assim. Muitos pensam que por estarmos em escola estadual é aquela coisa que não dá certo, mas quando o trabalho é bem-feito colhemos bons frutos”, disse.
Arthur e suas alunas, Elaine da Silva Nascimento, Eduarda da Silva Barbosa e Sâmia Albuquerque de Oliveira, todas de 17 anos e no 3º ano do ensino médio, conquistaram o 3º lugar na Matexpo com o tema As Curiosidades da Matemática. Perguntadas sobre o que acharam da vitória, elas foram diretas: emocionante, gratificante e surpreendente. Sim, surpreendente. Acredita que uma delas não se achava capaz de vencer? Mas venceu! E comemorou.
“Nós não estávamos com muita vontade de vir porque não achamos que íamos ganhar, mas essa vitória foi uma coisa muito boa”, disse uma tímida Elaine, seguida da amiga Eduarda: “Como muitos pensam, que alunos do Estado não conseguem, mas nós vencemos!” tendo a fala complementada por Sâmia: “A disciplina é capaz de conquistar a gente e é possível que todos conseguem. Só é ter um pouco de esforço e estudar”, disse. Todas, porém, destacaram o incentivo recebido pelo professor Arthur. “Acho que difere muito do ensinamento e o jeito de ensinar nos incentivou muito”, concluíram.
Primeiro ouro, grandes expectativas
Leonardo da Silva Marinho tem apenas 15 anos de idade, mas já decidiu o que “vai ser quando crescer”: matemático! Aluno do Instituto Federal de Alagoas (Ifal) em Maceió, ele veio pela primeira vez ao Matfest da Ufal e já deseja vir nos anos seguintes. “A programação foi bastante variada e atrativa, com certeza quero vir nos próximos”, disse ele, minutos antes de receber a sua primeira medalha de ouro por sua participação na Olimpíada Alagoana de Matemática.
“Já tenho outros prêmios, mas levar essa medalha é gratificante e também é uma jornada de lutas, estudos e dedicação aos livros… A verdade é que eu me divirto estudando matemática”, complementou, ao falar de sua paixão pela disciplina. “Acho que já nasci com ela e esse ano foi o êxtase. Eu decidi seguir com ela. Quero me formar nessa área”, disse, com um largo sorriso no rosto.
“A matemática não é um bicho de sete cabeças”
Essa afirmação foi dita pela Kristhyellen Oliveira, de 13 anos, estudante do 8º ano do Colégio Nunila Machado, que fica em São Miguel dos Campos e veio ao auditório da Reitoria para receber sua medalha de participação na OAM neste que foi o primeiro ano. A pequena demonstrou bastante felicidade com a solenidade, disse que não esperava receber esse prêmio e aconselhou aos que consideram a matemática como uma vilã.
“A Matemática não é um bicho de sete cabeças. O que eu sugiro é não começar do elevado, do mais difícil e sim, do básico e você vai ver que uma coisa puxa a outra. Ganhar o prêmio é muito importante porque eu não esperava. Foi uma prova que fiz, foi boa, mas não esperava vencer. Eu comecei a me aprofundar, gostar da disciplina e vi que era interessante. Assim, você vai subindo uma escada e, ao olhar para trás, vê que tudo vale a pena”, disse, sorridente.
A mãe, orgulhosa da conquista da filha, apenas agradeceu por todo incentivo. “Foi uma emoção a premiação dela. Agradeço a dedicação da professora, da escola, foi tudo muito importante. O mérito ao esforço todo da minha filha”, disse Silvana do Nascimento Oliveira.
Conquista dupla: orgulho incalculável
Alunos que foram premiados pelo desempenho na OAM e 3º lugar na Matexpo, com o projeto Geometria: Um plano, um espaço e uma forma lúdica de se trabalhar. O desempenho da Escola Santa Clara de Assis, de Arapiraca e citada no primeiro parágrafo desta matéria, foi considerado espetacular. Pela conquista dupla, um orgulho incalculável.
“Para mim é uma satisfação de vê-los premiados porque é a realização de um trabalho diário da gente como professor. Eu incentivo sempre os meus alunos a gostar de matemática cada vez mais, desmistificar esse bicho de sete cabeças. O pessoal quando chega na aula, no começo, fica meio desconfiado. Mas depois eles vão.. Alguns, ainda resistem, mas outros passam a gostar”, explicou o professor José de Arimateia.
Quem também conversou com a reportagem foi o estudante Gabriel Fernando Santos de Oliveira, de 14 anos. Bem articulado, ele mostrou que além da habilidade com números, também sabe argumentar de forma precisa. “A Matemática não é assustadora. Basta estar disposto a tentar pensar. E isso serve para qualquer coisa: se você pensar que é difícil, vai ser difícil. Mas, for com intenção de tentar aprender de verdade, vai ver que não é tão ruim. Teve uma fase da minha vida em que eu não gostava dela. Mas, do 5º ano em diante passei a gostar muito. E a partir desse instante, sempre sonhei em passar na OAM. Só este ano que consegui. É uma emoção assim… Imensurável. E estar aqui na Ufal é de uma alegria, assim, incalculável, disse, bastante feliz.
A Matemática e seu valor artístico: O ciclo não se desfaz
O ex-aluno do Instituto de Matemática da Ufal, Alan Anderson, de 23 anos, foi convidado pelo professor Isnaldo Isaac para participar da Matfest na seção olímpica, dando palestras e conversando com os cerca de 170 estudantes das escolas do ensino fundamental e médio durante a semana. Para ele, ver toda essa juventude se engajando na área é relevante e um motivo de bastante orgulho, pois assim, o ciclo não se desfaz.
“Sempre há alguém vendo a importância e seu valor artístico da Matemática. Valor esse que faz com que a gente se emocione por causa dela. As vezes a pessoa acha que a disciplina é puramente aplicada, sendo que na verdade tem um lado de poesia e de tentar fazer as coisas de modo elegante. Acredito que as pessoas que se tornam matemáticos vão por admirar a elegância, como quem gosta de pintura e escultura e a técnica você aprende durante a jornada”, disse.
Alan ainda falou sobre a premiação realizada pelo Matfest. Como ex-aluno da Ufal e hoje doutorando no Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa), ele vê a solenidade como motivadora. “Considero dessa forma para os estudantes, pois é um modo de ver que aquilo que eles estudam está dando resultado. As vezes a pessoa estuda, está indo longe no conhecimento, mas não consegue ter a escala de onde está. Com a realização da OAM e dessa premiação aqui na Ufal, eles passam a ter a noção de tudo isso”, concluiu.