Água e educação fazem revolução na vida do sertanejo alagoano

Hidráulica do Canal do Sertão e prevenção de seca despertam interesse de alunos de Engenharia


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Professor Thiago Pereira em aula prática do curso de Engenharia Civil no Laboratório de Hidráulica do Campus do Sertão
Professor Thiago Pereira em aula prática do curso de Engenharia Civil no Laboratório de Hidráulica do Campus do Sertão

Myllena Diniz – estudante de Jornalismo

Nos últimos anos, o semiárido alagoano acompanha uma de suas maiores transformações. O Canal do Sertão e a Universidade Federal de Alagoas no Município de Delmiro Gouveia trouxeram novas perspectivas para a vida do sertanejo, que, agora, tem acesso à água e ao ensino superior. Para alunos de Engenharia Civil do Campus do Sertão, essa realidade parece ainda mais marcante e é acompanhada de perto, na sala de aula.

A maior infraestrutura hídrica do Estado de Alagoas é um dos destaques da disciplina de Hidráulica, ministrada pelo professor Thiago Pereira, para alunos do 6º período do Engenharia Civil. No laboratório, o sistema que liga todo o Canal do Sertão torna-se compreensível para os alunos e um conhecimento para toda a vida.

"Alguns estudantes querem colocar em prática o que aprendem em sala, ver como utilizar o conhecimento e levar a água do canal para casa. Todo semestre a gente leva a turma para o canal, para que eles entendam esse sistema hidráulico. A gente realiza todos os cálculos e os alunos fazem o papel de projetistas, como se fossem projetá-lo", detalhou o docente.

Para muitos alunos que vivem às margens da infraestrutura que promete beneficiar mais de um milhão de pessoas, compreender o seu funcionamento também é um exercício de superação. Esses jovens são preparados para desenvolvimento de instalações hidráulicas, captação de água, construção de canais e instalação de bombas.

"Há alunos que vivem muito próximos ao canal, que acompanharam a obra de perto e que imaginavam ser muito difícil construir algo daquele porte. Hoje, eles sabem como construí-lo, já têm conhecimento para isso", ressaltou Thiago Pereira.

Pesquisa no Canal do Sertão

Em parceria com a professora Cleuda Custódio, Thiago Pereira desenvolve projeto referente à gestão do Canal do Sertão. De acordo com o docente, o intuito é mensurar qual volume de água um usuário pode retirar daquele local, quanto tempo por dia é necessário e quantas pessoas podem ter acesso.

Os pesquisadores fizeram visita de campo a famílias beneficiadas pelo empreendimento e entrevistaram mais de 60 usuários, para saber as suas necessidades e traçar o perfil deles – o que plantam, qual é o destino da água e diversas informações. Segundo o professor Thiago, o cenário atual é favorável, mas é preciso ter cautela para o futuro.

"Verificamos que 80% dos usuários estão satisfeitos com o canal e todos afirmam que nunca faltou água. Mas a nossa preocupação é a gestão dessa água. É importante que haja controle, fiscalização e gerenciamento desses recursos, para que o agricultor de subsistência não fique sem acesso à água", especificou o docente.

O pesquisador aponta que, nos próximos anos, a falta de gestão pode acarretar riscos para os pequenos agricultores. "No momento, a situação não é um grande problema, mas o canal vai aumentar, cada vez mais, a extensão e o número de usuários. Já existem projetos de ramificação do empreendimento para pontos mais distantes e isso vai consumindo a água. Então, é interessante analisar, prever e pensar como será essa gestão", destacou.

De acordo com a análise de Thiago Pereira, a ausência de um gerenciamento ou a sua ineficiência pode aumentar, ainda mais, as desigualdades socioeconômicas da região. Quem tem acesso à água primeiro pode extrair uma quantidade acima do ideal e dificultar o acesso de outros indivíduos aos recursos hídricos.

A nova realidade do sertanejo

Para o professor Thiago Pereira, os impactos da presença da água e da Universidade já são visíveis. "É impressionante chegar a uma cidade de 50 mil habitantes, com poucas opções, e ensinar um curso que muitas cidades grandes não têm. Tudo que a gente estuda é para aumentar o bem-estar da população, para melhorar a qualidade de vida", enfatizou.

Localizado a 304 km de Maceió, o Canal do Sertão possui 65 km construídos e disponibiliza água para o consumo humano e animal, assim como para as atividades agrícolas, nos municípios alagoanos Delmiro Gouveia, Pariconha e Água Branca. Ao término da obra, serão 42 cidades beneficiadas, do Sertão a Arapiraca, no Agreste.