Doutorandos pesquisam efeitos de peçonhas sobre pescadores locais
Investigações são parte de Pós-graduação em Bioquímica e Biologia Molecular
- Atualizado em
Jhonathan Pino - jornalista
Como forma de compreender melhor como funcionam os efeitos das toxinas de dois peixes locais, o escorpião e o sapo é que pesquisadores do Instituto de Química e Biotecnologia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) estão trabalhando em colaboração no Programa Multicêntrico de Pós-graduação em Bioquímica e Biologia Molecular (PMBQBM). As espécies vitimam principalmente os pescadores da Lagoa Mundaú e do Pontal Coruripe.
É na Lagoa Mundaú onde ocorre a maior parte dos acidentes de humanos com os peixes-uniquim, ou como são mais conhecidos peixes-sapos. Eles são o objeto de estudo de Maria Elizabeth da Costa, que tenta isolar as proteínas do veneno desses animais. De acordo com a doutoranda, suas peçonhas são capazes de provocar dores intensas e a perda de algumas funções dos membros do corpo.
Elizabeth lembra que não existe tratamento adequado para essas peçonhas e que por isso as pessoas atingidas pelos peixes acabam muitas vezes se tratando com compressas de água quente, o que faz diminuir a dor, mas não é capaz de sarar os membros afetados. “Como não há tratamento, os pescadores acidentados acabam passando por necrose e degeneração dos tecidos afetados”, explicou.
Parte das pesquisas já haviam sendo feitas por Humberto de Araújo, em quatro anos de investigações com o professor Hugo Juarez, em projetos de iniciação científica e no mestrado. Agora, no doutorado, ele utiliza essa experiência para estudar as toxinas do peixe-escorpião, que são responsáveis pelas inflamações e a ocorrência de problemas cardiovasculares nas vítimas. “São coletados peixes no Pontal do Coruripe para que possamos fazer os testes. Dependendo da situação de pesquisa, nós colhemos um número grande de peixes para extrair suas peçonhas. Os pescadores acabam nos auxiliando nessa tarefa”, relatou Humberto.
De acordo com Hugo, orientador dos dois projetos, a Ufal acaba exercendo um papel primordial no estudo dessas peçonhas, já que o Instituto Butantã, principal instituição de pesquisa na área, não consegue levar os peixes frescos para a análise em São Paulo, onde fica sua sede. “Parte dessas análises só podem ser feitas aqui, porque o Lamp [Laboratório de Metabolismo e Proteoma] possui um equipamento para a separação e purificação das proteínas, o Akta Pure, onde mostras diversas são colocadas ali para que haja a separação de seus elementos”, frisou o professor.
Programa multicêntrico
Na Ufal, além do professor Hugo, Ana Catarina Rezende, Francis Soares, Hugo Juarez e Luciano Grillo fazem parte do PMBQBM, que ainda conta com outras 15 instituições associadas. No Campus A.C. Simões, em Maceió, as investigações são realizadas na área de bioquímica de insetos, controle do metabolismo mitocondrial, lectinas bioativas e com proteases, para o processamento de alimentos, estudo de seu papel no sistema nervoso central, na hipertensão e nas peçonhas.
No momento, apenas três estudantes fazem parte do programa na Ufal, são eles: Humberto, Elizabeth e Camila Camerino. Esta última desenvolve estudos em coleópteros, ou popularmente conhecido como besouros, com a pretensão de compreender a digestão e o transporte de ácidos graxos no metabolismo de lipídeos desses insetos. Isso tornará possível à Camila identificar alvos biológicos potenciais para o desenvolvimento de novos bioinseticidas, já que parte dessas espécies atuam como pragas em diversas culturas.
Para mais informações do programa, acesse a página do PMBqBM.