Estudo sobre doença em caprinos é desenvolvido em parceria entre Ufal e UFPE

Há comprovação de que a toxoplasmose pode ser transmitida também pelo sêmen de caprinos


- Atualizado em
Professor Wagner Porto (de preto) com a equipe de pesquisadores que está envolvida no estudo sobre toxoplasmose
Professor Wagner Porto (de preto) com a equipe de pesquisadores que está envolvida no estudo sobre toxoplasmose

Diana Monteiro – jornalista

A realização de estudos científicos voltados ao desenvolvimento econômico local tem sido a rotina das ações acadêmicas na Unidade de Ensino de Viçosa, ligada ao Campus Arapiraca, onde funciona o curso de Medicina Veterinária. Uma delas trata sobre o acometimento da doença toxoplasmose em caprinos e, pela relevância dos resultados, a equipe envolvida apresentou o estudo no Veterinary Summit 2015, que aconteceu na Flórida, Estados Unidos.

Resultado da tese de doutorado da alagoana Flaviana Santos Wanderley, realizado no Programa Biociência Animal da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), o estudo teve a orientação do professor Rinaldo Aparecido Mota, da instituição pernambucana, e coorientação do professor Wagnner Porto, do curso de Medicina Veterinária da Ufal.

A pesquisa em caprinos comprovou que a toxoplasmose pode ser transmitida também pelo sêmen de caprinos, seja por inseminação artificial ou monta natural, comprometendo ainda o ciclo reprodutivo nessa espécie. A disseminação da doença em caprinos pode aumentar o risco de infecção do homem por meio do consumo da carne desses animais, bastante apreciada e comercializada na região sertaneja, onde se concentra a maioria dos criadores.

Parte das etapas práticas e científicas da pesquisa foi desenvolvida na Unidade de Viçosa, instalada na Fazenda São Luís da Ufal, onde os animais permaneceram até à conclusão do estudo, no Laboratório de Doenças Parasitárias. A pesquisa também resultou em artigos científicos publicados em periódicos internacionais.

A toxoplasmose é uma doença parasitária causada por um protozoário denominado de Toxoplasma gondii, um parasita que tem como hospedeiro definitivo o gato, outros mamíferos e as aves são hospedeiros intermediários, podendo acometer o homem. A transmissão ocorre principalmente por meio do consumo de alimentos (carnes e vísceras cruas ou mal cozidas), vegetais e água contaminados com oocistos que são eliminados nas fezes dos felinos.

Na fase crônica, a toxoplasmose não tem cura e os indivíduos infectados podem ser assintomáticos ou não. Entre os danos à saúde estão distúrbios reprodutivos, má-formação fetal e abortos, tanto em animais como no ser humano. É causadora também de manifestações oculares e neurológicas, dentre outras.

Pesquisador faz alerta a produtores

O professor Wagnner Porto destacou que o estudo realizado em parceria com a UFRPE, além de proporcionar o conhecimento científico, tem a finalidade de alertar os produtores para a tomada de ações e enfrentamento. Uma delas é implantar programas de controle que incluam a toxoplasmose como uma doença de transmissão pelo sêmen em caprinos.

“A pesquisa também serve para alertar os órgãos competentes e os produtores para a necessidade de testes nos animais utilizados como reprodutores e doadores de sêmen em centrais de reprodução existentes no país”, enfatizou Porto.

O estudo realizado na Ufal e na Federal Rural de Pernambuco resultou na produção do artigo Transmissão venérea de Toxoplasma gondii em cabras, após infecção experimental de reprodutor, publicado na revista Small Ruminant Research (vol. 123-2015). A partir dessa divulgação, a equipe foi convidada para participar de evento internacional Veterinary Summit, que congrega pesquisadores de referência mundial na área de veterinária.

O estudo

Para a pesquisa na Unidade de Viçosa, que acompanhou o ciclo reprodutivo dos animais, foi feita a seleção de 20 fêmeas e três machos. As fêmeas foram divididas em quatro grupos destinados a dois experimentos: no primeiro [publicado no The Journal of Parasitology, 99 (4) 2013], foram utilizadas dez cabras, sendo cinco delas sadias [grupo controle] e nas outras cinco procedeu-se a inseminação artificial com sêmen contaminado com Toxoplasma gondii.

No segundo grupo, foram utilizadas dez cabras, sendo cinco sadias [grupo controle], acasaladas com um bode sadio; e outras cinco acasaladas com um bode experimentalmente infectado pelo parasito.

“Foi observado que no grupo controle [fêmeas sadias], a gestação e o nascimento dos cabritos transcorreram normalmente. No primeiro experimento, com as cinco cabras inseminadas com sêmen infectado, 80% das fêmeas apresentaram aborto ou reabsorção fetal entre outros distúrbios reprodutivos. No segundo [acasalamento com macho experimentalmente infectado], observou-se nascimento de cabritos debilitados, abortos e outros distúrbios reprodutivos. Constatou-se também que a maioria das cabras dos grupos infectados e alguns cabritos do segundo experimento tornaram-se reagentes para Toxoplasma gondii nos testes imunológicos realizados”, disse Wagnner Porto.