Humor e tecnologias são usados como forma de discutir a leitura em sala de aula

Wanderlúcia Reis expôs hábitos e respostas de seus alunos na discussão de gênero opinativo


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Wanderlúcia Reis disse que direção da escola em que trabalha lhe deu autonomia para aplicação de novos conteúdos e outras práticas ensino
Wanderlúcia Reis disse que direção da escola em que trabalha lhe deu autonomia para aplicação de novos conteúdos e outras práticas ensino

Jhonathan Pino – jornalista

Fim de ano geralmente significa o encerramento das atividades letivas e o início de férias para escolas e universidades, mas este teve um gosto especial para Wanderlúcia Reis. Docente de Língua Portuguesa da Escola Estadual Dr. Fernandes Lima, localizado no Sítio São Jorge, em Maceió, ela acaba de receber o título de mestre do Programa Profissional de Letras (Profletras), pela Universidade Federal de Alagoas (Ufal), depois de apresentar os resultados de uma pesquisa que buscou refletir sobre os hábitos de leitura de estudantes, após uma discussão dos gêneros opinativos em sala de aula.

A pesquisa, intitulada A formação do leitor/produtor de textos como sujeito crítico: proposta de ação pedagógica em uma turma do 8º ano do ensino fundamental tentou compreender como as práticas educativas contribuem para o desenvolvimento da criticidade do educando, na leitura e na escrita. Para isso, Wanderlúcia, utilizou uma de suas turmas, inicialmente o 7º ano da escola em que trabalhava, para aplicar questionários que desvendassem o gosto dos alunos pela leitura. Ao todo, a pesquisa teve duração de dois anos e, apesar de ser feita com uma turma de 43 integrantes, ela teve a permissão para reproduzir a discussão de dez deles.

De acordo com a pesquisadora, no início, os alunos demonstravam desinteresse por quaisquer representantes do gênero opinativo, no entanto, quando questionados sobre o que costumavam ler, foi constatado que 28% deles tinham o hábito de praticar a leitura na internet, principalmente em redes sociais, como Facebook e Whatsapp; 25% praticavam o ato de leitura com a Bíblia; 22% por meio de outros livros; 17% liam gibis e, apenas 5%, revistas.

Esses dados a fizeram perceber que havia a possibilidade de desenvolver neles o gosto pelo gênero, por isso Wanderlúcia levou para sala de aula alguns cartuns que abordavam de forma humorística a questão das tecnologias. A partir desse material, os alunos foram estimulados a escrever redações em formato opinativo e debater de forma oral sobre os textos dos colegas. “À medida que escreve, o aluno pode colocar-se criticamente, dizendo o que pensa a respeito de determinado assunto e conquistando espaços que a autonomia relativa faculta no meio social”, defendeu a pesquisa.

A investigação apontou que após a realização da sequência didática, o gênero artigo de opinião, passou a ter outro significado para os alunos. “No desenvolvimento da proposta, não houve aluno que manifestasse desgosto ou contrariedade, ao ler ou escrever o texto em que podia colocar suas próprias opiniões, pontos de vista, sobre a temática abordada”, pontuou Wanderlúcia.

A investigadora acredita que a experiência provocou o enriquecimento em sua forma de ensino, como também, despertou os alunos para o seu papel crítico. “Alguns mais tímidos, que costumavam se recusar a ler oralmente, se permitiram participar e sorrir diante de comentários dos outros em relação ao seu texto.  A partir disso, ler e escrever passaram a ser atividades em que os alunos reconhecem como possíveis de se posicionar criticamente”, acrescentou.

A docente também mudou a forma como planejava suas aulas e passou a reelaborar a sua práxis pedagógica, valorizando mais o diálogo em sala, a compreensão responsiva ativa dos alunos, além de ter um olhar mais atento em relação à criticidade dos seus educandos. “Agora, eu considero os alunos como sujeitos capazes de me dar respostas relacionadas ao que eles pensam. Antes, eu programava a aula de acordo o livro didático, considerando uma turma comum e, agora, eu levo em consideração aqueles alunos, daquela turma. Com o trabalho desenvolvido, conheci melhor a própria turma e, a partir dali, a convivência possibilitou também outra relação entre professor e alunos”.

Wanderlúcia foi a segunda mestre do Profletras da Ufal. Ela foi orientada pela professora Rita de Cássia Souto Maior, que participou da banca avaliadora de sua dissertação, junto com os professores Helson Sobrinho, também da Faculdade de Letras (Fale), e Antônio Cicero, docente do Campus Viçosa, do Instituto Federal de Alagoas (Ifal).