Pesquisadores do Campus do Sertão estão em busca de resgatar a tradição sertaneja

Para tanto, selecionaram os municípios Delmiro Gouveia, Água Branca, Olho D’Água do Casado e Pariconha


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Para Ângela Fagna, a ideia é  dar visibilidade a essas pequenas comunidades
Para Ângela Fagna, a ideia é dar visibilidade a essas pequenas comunidades

Simoneide Araújo – jornalista

Com a pesquisa Identidade e Socioespacialidades no Sertão de Alagoas: Estudos Regionais sobre Cultura, Territorialidades e Ambiente, a professora Ângela Fagna Gomes de Souza pretende retratar um pouco do que é a cultura sertaneja. A partir de quatro municípios selecionados, Delmiro Gouveia, Água Branca, Olho D’Água do Casado e Pariconha, o estudo busca resgatar tradições das comunidades locais e mostrar as potencialidades que cada grupo tem, especialmente suas peculiaridades.

Para a coordenadora do projeto de iniciação científica, a ideia é contemplar a pesquisa, dar visibilidade a essas pequenas comunidades que quase sempre não estão evidenciadas dentro do universo que é o Sertão alagoano. “Mapeamos os municípios alagoanos que compõem a região sertaneja por estarem mais próximos da realidade dos alunos envolvidos na pesquisa. São quatro alunos, sendo dois bolsistas e dois voluntários”, explicou Ângela Fagna, que tem formação em Geografia e doutorado pela federal de Uberlândia.

A proposta do projeto é trabalhar com as comunidades tradicionais do sertão, de forma a resgatar sua cultura e tradições. “A ideia é contemplar a pesquisa, mostrar como são essas pequenas comunidades. Temos comunidades quilombolas, indígenas, assentamentos com traços identitários fortes com essa região”, justificou, ao dizer que a perspectiva da pesquisa é mostrar à academia e às próprias comunidades quais são seus potenciais de dança, de comida, de história, do traço da cultura, da herança negra, indígena. Tudo isso é um pouco do que vamos tentar evidenciar”, ressaltou.

Amostragem da pesquisa

Ângela relata que a amostragem é pequena porque o grupo optou por trabalhar com a pesquisa qualitativa. “A ideia é que nossos alunos possam ir às comunidades, conversem, conheçam o cotidiano dessas pessoas para saber, de fato, o que elas têm e podem nos mostrar. Em Delmiro Gouveia, identificamos quatro comunidades e temos um universo bastante diverso. No povoado Salgado tem o tear, a confecção de redes artesanais. Isso já é uma peculiaridade muito interessante para a gente pesquisar. Eles têm uma ideia de cooperativismo muito bem formada. Muitos jovens de lá são alunos da Ufal em vários cursos”, revelou.

O assentamento Lameirão é outra comunidade escolhida. “No local, há o discurso muito forte da luta, da conquista pela terra e, hoje, eles estão criando estratégias para criação de tilápia. Eles cultivam a ideia de viver em comunidade mesmo. Uma das moradoras nos relatou que, apesar de cada um ser de uma localidade diferente, inclusive de outros estados, eles se consideram uma família. Eles tiveram de se adaptar ao clima do sertão”, disse.

Outra comunidade visitada pelo grupo é reconhecida como quilombola. “Lá tem toda a herança e identidade cultural. A escola tem projeto de resgate envolvendo crianças e jovens com a capoeira e danças afro. No município de Pariconha, conseguimos o contato com uma aldeia indígena, a Caruazu, que tem uma herança mais forte. Tivemos uma receptividade muito boa. Lá tem a dança do toré e todo ritual. Eles preservam a tradição e vamos poder vivenciar esses momentos”, revelou Ângela.

Reacender tradições

A Universidade Federal de Alagoas está indo às comunidades para reacender as tradições locais. Para a coordenadora, a instituição tem papel importante nesse resgate. “Temos todo um trabalho de aproximação com essas comunidades para conquistarmos a confiança, porque a recepção tem de ser muito cautelosa. Explicamos com detalhes do que se trata, o que pretendemos, como vamos fazer as abordagens e se eles permitem que a gente retorne, para não chegarmos como intrusos”, explicou.

Segundo a professora, os alunos que fazem parte do projeto sentem muita empolgação com o fato de estarem pesquisando a região deles. “A importância da Universidade num trabalho desse com uma comunidade tradicional é justamente que não seja uma pesquisa nossa, mas que seja uma pesquisa deles e para eles. A ideia é dar visibilidade às comunidades e não dar visibilidade ao nosso trabalho, que é sempre uma relação mútua. Só vamos conseguir o que definimos no nosso projeto se eles [as comunidades] permitirem, pois lá há um conhecimento ainda muito superficial sobre a Universidade, que é uma instituição que vai implantar algum projeto. O trabalho está em andamento e temos uma perspectiva muito interessante de dar mesmo visibilidade às comunidades. O sertão alagoano tem muito a oferecer e a Ufal se dispõe a revelar um pouco do que é essa região”, completou.