Projeto pretende ajudar produtores de hortaliças
Prática deve orientar sobre a quantidade de água utilizada para irrigar os canteiros
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Simoneide Araújo - jornalista
A região que se estende do Campus Arapiraca até o município de Igaci, pela rodovia AL-115, tem alta disponibilidade de água salobra, ou seja, um nível de salinidade considerado elevado para o consumo. Por isso está sendo foco do projeto Função de Produção de Culturas Hortícolas do Agreste Alagoano, desenvolvido pelos alunos do curso de Agronomia do Campus de Arapiraca, que pretende comprovar se, mesmo com esse elevado nível de salinidade, é possível usá-la para produção de hortaliças e ter bons resultados.
Coordenado pelo professor Márcio Aurélio Lins, doutor na área de irrigação e drenagem, o projeto integra atividades de duas disciplinas que envolvem alunos no início e no final do curso: Função de Produção na Agricultura e Matemática Aplicada às Agrárias. Estão sendo analisados níveis de salinidade em quatro reservatórios: um tem apenas água fornecida pela Casal; outro misturada com água do poço e da Casal; um só com a água do poço; e o outro com o dobro de salinidade da água do poço.
Estão sendo trabalhadas as culturas da alface, do rabanete, da rúcula e do coentro. Nas primeiras análises, vem sendo constatado que a alface teve uma resposta melhor com a água do poço, ou seja, com a água salobra. “Essa é uma primeira impressão; agora, vamos fazer as análises para comprovar o comportamento de cada cultura utilizada. Nosso objetivo é passar essas informações para os produtores, uma vez que a região é um polo de produção e hortaliças”, exemplificou.
Além de análise da salinidade, a ideia, segundo o professor Márcio Aurélio, é orientar os produtores em relação à quantidade de água utilizada para irrigar os canteiros. “Em tempos de escassez, precisamos incentivar o uso racional da água e queremos usá-la em menor quatidade e ter maior produtividade; nosso trabalho, realizado há mais de três anos, é determinar o nível de água bom para as culturas”, anunciou.
A região tem uma terra vermelha muito rica em nutriente e retém bem a água. “É uma característica fantástica para irrigação. Pouca água consegue ficar por muito mais tempo no sistema radicular da cultura e tendo melhor aproveitamento. Estamos analisando a quantidade e a qualidade da água, ou seja, é possível que uma água de qualidade inferior para o consumo humano possa ser usada para irrigar os canteiros de hortaliças, verificando a quantidade necessária para cada uma das culturas”, explicou.
Diariamente é feita análise de dados climatológicos. “Colocamos as informações numa planilha, que gera a quantidade de água ideal para cada cultura, uma vez que cada uma delas tem sua necessidade hídrica específica. Esse monitoramento é feito por alunos das duas disciplinas e que fazem parte do projeto”, disse.
Paixão pelo trabalho
Rony de Holanda Costa, 25, é aluno do 10º período de Agronomia e é um dos responsáveis pelo monitoramento da quantidade de água usada nos canteiros de hortaliças diariamente por meio de planilhas do Excel. “Usamos sempre os dados meteorológicos e aplicamos na planilha que vai nos dar a quantidade de água que deve ser usada para cada cultura analisada”, explicou.
Natural de São Sebastião-AL, distante 28 quilômetros de Arapiraca, Rony foi criado na área rural e decidiu fazer Agronomia porque se apaixonou pelo trabalho de seus avós, que são agricultores. “Fui criado no sítio e acabei pegando paixão pela área. Eu brinco com meus colegas que um dos motivos que me fizeram escolher Agronomia foi a planta do milho; eu sempre observava ela crescendo (risos)”, contou.
Com o curso escolhido, Rony pretende continuar o trabalho iniciado por seus avós e também contribuir com outros produtores. “Para mim, fazer Agronomia é uma realização pessoal e profissional, porque a gente que de família humilde – e o professor Márcio Aurélio é um exemplo disso – tem o sonho mais forte de se formar, continuar com seu trabalho e poder ajudar a família”, revelou.
Para Rony, o projeto desenvolvido na Ufal representa uma nova forma de trabalho para produtores de hortaliças, que poderão usar menos água, gastar menos energia e manter uma boa produção. “Isso vai gerar mais renda para o agricultor e pode mudar a forma de trabalho de vários deles, que geralmente não tem essa visão, mas é uma questão cultural. Eles ainda acham que quanto mais água, melhor. Mas poder aprender na Universidade e levar os ensinamentos para os agricultores é muito gratificante”, destacou.