Conferencista da UFMG fala sobre relação entre Estado, investimento e universidade
Os desafios da pesquisa e pós-graduação no contexto atual das universidades públicas brasileiras foi o tema em debate
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Mércia Pimentel – jornalista
Ado Jorio de Vasconcelos, conferencista do Congresso Acadêmico Integrado de Inovação e Tecnologia (Caiite) deste dia 8, trabalhou o tema Os desafios da pesquisa e pós-graduação no contexto atual das universidades públicas brasileiras de modo dinâmico e dialógico. Fez uma fala inicial sobre a relação entre ciência, Estado, universidade e investimento, abrindo em seguida para o debate.
Jorio, que é pró-reitor de Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e bolsista de Produtividade do CNPq nas áreas de Física e Astronomia, compartilhou experiências exitosas da universidade mineira, focando no papel do Estado no financiamento das pesquisas e na função social da universidade. Ao se referir às consequências da PEC 241/55 na pesquisa, demonstrou preocupação quanto ao futuro da ciência neste cenário de instabilidade política e econômica. “No mundo inteiro, quem sempre fez financiamento de pesquisa foi o Estado, e é por isso que nos preocupamos com a situação que está acontecendo atualmente no país”, ponderou.
O coordenador de Pós-graduação da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), professor Helson Flávio da Silva Sobrinho, fez a mediação do diálogo com o público, reafirmando a importância desse debate no sentido de pensar sobre os desafios que a universidade tem vivenciado. Fazendo uma autocrítica, questionou sobre qual concepção de ciência os pesquisadores estão adotando e qual o lugar dos programas de pós-graduação num contexto em que as universidades vêm cada vez mais se rendendo à lógica do mercado ao abrir suas portas para parcerias e financiamentos sob o pretexto de que estão contribuindo com a inovação.
“Fazer parcerias, acordos, aderir a financiamentos revela, na verdade uma contradição: o que é tido como inovação também significa ceder à lógica do capital. Vivenciamos neste momento o conflito de fazer ciência nessa encruzilhada de ter que sobreviver e ao mesmo tempo se deparar com um mercado que quer se apropriar do conhecimento e ao mesmo tempo subjugá-la aos interesses de uma lógica muito perversa”, criticou Sobrinho.
O conferencista destacou que, apesar de os livros apontarem como inevitável o fim do capitalismo dado o seu estágio de esgotabilidade, ponderou que esse sistema de produção ainda dura mais 300 anos, o que obriga os pesquisadores a terem que conviver com esse cenário por muito tempo. “Concordo que você subjugar a educação à lógica de mercado é mortal; por outro lado, é a famosa torre de marfim: temos a preocupação de que a ciência volte para a sociedade, mas se isso for via mercado, que seja”, opinou. Para Jorio, independente de qualquer desejo que o sujeito tenha para o mundo, a ciência possui algo fundamental que é a curiosidade humana, assim ela pode estar desatrelada de questões exteriores.
Outros questionamentos foram feitos pelo público no sentido de problematizar o atrelamento da produção científica aos ditames do sistema produtivo atual. Ao final das discussões, o professor Helson Sobrinho leu uma nota da Reitoria da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), na qual ela se solidariza à UFMG em razão da ação repressiva da Polícia Militar contra estudantes que faziam manifestação contra a PEC 55.