Núcleo de Percussão quer levar atividades aos bairros de Maceió
Proposta é aproximar a Ufal das comunidades e compartilhar conhecimentos
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Simoneide Araújo - jornalista colaboradora
As ações do Núcleo Temático de Percussão Popular e Erudita (NUP) da Universidade Federal de Alagoas buscam a promoção da cultura musical no campo da percussão, tanto popular quanto erudita. É nesse embalo que o grupo pretende chegar mais perto dos bairros de Maceió para promover a troca de conhecimento sob o aspecto da cultura alagoana. A proposta é aproximar a Ufal da comunidade e levar ações relacionadas com os cursos de Dança e Música, além de aprender com essas pessoas um pouco da cultura e dos movimentos autênticos locais.
A partir dessa vertente, os integrantes do NUP começaram a levantar onde estavam os redutos de percussionistas e as manifestações culturais da cidade. "Chegamos ao Vergel do Lago e vimos um ambiente muito propício, com ONGs [Organizações Não Governamentais] instaladas e vários grupos relacionados à cultura afro-brasileira, onde há uma incidência muito forte do coco de roda tradicional", pontuou Nilton Souza, coordenador do NUP, professor e maestro da Orquestra Sinfônica da Ufal.
O NUP tem quatro monitores, sendo três de música e um de dança. O maestro destaca o trabalho de um deles, Wilson Santos, que está sendo o canal entre o Núcleo e comunidades e grupos da periferia. Wilson Santos é aluno do 5º período do curso de Música e um dos colaboradores de Nilton Souza.
Segundo Nilton, a proposta do NUP é também produzir artigos científicos que tenham relação com o fazer dessas comunidades, com a dança e a música da periferia, de manifestação urbana. "Nossa ideia é começar com o coco de roda, porque, há cerca de dez anos, ele entrou num processo de descaracterização. Temos percebido que esse ritmo está ficando muito sofisticado, que virou quase uma quadrilha junina estilizada. O passo, que é a grande característica de Alagoas em termos de coco, é totalmente diferente de qualquer outra parte do Brasil, além de ser muito dançante e de ter influências de culturas até europeias. Isso é muito interessante de ser pesquisado e de ser conservado da forma mais natural possível", revelou o coordenador.
Para tentar manter a originalidade e o passo tradicional do coco, Nilton pretende reunir as pessoas mais antigas que dançam ou dançavam para fazer oficinas voltadas aos jovens do Vergel. "Nossa ideia é começar com oficinas, não para ensinar a dançar o coco, mas para proporcionar o encontro de gerações mais antigas, as pessoas, os grupos que dançam o coco na região do Vergel, que já têm uma tradição, para fazer a mistura com os jovens e poder disseminar essa cultura mais antiga e autêntica. Queremos mostrar que nem só o novo é interessante e buscar conservar a cultura da forma mais natural, tanto na dança quanto na batida do coco, destacando os instrumentos usados", afirmou Nilton.
Em desuso
Entre esses instrumentos, Nilton destaca a bizunga, uma espécie de ganzá, criado para o coco de roda que tem uma forma de tocar muito sutil, particular e só existe nessa dança. "Esse instrumento caiu em desuso porque foi substituído pelo pandeiro, que acaba sendo muito mais atrativo, mais popular e versátil", disse o maestro.
Para Wilson Santos, pelos levantamentos já feitos pelo grupo, a bizunga é o primeiro instrumento musical do coco alagoano. "Não encontramos registros desse instrumento de percussão em nenhum outro lugar do Brasil; ele é genuinamente de Alagoas, mas foi substituído pelo pandeiro. Vamos propor a realização de oficinas para as pessoas aprenderem a fazer a bizunga e torná-la popular. Não podemos esquecer que Alagoas tem uma veia percussiva muito forte", destacou.
Wilson ressalta que a base do trabalho do NUP tem sido os ritmos afro e folclóricos do Nordeste. "Além de percussão, buscamos nos aproximar da dança porque o ritmo e as coreografias estão interligadas", destacou o percussionista, que também integra a Orquestra de Tambores, grupo musical que desenvolve trabalhos em Maceió e é parceiro do NUP.
Troca de saberes
A ideia inicial com a formação do NUP foi trazer a comunidade para o Espaço Cultural, com aulas regulares, oficinas, além de promover a capacitação e a formação de novos percussionistas. Foi assim que os grupos que trabalham com a temática afro-brasileira começaram a se chegar. "Queríamos nos fortalecer, conquistar parceiros e conseguimos trazer grupos que trabalham com a temática afro-brasileira. Eles começaram a vir e participar das nossas atividades que envolvem música e dança, porque estão atreladas. Foi a partir dessas discussões que conseguimos levantar onde estavam os redutos de percussionistas e de manifestações culturais de Maceió", contou Wilson.
O que se pretende com o trabalho do NUP é também retomar práticas culturais nas comunidades, trocar saberes, conhecimento. "Vamos tentar agregar o ensino, a pesquisa e a extensão nesse projeto e buscar parceiros para que consigamos fazer esse registro cultural. Também estamos buscando embasamento teórico para mostrar que o coco pode se transformar num patrimônio imaterial de Alagoas e não de Pernambuco como estão querendo fazer. O coco está no país como um todo, mas o de Alagoas tem suas especificidades e é isso que nós queremos mostrar às pessoas", anunciou Nilton Souza.
Atividades permanentes
O NUP é uma iniciativa do Instituto de Ciências Humanas, Comunicação e Artes (ICHCA), em parceria com a Pró-reitoria de Extensão (Proex) e com a Escola Técnica de Artes (ETA). Seus integrantes promovem atividades no Espaço Cultural às terças e quintas, à tarde, e aos sábados pela manhã. Os encontros são abertos à comunidade, mas é necessário fazer inscrição para participar das aulas e oficinas.
A base do NUP é trabalhar com pandeiros, atabaques, surdos, alfaias, agogôs, xequerês, entre outros. Atualmente atende a cerca de 80 pessoas, entre estudantes da Ufal e da ETA, além de servidores e pessoas da comunidade.