Pesquisadoras refletem sobre o Dia Internacional da Mulher

A socióloga Belmira Magalhães e a assistente social Andréa Pacheco pesquisam a causa feminista


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Lenilda Luna - jornalista

Neste 8 de março, antes de tudo, é preciso ressaltar o questionamento das duas pesquisadoras, não é um dia de festa, flores, chocolates e elogios românticos. Essa data marca uma luta histórica. "Podemos até querer flores e presentes, mas queremos mesmo é a igualdade. Queremos andar na rua à noite, sem medo de sermos violentadas. Queremos ocupar os espaços de poder na sociedade", alerta Andrea Pacheco, assistente social e coordenadora do grupo de pesquisa Frida Kahlo, que estuda Gênero, Feminismo e Serviço Social.

A socióloga Belmira Magalhães também alerta para essa tentativa da mídia e dos setores conservadores da sociedade de transformar datas de reflexão sobre lutas, que continuam pulsando por décadas, em uma festividade ingênua e cor-de-rosa. "Não é dia de festa. É principalmente de luta. Temos ainda que dar muitos passos para a frente. Estejamos atentas e denunciemos os maus tratos físicos e psicológicos", conclama a socióloga, que atua como professora voluntária na Faculdade de Letras (Fale).

Conquistas

No dia 8 de março de 1857, mulheres foram assassinadas em uma fábrica de tecidos dos Estados Unidos por reivindicarem melhores condições de trabalho e por se rebelarem contra uma jornada de mais de 16 horas diárias. Essa data tornou-se um dia de homenagem e também para avaliar avanços e questões que ainda precisam ser conquistadas. "Continuamos em luta! Algumas coisas foram realmente conquistadas: hoje, por exemplo, existe um machismo menos declarado no discurso, mas que continua nas atitudes. Basta ver os índices de violência contra a mulher e os salários que chegam a ser de 30% a 50% mais baixos que o dos homens em funções similares", alerta Belmira Magalhães.

Andrea Pacheco também pontua alguns avanços. O grupo dela já realizou pesquisas sobre a inserção da mulher nos espaços de poder na sociedade e a situação melhora. "Agora estamos nos voltando para a Ufal. Queremos levantar o perfil da mulher na academia. Acredito que já vivemos um novo momento quando é eleita uma reitora feminista, que propõem uma universidade socialmente referenciada. Vamos iniciar esse projeto de pesquisa para saber onde estão as mulheres na universidade. Elas estão presentes na administração da academia ou só na sala de aula?", questiona a pesquisadora.

Belmira Magalhães também destaca que na Ufal existem avanços. "Duas mulheres disputaram a reitoria. As pró-reitorias da nova gestão são ocupadas, na maioria, por mulheres. Também temos mais pesquisas com essa temática na universidade. Muitos Trabalhos de Conclusão de Curso, dissertações de mestrado e teses são voltadas para essa produção de conhecimento sobre a questão da mulher. Nós trabalhamos com classe social e gênero. Essa é uma relação intrínseca porque é diferente a forma como o machismo atinge as mulheres de baixa renda, que são mais vulneráveis e têm menos condições de afirmar a autonomia delas", relaciona a socióloga.

Nos 55 anos de existência da Ufal, três mulheres assumiram a função de reitora. No Conselho Superior Universitário 17 mulheres ocupam cadeiras representando a comunidade acadêmica, o que significa 31,48% do total de membros do Consuni. Mais da metade do quadro se servidores, um total de 52,46%, é formado por mulheres. A reitora Valéria Correia também lembrou a data como um dia de luta. “Ainda temos muito que lutar pela desigualdade em termos salariais e pelo machismo que impera. Sou a terceira mulher reitora, perfazendo um percentual de apenas 23% da festão feminina. Na tradição social em que o homem é identificado como 'senhor do espaço público' no mundo do trabalho e da política, em que assume espaços de destaque e de poder, o Dia Internacional da Mulher deve ser um dia de luta para que esta realidade seja mudada”.

Violência

Uma questão que preocupa as duas pesquisadoras é a violência. "Existe uma violência psicológica, além da física. Uma violência no sentido de querer eliminar os progressos, voltar atrás. Nesse período de crise econômica, se há desemprego, então os conservadores querem que a mulher volte para casa e para a família. Uma afronta para eliminar conquistas, um momento delicado e de muita luta", reflete Belmira Magalhães.

Para Andréa Pacheco é uma necessidade determinante o enfrentamento da violência. "Alagoas é o segundo estado que mais mata mulheres. Maceió é a quarta cidade no número de assassinatos de mulheres. Um feminicídio praticado por namorados, maridos, companheiros, Ou seja, existe uma relação afetiva que dificulta a deúncia, além de muitas dessas mulheres dependerem economicamente de seus companheiros. O mito do amor romântico também complica. A mulher é preparada para casar e viver feliz para sempre. É difícil romper com isso", aponta a assistente social.

Continuar a luta

As pesquisadoras finalizam colocando uma reflexão para esse dia 8 de março, que poderia ser traduzida na letra de uma música de Caetano Veloso: "É preciso estar atenta e forte". Ou seja, nesse Dia Internacional da Mulher, não se pode esquecer o sentido histórico e de luta dessa data. "Temos uma sociedade patriarcal, capitalista e racista. Precisamos nos contrapor o tempo todo a essa lógica e apresentar uma alternativa de sociedade humanamente feliz", conclui Andrea Pacheco.