Politizar o debate sobre internacionalização da Ufal é prioridade do novo gestor da ASI
Aruã Lima defende o protagonismo da produção científica da Universidade no contexto internacional
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Thâmara Gonzaga – jornalista
Tornar a internacionalização da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) tema de diálogo com toda comunidade acadêmica, incluindo o assunto na agenda das unidades e das pró-reitorias. É com esse foco que o novo gestor da Assessoria de Intercâmbio Internacional (ASI) da Ufal, Aruã Silva de Lima, promete atuar.
Dentre as atribuições da ASI, estão o assessoramento da reitoria na tomada de decisões relativas a acordos com entidades, organizações e instituições do exterior, o apoio aos estudantes em questões relacionadas à mobilidade e a construção de oportunidades de intercâmbio para discentes e servidores (seja em cursos de pós ou de graduação).
Professor do Campus do Sertão desde 2011, ele quer ir adiante da agenda obrigatória com a proposta de politizar o debate sobre a produção científica da Ufal além dos limites nacionais. “A função pedagógica da ASI é dizer à comunidade acadêmica que precisamos assumir o protagonismo de nossa produção científica, não podemos ser empiristas eternamente, satisfazendo-nos em adotar modelos de crítica literária do Norte para estudar nossos autores do Sertão de Alagoas e dependendo de financiamento europeu para mapear nosso clima”, destacou.
Essa atitude não significa, tal como esclareceu o assessor, uma ruptura com tudo o que já vem sendo feito. “Continuaremos apoiando todas as iniciativas que promovam o progresso do trabalho dos nossos pesquisadores, mas precisamos, sim, perguntar-nos onde nossa produção científica se localiza em um contexto internacional”.
Uma das prioridades de sua gestão será, a partir de uma discussão coletiva, definir os marcos regulatórios, limites regimentais e estatutários das ações da ASI. De acordo com Lima, o órgão de apoio administrativo tem garantias mínimas de funcionamento para as demandas existentes, mas ainda restam tarefas desafiadoras. “A grande dificuldade inicial, que foi fazer com que a Ufal estivesse atenta ao movimento de internacionalização, foi vencida pelos professores José Niraldo Farias, Sandra Nunes e pelos seus antecessores o que, certamente, não foi fácil”, reconheceu.
Entre os desafios, pontua que um deles é a proficiência em outro idioma. Ele explica que, a grosso modo, a parceria internacional da Universidade se dá com Portugal, situação que tem efeitos prejudiciais para o corpo discente e docente. “Isso limita nossa atuação científica ao mundo lusófono e nos torna prisioneiros dos trabalhos de tradutores, uma vez que nossos pesquisadores terminam não desenvolvendo fluência em outro idioma”.
Outro ponto destacado pelo gestor é o financiamento da mobilidade para estudos e pesquisas. Segundo ele, há muitos acordos firmados entre a Ufal e universidades de todo o mundo, mas que acabam sem utilidade pela falta de condições financeiras de torná-los operacionais. “Dessa maneira, terminam se transformando em ajustes entre professores e não entre instituições. Teremos o desafio hercúleo de mudar essa rotina, criando mecanismos que permitam que os convênios sejam autossustentáveis”.
Atualmente, há cerca de 50 acordos de cooperação firmados pela Ufal. Sobre a necessidade de adequação dos já existentes, o assessor argumentou que serão incluídos compromissos de reciprocidade (taxas, por exemplo), além de alterações, do ponto de vista técnico, que tragam maior segurança jurídica e agilidade. “Isso promoverá um controle mais efetivo sobre o que unidades e professores já fazem informalmente. Temos a tarefa de convencer a comunidade universitária que a Assessoria existe para institucionalizar e, portanto, facilitar a operacionalização dos convênios”, afirmou.
Oportunidades para mobilidade internacional e orçamento
Em relação às oportunidades de mobilidade para docentes, técnicos e estudantes vivenciarem o contexto acadêmico de instituições estrangeiras, Lima assegurou que ativará parcerias já existentes e estabelecerá contatos que permitam uma movimentação contínua com novos parceiros no Sul Global (identificação utilizada para as nações localizadas na África, Ásia e América Latina em contraposição à denominação países de Terceiro Mundo). “Obviamente, esbarraremos nos limites orçamentários. Estamos desenvolvendo algumas ações para as quais esperamos resultados nos próximos seis meses no sentido de ter alguma saúde financeira aos convênios firmados”.
Diante dos poucos recursos, uma alternativa encontrada pela equipe da Assessoria foi incentivar a participação da comunidade universitária em certames públicos promovidos pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).
O gestor informou que em 2016 não haverá possibilidade de discutir amplamente a execução do orçamento do órgão e que focará a aplicação do recurso no auxílio aos graduandos, uma vez que é a área mais dinâmica da Universidade no que diz respeito à internacionalização. “Estamos estudando mecanismos para termos controle de desempenho e definição de responsabilidades dos estudantes. Para o próximo ciclo, pretendemos ampliar os espaços de debate para que as prioridades da comunidade sejam contempladas no planejamento orçamentário que faremos”.
Ações para os campi do interior
O assessor também assumiu o compromisso de promover a internacionalização nas unidades da Ufal no interior. A primeira medida a ser tomada é estudar a implantação de um curso de idiomas em Santana do Ipanema e Delmiro Gouveia. “A médio e longo prazo, eu, pessoalmente, envidarei todos os esforços para convencer a comunidade universitária a criar um curso de língua estrangeira no Sertão, algo que publicizo desde já”, ressaltou.
Numa ação imediata, assegura que, uma vez por semestre, com a colaboração das direções de campi e coordenações, apresentará em todas as unidades do interior as atividades da ASI, as oportunidades de intercâmbio e, com o apoio da Pró-reitoria de Graduação (Prograd), as chances de mobilidade nacional. “Vamos também reunir docentes, técnicos e estudantes do interior no amplo debate sobre internacionalização que pretendemos encampar”, garantiu o professor que continuará lecionando em Delmiro Gouveia dois dias por semana.
Celebração de novos acordos internacionais
As atuais estratégias da Assessoria de Intercâmbio Internacional, segundo o gestor, visam a uma mudança do eixo prioritário na atuação da Universidade Federal de Alagoas no exterior. “Buscaremos alternativas à Europa e aos Estados Unidos, sempre no sentido de fortalecer nossas relações científicas com o Sul Global. Por isso, optaremos, sempre que possível, por convênios com África do Sul, Índia, América Latina e Palop [Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa]”.
A compreensão de Aruã Lima é que os acordos precisam se estruturar a partir do “princípio da contra-hegemonia global”, tal como vem sendo feito por algumas universidades latino-americanas citadas pelo assessor: Universidade de São Paulo (USP),Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM) e Universidade de Buenos Aires (UBA). “Não faremos nada de diferente daquilo que renomadas universidades já fazem. Essas instituições mantêm contato com o Norte Global – e nós também temos e os manteremos – mas dirigem seus esforços para os lugares mais vibrantes cientificamente falando”, justificou.
Ele salientou que não há o estabelecimento de prioridades, em termos de área científica, para firmar novas parcerias internacionais pela Ufal. “Apoiaremos, entusiasticamente, todas as áreas. No entanto, ainda que aparentemente contraditório, precisamos tratar desigualmente as ciências humanas e as artes em relação àquelas que possuem maior capacidade de captação de recursos, como as ciências médicas, biológicas e tecnológicas”. O assessor garantiu que esse será um tema amplamente debatido com a comunidade universitária. “Uma gestão socialmente referenciada e a preservação da autonomia da Universidade são alguns dos pilares inegociáveis da administração da reitora Valéria Correia”.
Carreira profissional
Natural de Feira de Santana, Bahia, Aruã Silva de Lima ingressou na Universidade Federal de Alagoas, com 26 anos, ao assumir o cargo de professor do Campus do Sertão. Graduado em História pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), com mestrado na mesma área pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) e doutorado em História Social pela Universidade de São Paulo (USP), morou dois anos no Canadá e também estudou nos Estados Unidos.
Em 2012, já como professor da Ufal, recebeu uma bolsa do Grupo Coimbra para realizar, durante dois meses, pesquisa na Finlândia. Além dessas experiências, fez várias visitas técnicas a arquivos, grupos de pesquisas, apresentação de trabalhos e colaboração acadêmica. Realizou pesquisa no atual Arquivo de História Política e Social da Rússia (RGASPI) e no antigo Instituto Marx - Engels, em Moscou, onde estabeleceu relações significativas para o campo de pesquisa em que atua.
O ambiente universitário, além de local de trabalho, provoca as lembranças afetivas do novo assessor de Intercâmbio Internacional. Ainda criança, acompanhou a rotina de aulas dos pais enquanto eles estudavam o curso superior. “Acho que a vivência com as discussões políticas, a sensibilidade humanística e a noção de totalidade que sempre me foi ensinada contribuíram para que eu elegesse a Universidade como meu habitat”.