Coordenador da CAC destaca despedida ao italiano mestre das máscaras
Festa funeral será nesta sexta-feira (29), na sede de seu museu, em Pádua, na Itália
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Redação Ascom
O mundo das artes cênicas e das máscaras da Commedia Dell'Arte fará a última homenagem ao mestre Donato Sartori. Ele morreu aos 77 anos, no último dia 23, e a festa funeral, como ele pediu que fosse, será nesta sexta-feira (29), na sede de seu museu, em Pádua, na Itália. Será uma despedida com música, espetáculos, exposição, sarau de poesia, intervenções artísticas e homenagens vindas do mundo inteiro, com destaque para homenagem de seu amigo pessoal Dario Fo.
Donato Sartori é herdeiro da tradição de criar máscaras de Commedia dell’Arte, iniciada por seu pai, Amleto Sartori. Fundou o Museu Internacional da Máscara Amleto e Donato Sartori em 1979 e, com sua arte, influenciou e ensinou muitos artistas brasileiros, inclusive Ivanildo Piccoli, professor do curso de licenciatura em Teatro da Universidade Federal de Alagoas. “Meu coração está despedaçado, meu mestre, meu amigo, minha família italiana”, lamentou Piccoli.
Ivanildo Piccoli lembra da importância do mestre Sartori para sua formação e pesquisas com máscaras teatrais. Em agosto de 2015, a Universidade Federal de Alagoas trouxe Sartori a Maceió para participar do 1º Filé Teatral –Colóquio Internacional de Artes Cênicas e Cultura Popular da Ufal. “Donato Sartori foi importante para o mundo e sua contribuição foi imensa para nós artistas brasileiros, que aprendemos a arte de fazer máscaras. Foram sete vindas ao Brasil e em todas elas fiz parte da intermediação, até por minha ligação pessoal com o mestre”, contou.
Segundo Piccoli, em sua última passagem pelo Brasil, há oito meses, Sartori passou por São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Belo Horizonte e Maceió, onde ficou dez dias participando de encontros e palestras sobre máscaras, Commedia dell'Arte e Bumba meu boi, durante o 1º Filé Teatral e, também, conhecendo um pouco da cultura alagoana.
“Donato era apaixonado pelo Brasil, era curioso e valorizava a cultura nacional, principalmente as artes cênicas. Aqui ele sempre encontrou um campo fértil para suas pesquisas, sempre esteve aliado a pesquisadores como o grupo Moitará do Rio de janeiro e Helô Cardoso, da Unicamp, somos herdeiros diretos de seus ensinamentos há décadas e, juntos, despertamos nas novas gerações o olhar e o amor a essa arte milenar das máscaras. Donato era um artista com forte posicionamento politico e de um coração repleto de generosidade, sempre acolhendo seus discípulos como filhos de sua família pessoal e, assim, eu sempre fui tratado por ele, além das parcerias profissionais, além de ser colaborador direto de seu museu. Considero-me um filho brasileiro que ele sempre quis ter, como ele me afirmava a cada gole de caipirinha compartilhado. Para mim sempre foi uma honra produzir suas vindas, traduzir e compartilhar os ensinamentos desse meu mestre-pai”, destacou Piccoli.
Quem foi Donato Sartori
Sartori foi escultor, pesquisador e professor. Aprendeu os primeiros elementos da arte e da cultura no atelier de seu pai Amleto Sartori, notório escultor de Pádua. Sua atividade artística dividiu-se entre sua carreira como escultor e a investigação sobre a máscara. Em Paris, no ano de 1968, entrou em contato com Pierre Restany, criador do Nouveau Réalisme, conheceu Cesar, Tinguely e Christo e começou uma nova pesquisa, distinta da linha seguida por seu pai. Ao mesmo tempo, colaborou com os grupos teatrais mais representativos e diretores de vanguarda, tais como Bread and Puppet, Odin Teatret, Tadeusz Kantor, Peter Brook, Jacques Lecoq, Giorgio Strelher e Dario Fo.
No Extremo Oriente conheceu grandes famílias – do teatro balinês: Nô (Hideo Kanze) e Kyogen (família Nomura), no Japão; e na Ópera de Pequim na China (Ma-Ke). Em 1979, com Paola Piizzi e Paolo Trombetta, fundou oCentro Maschere e Strutture Gestuali, com os quais realizou seminários, workshops, performances e exposições em todo o mundo: Bienal de Veneza, São Paulo, Rio de Janeiro, Paris, Londres, Tóquio e Moscou.
Desde 2002 foi professor convidado de História das Máscaras, no Departamento DAMS da Universidade de Pádua. Em 2005, inaugurou o Museu Internacional da Máscara Amleto e Donato Sartori, com um espetáculo especialmente escrito por Dario Fo e Franca Rame e criado para a ocasião. Este ano estava em plena comemoração mundial do centenário de nascimento de seu pai, além de ter acado de escrever seu último livro para ser entregue a editoras. E por falar em livros, o único dele em portugues é A Arte Mágica, traduzido e lançado em 2012 no Brasil.
A reitora Valéria Correia emitiu uma nota de pesar, leia na íntegra no anexo.