Projeto de extensão reforça o combate ao trabalho infantil
Ações foram desenvolvidas em parceria com o Cras Cidade Sorriso
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Lenilda Luna - jornalista
Integrantes do Núcleo Temático da Criança e do Adolescente e do Grupo de Pesquisa Rede, Questões Geracionais e Políticas Públicas apresentaram os resultados do projeto de Extensão para Prevenção do Trabalho Infantil, que buscou sensibilizar pais e educadores sobre o prejuízo do trabalho infantil no desenvolvimento das crianças e adolescentes. O projeto foi desenvolvido em parceria com o Centro de Referência em Assistência Social (Cras), no conjunto Cidade Sorriso, que fica no complexo Benedito Bentes.
As ações foram iniciadas quando a professora Márcia Iara Costa da Silva, doutora em Serviço Social e líder do grupo de pesquisa foi convidada a fazer uma palestra no conjunto em 2014. A pesquisadora já analisa o trabalho infantil há mais de uma década e realizou as pesquisas para o mestrado e doutorado com esse tema. "Quando aceitei o convite para a palestra, já tinha a intenção de desenvolver um projeto de extensão para dar continuidade às ações voltadas para o combate ao trabalho infantil, que apresenta consequências muito graves para a formação dessas crianças", relatou Márcia Costa.
O projeto teve como objetivos apoiar as políticas públicas de assistência social, fortalecer a proposta de rede intersetorial de assistência e qualificar as atividades técnicas desenvolvidas. "Na comunidade, buscamos identificar situações de trabalho infantil e debater com pais e educadores que, por conta das condições precárias, acabam vendo a colaboração dessas crianças como uma ajuda natural, mas sem pensar o quanto estão 'roubando' da infância delas e das atividades que elas devem desenvolver nessa faixa etária ao invés de trabalhar", explicou a pesquisadora.
Segundo Márcia, a sociedade já não se choca mais com a quantidade de crianças pedindo esmolas no semáforo, ou vendendo alimentos e objetos nas praias ou ajudando os pais em oficinas e na reciclagem de lixo. "As ações de conscientização sobre esse tema ficam muito concentradas no dia 12 de junho, que é dia Mundial de Combate ao Trabalho Infantil. Mas as ações para garantir os direitos dessas crianças e adolescentes devem ser permanentes. Assim como as ações de conscientização", ressalta Márcia Costa.
A professora destaca a importância de garantir a aplicação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). "Temos ainda a Constituição Federal que determina a obrigação do Estado em garantir os direitos das crianças e adolescentes a saúde, educação, moradia, alimentação e assistência social e temos uma rede de atendimento, constituída por várias instituições, como Ministério Público e Conselho Tutelar, para buscar garantir esses direitos", pontua a pesquisadora.
O problema é que, apesar de ações como o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil, essa realidade ainda persiste. "E não se dá visibilidade a esse grave problema. Muitas vezes, os próprios pais mascaram o trabalho infantil para não perder o direito à benefícios como o Bolsa Família, que tem como critérios a assiduidade da criança na escola e o atendimento à saúde. Isso, apesar de todas as ações de enfrentamento e estratégias governamentais focadas na prevenção ao trabalho infantil", alerta Márcia.
Formação e reflexão sobre o tema
Além do aspecto social do projeto de Extensão, Márcia ressalta também o quanto essa experiência é importante para os alunos de Serviço Social que estão em formação. "Esses alunos começam a tomar contato com as demandas postas para os profissionais dessa área e passam a relacionar a teoria com a prática. Isso é importante porque o campo de atuação do assistente social é sempre um desafio", explica Márcia.
As conclusões do projeto de extensão sobre o enfrentamento ao trabalho infantil nas estratégias de educação foram apresentadas num seminário promovido pela Prefeitura Municipal de Maceió, no último dia 12 de junho. "Tivemos como parceiros nesse projeto as escolas municipais que ficam nas imediações do conjunto Cidade Sorriso, além do Cras Cidade Sorriso. É um trabalho intersetorial que envolveu os profissionais do município e 16 alunos do Curso de Serviço Social da Ufal", relata a professora.
Entre agosto de 2014 a agosto de 2015, foram realizadas várias reuniões técnicas e setoriais com os integrantes e apoiadores do projeto. "Depois da capacitação, os alunos de Serviço Social foram à campo para desenvolver oficinas, dialogar com as famílias, conhecer a realidade social, econômica e profissional da comunidade. Os estudantes tiveram uma rica experiência em planejar ações e executar o projeto", ressalta a professora.
O projeto de Extensão também buscou colaborar com a atualização de dados qualitativos sobre o trabalho infantil no município de Maceió. "Já temos artigos publicados em seminários e congressos nacionais e internacionais de Assistência Social. Fizemos uma avaliação dos impactos do trabalho infantil na saúde das crianças, porque elas são expostas à riscos muito sérios em ambientes de construção civil, na coleta de material para a reciclagem e nos acostamentos das estradas", alerta Márcia.
Vida Maria
Nas reuniões de sensibilização sobre os prejuízos do trabalho infantil, os integrantes do projeto de extensão utilizaram o curta-metragem Vida Maria, produzido pelo animador gráfico Márcio Ramos. O filme relata como o trabalho infantil acaba sendo aceito como uma necessidade para as famílias pobres da área rural, e como o sonho de estudar é abandonado diante das imposições do dia-a-dia.
Márcia relata que o filme provocava reações emocionadas no público. "Eles se reconheciam ali. Alguns adolescentes que abandonaram a escola porque precisavam trabalhar começaram a perceber que a vida vai dando voltas e vem uma sensação de não chegar a lugar algum. Nesse momento é preciso explicar que o trabalho nessa idade de formação não ajuda, ele rouba parte da infância e adolescência. Essas crianças precisam brincar, estudar, aprender de forma lúdica", enfatiza a pesquisadora.
Veja aqui onde denunciar o trabalho infantil.
Assista ao filme Vida Maria, que foi utilizado pelos integrantes do projeto nas reuniões de sensibilização.
Sugestão de leitura: Infância Perdida Direitos Negados. O trabalho infantil em questão. Edufal, 2013.