Igdema promove evento com participação de referências brasileiras em Geografia

Programação de abertura do segundo semestre letivo teve palestras e lançamento de livros


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Professora Maria Adélia, palestrante convidada
Professora Maria Adélia, palestrante convidada

Diana Monteiro - jornalista

A comunidade acadêmica do Instituto de Geografia Desenvolvimento e Meio Ambiente (Igdema) da Universidade Federal de Alagoas teve a oportunidade de debater a situação atual da geografia brasileira e demandas existentes relacionadas à exigência de urgentes mudanças. Entre os assuntos debatidos estão conceitos, atuação profissional, formação de recursos humanos e ensino.

A programação que iniciou nesta segunda-feira (8), abriu o segundo semestre letivo do Programa de Pós-graduação do Igdema e contou com a participação dos renomados professores Maria Adélia Aparecida de Souza e Carlos Augusto de Figueiredo Monteiro.

“A geografia é a grande protagonista do século 21 e a ensinada no Brasil e no mundo, como a francesa, está atrasada. A geografia só tem um objeto, que é o espaço geográfico, sinônimo de totalidade”, disse Maria Adélia. Oriunda da Universidade de São Paulo (USP), também catedrática de Direitos Humanos da Universidade Católica de Lyon (França) e autora de várias obras, ao falar nas competências da citada ciência, Adélia também teceu críticas à academia pelas desavenças existentes. “O intelectual, o pesquisador, não têm chefe, nem patrão. É fundamental que o debate se dê apenas no plano das ideias e, neste contexto, a universidade tem um importante papel”, frisou.

Maria Adélia é considerada uma das maiores autoridades brasileiras na área de planejamento urbano e regional e o tema central A Geografia hoje, o que é? pautou o debate envolvendo professores e alunos da graduação e pós-graduação do curso de Geografia da Ufal. Insistindo sobre o mesmo tema para provocar um debate necessário e urgente foi agregado ao enfoque central como reforço à reflexão visando um outro olhar para a geografia com os tópicos: Ainda essa discussão? Por quê?; Uma disciplina necessária, porém desatualizada no seu método?; Uma disciplina, um objeto de reflexão: espaço geográfico; A geografia indigente e sua permissividade: um abandono disciplinar; E o futuro?

No transcorrer da palestra a pesquisadora disse ser preocupante o fechamento de cursos de Geografia em instituições no país devido à falta de demandas, mesmo reconhecendo haver uma crise no ensino superior brasileiro. Ela citou a dualidade entre a geografia física e a geografia humana como um grande problema que causa o retardo da disciplina e adiantou que há a necessidade de um reposicionamento do ensino dentro da universidade. “A Geografia hoje tornou-se indigente e tem perdido protagonismo nos diálogos multidisciplinares”, enfatizou Maria Adélia.

A coordenadora do mestrado Silvana Quintella destaca que a Geografia alagoana é muito grata aos pesquisadores e acrescenta: “É uma honra e um privilégio termos aqui conosco, mais uma vez os professores Carlos Augusto e Maria Adélia. A Geografia é mesmo uma luz para compreensão do mundo, especialmente nesse período sem igual na história, onde o medo é tão generalizado e alcançou todas as áreas da nossa vida. A Universidade é reflexo de todo esse processo e a presença de vocês aqui é de extrema importância”, enfatizou dirigindo-se aos palestrantes. A programação na unidade acadêmica transcorre até a próxima sexta-feira (12).

Lançamento

Durante a abertura do segundo semestre letivo do mestrado em Geografia o renomado professor Carlos Augusto de Figueiredo, fez o lançamento dos quatro volumes da obra Rua da Glória, segundo ele, uma homenagem ao Nordeste e ao Piauí, onde nasceu. Aos 90 anos de idade ele é detentor de três títulos de Doutor Honoris Causa concedidos pelas Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade Federal da Bahia (Ufba) e Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). O quarto título receberá da Universidade Estadual de Alagoas (Uneal), na quarta-feira (10), na cidade de Arapiraca. Na mesma solenidade serão ainda agraciados com o mesmo título os professores Armen Mamigonian, Maria Auxiliadora da Silva e Maria Adélia de Souza, também referências de estudos na área.

Carlos Augusto é professor titular aposentado da Universidade de São Paulo (USP), autor de vários livros e um grande conhecedor do clima e das intervenções humanas no meio ambiente brasileiro, buscando aproximar as teorias de geografia com filosofia, artes, poesia e literatura. Sobre a recente obra ele destaca algumas peculiaridades e originalidades do lugar onde nasceu. “O Piauí é o único estado do Nordeste que tem capital no sertão. No século 20, era um hospedeiro da seca e recebia o contingente de retirantes do Ceará. Com realidade física do meio-norte, o Rio Parnaíba era navegável, na seca de 1977 ele não secou e continuou navegável, mas o desmatamento progressivo na região mudou essa realidade”, frisou.

A obra de Carlos Augusto percorre as quatro gerações que originaram sua família até chegar a dele quando aos 18 anos de idade decidiu deixar Teresina e ir par ao Rio de Janeiro. Informou que o primeiro volume retrata as histórias que originaram o nome Rua da Glória, onde havia um intenso comércio e movimentação de pessoas; o Volume 2 enfoca as armas e as máquinas; o Volume 3, denominado No tempo dos Revoltosos, assim se chamava a Coluna Prestes em sua terra; e o Volume 4, O tamanho de uma esperança, é uma autobiografia. “A obra mostra a expressão da realidade, ou seja, é o retrato mais fiel e verdadeiro de uma história familiar, também com dissabores”, frisou.

Além de redator, Carlos Augusto é o ilustrador da obra e realizou durante um ano o trabalho de campo no delta do Rio Parnaíba. Sobre a publicação de uma única vez dos quatro volumes ele diz: “ Pela falta de apoio foram 23 anos para publicação do livro que veio a se concretizar devido ao empenho dos estudantes e do Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal do Piauí, o que resultou no lançamento de todos os volumes de uma só vez”, contou. Em novembro as ilustrações de sua obra estarão em exposição na Universidade de Coimbra sob a curadoria brasileira da professora e pesquisadora Maria Adélia de Souza.