Campus Arapiraca completa 10 anos no Agreste de Alagoas
Ufal é cada dia mais dos alagoanos e comprometida com a transformação social
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Diana Monteiro - jornalista
Pensar numa universidade cada dia mais dos alagoanos reforçou o Projeto de Interiorização que completa, neste 16 de setembro, uma década de existência com a criação do Campus Arapiraca, no Agreste Alagoano. O primeiro, do crescente processo de expansão do ensino superior público, implantado numa região que concentra 75% das matrículas do ensino médio no Estado.
A positividade das ações, a partir do esboço do projeto para levar ao interior de Alagoas uma instituição a serviço da sociedade, beneficiando diretamente 37 municípios, e assim oportunizar a transformação social, sobrepôs-se aos inúmeros desafios, ainda em curso. Com alcance à porção central do estado de Alagoas, assim como sobre o Baixo São Francisco e seu delta, no litoral sul, o projeto da Ufal foi piloto para o Ministério da Educação (MEC), dentro do programa de expansão do ensino superior público. A interiorização está consolidada como o maior e mais abrangente projeto de desenvolvimento econômico e social do Estado.
A inauguração do campus da Ufal sediado em Arapiraca e de suas unidades de ensino em Viçosa, Palmeira dos Índios e Penedo tornou possível o sonho de muitos estudantes de fazer parte da maior instituição pública de educação superior e participar de todo um processo de construção do conhecimento sem precisar sair da região onde mora. E onde chega o conhecimento, chega também o desenvolvimento. Foi assim que ocorreu com a segunda maior cidade alagoana após a chegada da Universidade. Arapiraca figura como uma das cidades que mais crescem no Brasil, acolhendo alunos, professores e técnicos de cidades vizinhas e também de outros estados do país.
"A interiorização é um processo que tem garantido a democratização do acesso ao ensino superior, e possibilita que esses estudantes também tenham acesso à Ufal. O desafio é consolidar os campi no interior com qualidade de ensino, pesquisa e extensão, além de infraestrutura adequada. Estamos conscientes desse desafio, sabemos das dificuldades mas entendemos que nosso papel é contribuir para melhoria dos índices do Estado", ressaltou a reitora Valéria Correia.
Para quem acompanhou muito de perto o desafiador processo de consolidação e crescimento do Campus Arapiraca, considera a interiorização o maior projeto de desenvolvimento desse Estado. “As transformações são claras. A inserção da Universidade no interior permitiu o avanço social, cultural e regional. Sou uma das pioneiras da interiorização. Chegamos recém-contratados e entusiasmados para começar a trabalhar. Porém, a realidade era outra, completamente diferente. No entanto, não desistimos. Insistimos. Ficamos. Acreditamos. E hoje, podemos afirmar: valeu à pena, sim! A construção e a consolidação se fez um objetivo em nossas vidas. A formação dos nossos alunos e, subsequentemente de suas famílias, transformam o nosso dia a dia”, reforça com propriedade a diretora-geral Eliane Cavalcanti.
Docente selecionada no primeiro concurso da interiorização, Eliane assumiu em pouco tempo o desafio de também dirigir o Campus Arapiraca. Atualmente, a estrutura é formada por 23 cursos, destes, três em horário noturno na sede Arapiraca, onde também funcionam a pós-graduação Strictu sensu em Agricultura e Ambiente, as ações de ensino, pesquisa e extensão com foco na formação de recursos humanos e desenvolvimento regional a partir de suas potencialidades, envolvendo cerca de 3,3 mil alunos, 149 técnicos e 249 docentes.
Nessa primeira década, o Campus Arapiraca graduou cerca de 840 alunos, muitos já inseridos no mercado de trabalho ou em processo contínuo de qualificação visando a carreira docente. “A região mudou e a população passou a acreditar que o ensino superior é sim possível para os jovens que não vislumbravam antes uma perspectiva de futuro”, frisa Eliane.
A importância do município para Alagoas e a referência do campus em todo processo de crescimento do Agreste sobressaem como fatores positivos para a oferta do segundo curso de Medicina da Ufal, que terá a primeira turma no próximo semestre letivo. “Considerando que Arapiraca é uma cidade em que o desenvolvimento faz parte do seu cotidiano, a Ufal coaduna com tudo isso porque uma universidade não forma apenas profissionais, forma também cidadãos”, destaca a diretora.
Na breve retrospectiva sobre os 10 anos do Campus Arapiraca, Eliane deixa transparecer a imensa felicidade pelos momentos vividos, mesmo diante de tantos desafios, mas, que, segundo ela, o acreditar foi fundamental o sonho tornar-se realidade. Ela relembra a colação de grau dos primeiros alunos, comemorações e calouradas, assim como as grandes lutas em momentos marcantes nessa trajetória e que proporcionaram a união de todos os segmentos, motivando permanentemente a vontade de crescer a cada dia.
Eliane aproveita para fazer um agradecimento que considera especial nesses 10 anos de caminhada. “Conquistamos amigos verdadeiros e nos tornamos uma grande família. Reafirmo, porém, que isso só foi possível graças à união de todos que fazem e dão suporte às nossas atividades. Faria tudo outra vez”, afirmou demonstrando consciência para a contínua luta onde o empenho e a dedicação são importantes para a superação de obstáculos impostos pelos constantes desafios.
Conhecimento conectado à transformação de vida
A história de Rodolfo Cavalcante assemelha- se a de muitos jovens residentes no interior de Alagoas e que tiveram, a partir da chegada da Ufal, uma mudança de vida. Os degraus projetados por Rodolfo com dedicação e obstinação foram determinantes para vencer os desafios e aproveitar as oportunidades no transcorrer de sua vida acadêmica, iniciada em 2006, como aluno da primeira turma de Ciência da Computação e primeiro graduado do curso, em 2011.
O mestrado em sua área de formação na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e o doutorado no Centro de Informática da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) fizeram Rodolfo Cavalcante seguir adiante vencendo cada etapa até chegar a tão almejada conquista: ser professor da instituição alagoana e integrar o corpo docente do Campus Arapiraca.
Natural do município de Feira Grande, onde reside, a 15 km de Arapiraca, Rodolfo é um exemplo de como a interiorização foi determinante em sua vida e de como está comprometida com a formação de recursos humanos para o mercado de trabalho alagoano. E sobre isso ele destaca: “Fui embora, mas com o objetivo de voltar para Arapiraca, para tentar contribuir com a nossa realidade local. Olhando para trás, posso afirmar que o principal sentimento que tenho é de gratidão, por ter tido tantas oportunidades oferecidas pela Universidade”, enfatiza.
Rodolfo diz que veio despertar para seguir carreira docente a partir do ingresso na Ufal, onde durante a graduação recebeu, por mérito, uma bolsa de intercâmbio para estudar em Portugal, tida por ele como uma rica experiência acadêmica vivida. Mas aproveita para citar que a competência dos professores do curso ao qual pertencia foi o principal estímulo recebido. “Ao entrar na Universidade, encantei-me com a sabedoria de vários professores e decidi que queria isso para mim também. Antes da Ufal, eu nunca tinha saído do estado de Alagoas. Costumo dizer que a Universidade mudou minha vida”, frisa.
Com propriedade de quem viu, acompanhou e cresceu junto com a expansão da Ufal nesta primeira década de implantação, Rodolfo reflete sobre a oportunidade de mudança de vida que os alunos da região têm, por fazer um curso superior sem sair de perto da família. “Hoje, 10 anos após a sua criação, posso ver o progresso que o Campus Arapiraca e suas respectivas unidades de ensino estão trazendo para a região”, enfatiza.
Ao reforçar a contribuição da interiorização focada no desenvolvimento econômico, cultural e social do Agreste, Rodolfo Cavalcante enfoca as várias funções da universidade pública em suas áreas de atuação e os impactos trazidos a curto, médio e longo prazos. “Hoje temos diversos enfermeiros, agrônomos, zootecnistas, arquitetos, cientistas da computação, psicólogos, entre outros profissionais, formados no Campus de Arapiraca e já atuando na região. Esse conhecimento técnico é capaz de transformar, a médio prazo, tanto a vida dos profissionais que se formam no campus, como também da sociedade como um todo, pois esta sociedade passa a ter acesso aos produtos e serviços fornecidos por esses profissionais”, diz.
Sobre a extensão, Rodolfo enfatiza que os alunos, ainda em fase de formação, desenvolvem juntos com professores-orientadores projetos que são diretamente aplicáveis ao contexto social em que a universidade está inserida. São trabalhos que vão desde técnicas eficientes de irrigação até aplicativos para smartphones que auxiliam no tratamento de crianças autistas, atividades capazes de realizar mudanças importantes na sociedade ainda no curto prazo.
Ao destacar as pesquisas científicas, ele enfatiza a realidade atual. “A Universidade já consegue produzir ciência de qualidade. Preocupados com problemas locais, alunos e professores-pesquisadores desenvolvem projetos científicos de modo a resolver tais problemas, o que no longo prazo pode trazer grandes melhorias para a sociedade. Estes três eixos são capazes de mudar para melhor a realidade local”, afirmou.
Desafios e resultados
Fazer parte da história da Ufal no Agreste alagoano é motivo de orgulho para Aldianne Tenório, aprovada no primeiro concurso para servidor técnico-administrativo do campus. Natural de Arapiraca, onde reside, ela ficou em primeiro lugar no cargo de técnico em assuntos educacionais e deixa transparecer o quanto a conquista foi importante em sua vida. “Senti uma emoção muito grande ao ver o resultado pela classificação em um cargo que tinha concorrentes de vários estados do Brasil e principalmente por se tratar da universidade que eu sempre tive como referência em meu Estado”, enfatiza.
Da posse em 1º de setembro de 2006 aos dias atuais, quando a interiorização faz uma década de implantação, Aldianne relembra os inúmeros e grandes desafios, como infraestrutura e também em seu segmento. “Iniciamos em 16 de setembro com poucos servidores para atender a diferentes demandas administrativas. Era praticamente um servidor para cada setor e por se tratar de um campus novo não tínhamos outros servidores experientes para nos auxiliar nas demandas iniciais”, destaca.
Na opinião de Aldianne, mesmo diante de tantos obstáculos, a chegada da Ufal ao interior, além de oportunizar o ensino superior público e gratuito pela abrangência do desafiador projeto, mudou a realidade de vida dos arapiraquenses e de cidades vizinhas. E afirma: “Novos horizontes e oportunidades surgiram para os jovens que sonhavam ingressar na universidade, mas se sentiam impedidos devido às condições financeiras de suas famílias”.
Sobre os 10 anos da expansão, ela ressalta: “Tenho muito orgulho de fazer parte da Ufal e fico feliz com as conquistas e avanços que juntos, técnicos, docentes e alunos, vivenciamos em nosso campus. Apesar das dificuldades enfrentadas, não nos poupamos em dar o nosso melhor”, destacou Aldianne Tenório, reconhecendo também como positividade do projeto a união e dedicação dos três segmentos universitários.