Dificuldades e perseverança marcam trajetória da Unidade de Viçosa
Personagens que fizeram parte da história revelam o empenho da comunidade acadêmica
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Natália Oliveira - estudante de Jornalismo
Há exatos dez anos, um novo capítulo foi iniciado na história da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e do ensino público no Estado. Em setembro de 2006, a Ufal abriu as portas para os novos estudantes de Medicina Veterinária, primeiro curso de graduação público em Viçosa, Zona da Mata alagoana. No município onde o setor primário tem força, principalmente com a pecuária, a criação do curso se encaixou com a necessidade de profissionais de saúde animal.
Fruto do processo de interiorização da Universidade, a Unidade de Ensino (UE) de Viçosa é integrada ao Campus Arapiraca. Nos primeiros anos do curso de Medicina Veterinária, as dificuldades foram muitas, principalmente em relação à infraestrutura, equipamentos e mobilidade. Instalada na Fazenda São Luiz, a UE enfrentou, por alguns anos, a ausência de um restaurante universitário e do hospital veterinário, fundamental laboratório para estudantes exercerem, na prática, toda a teoria que aprendiam em sala de aula.
Cada obstáculo, no entanto, foi superado dia a dia por uma razão: o comprometimento de toda a comunidade acadêmica. “Talvez, em outros locais de ensino, essas dificuldades representassem motivos suficientes para não seguir em frente, mas tínhamos professores motivados, que sediam seus equipamentos particulares para dar seguimento ao que estava sendo proposto”, revelou a ex-aluna Evelynne Marques de Melo.
Nessa primeira década de existência, quem comemora mais um aniversário do curso é a própria comunidade acadêmica, que protagoniza cada avanço e conquista na melhoria da graduação. “O curso tem tudo para se firmar e impulsionar não só a comunidade acadêmica, como a população do município de Viçosa e de Alagoas, que recebem direta ou indiretamente os frutos dessa vitória que é o curso de Medicina Veterinária da Ufal”, comemorou Tiago Rodrigues, técnico do Laboratório de Anatomia e Necropsia e estudante da graduação da Unidade.
Aluna da primeira turma da história do curso e, hoje, médica veterinária do Instituto Federal de Alagoas (Ifal), Jana Kelly presenciou a evolução do ensino e atribui os bons resultados ao empenho da equipe. “A qualidade do quadro docente e técnico deu suporte para superar dificuldades no decorrer da formação. Houve a busca dos alunos por alternativas com a participação no ambulatório, em projetos de pesquisa, nas monitorias, visitas técnicas, convênios com órgãos e estágios em diversas áreas. Houve vontade e doação para a concretização do ensino e do aprendizado”, ressaltou.
Se, no início, a ausência de laboratórios equipados e do hospital universitário foram sentidas, professores e alunos trabalharam juntos para reverter a situação. Prova disso são os grupos de estudos que trazem qualificação para o corpo discente e melhorias no setor pecuário da região. Ao todo, cinco grupos atuam em vertentes específicas: animais silvestres, pequenos animais, equídeos, ruminantes e animais de produção.
Passados dez anos desde a primeira aula do curso, os avanços vieram gradativamente. “Laboratórios estruturantes para as disciplinas do curso, aumento do quadro docente. A estrutura física, em si, foi o principal crescimento nesse tempo. Espero que a gente consolide essa estrutura, que a UE se expanda em mais cursos oferecidos à comunidade”, almeja Thiago Barros, primeiro coordenador da UE de Viçosa e atual vice-coordenador.
Atualmente, o curso tem 190 estudantes, 15 professores e quatro grupos de pesquisa: Pesquisa em pequenos ruminantes e plantas medicinais; Pesquisa e Extensão em equídeos; Pesquisa em animais de companhia e selvagens; e Qualidade, tecnologia e inspeção de produtos de origem animal.
Para a professora Marcia Notomi, a mobilização do corpo acadêmico é uma via de mão dupla: enquanto os estudantes ganham experiência, o setor pecuário ganha ao contar com profissionais capacitados. “O curso de Medicina Veterinária beneficia a pecuária local ao fornecer mão de obra especializada, realizar exames laboratoriais, dar consultoria para produtores, além da qualificação profissional dos próprios estudantes”, pontuou.
Interiorização: uma conquista de sonhos
Para a coordenadora da Unidade de Ensino de Viçosa, Chiara Lopes, o processo de interiorização das universidades públicas abriu janelas de oportunidades para aqueles que sonham chegar ao ensino superior e os profissionais que desejam exercer carreira acadêmica. “Ao meu ver, a maior contribuição foi possibilitar o acesso de jovens do interior, sobretudo daqueles em condições de vulnerabilidade social, à educação superior de qualidade, refletindo no processo de transformação da realidade desses indivíduos, quanto futuros profissionais, pessoas de bem, assim como no processo de desenvolvimento do município de Viçosa e entorno”, avaliou.
A criação do curso de Medicina Veterinária, foi, para muitos, a realização de um sonho, que poderia não ter se concretizado, caso a Ufal não chegasse ao interior. Evelynne Marques de Melo foi uma das que estudantes que agarrou a oportunidade de, finalmente, cursar o que queria. Como o curso ainda não existia em 1997, ano em que concluiu o ensino médio, Evelynne decidiu estudar Geografia e, em seguida, Relações Públicas na Instituição. Ainda assim, o sonho permaneceu latente. “No primeiro curso, direcionei meus estudos à Biogeografia, área destinada ao estudo dos animais. No segundo, desenvolvi um plano de comunicação organizacional e campanha publicitária como TCC, para uma ONG que trabalha com cães e gatos em Maceió”, revelou.
Junto à chegada do curso em Viçosa, veio a chance de Evelynne dar início à carreira que queria. “Vivi o momento incrível de ser informada da abertura do primeiro vestibular para veterinária na Ufal”, lembrou emocionada. Com isso, a estudante abandonou o emprego e dedicou seu tempo aos livros para voltar ao ensino superior.
Durante cinco anos, a distância de cerca de 86 km percorrida diariamente de Maceió, cidade onde residia, para Viçosa foi menor do que a espera de dez anos para, enfim, dar os primeiros passos na carreira veterinária. “Sempre fui totalmente dependente da oportunidade do ensino público federal para curso superior. Não tinha condições de pagar para estudar em uma faculdade privada”, conta. Com a interiorização da Ufal e a consequente criação da graduação em Medicina Veterinária, Evelynne alcançou o terceiro curso consecutivo na mesma instituição pública e, hoje, faz mestrado na Universidade, dentro da área que sempre sonhou.
A chegada da pós-graduação stricto sensu
No último dia 2 de agosto, tiveram início as primeiras aulas do mestrado em Inovação e tecnologia integradas à medicina veterinária para o desenvolvimento regional, o primeiro da Unidade de Viçosa e segundo do Campus Arapiraca. “Além da questão estrutural da Unidade, avançamos em relação ao número de docentes e qualificação deles, o que culminou na aprovação do mestrado”, destaca o vice-coordenador da UE, Thiago Barros.
Com 12 estudantes, o mestrado contempla duas linhas de pesquisa: Inovação e desenvolvimento de tecnologias em saúde animal e saúde pública, relacionada às áreas das Ciências Agrárias e das Ciências da Saúde; e Desenvolvimento de técnicas e estratégias para o agronegócio, reprodução e produção animal, vinculada à área das Ciências Agrárias.
A conquista da pós-graduação é mais uma prova do empenho dos estudantes e técnicos, e da excelência do quadro de docentes do curso. “São dez anos de luta e de conquistas. Somos protagonistas da expansão da Universidade Federal de Alagoas e do desenvolvimento, não somente das regiões onde a nossa Instituição está inserida, mas do desenvolvimento do nosso Estado e do nosso País como um todo”, comemora a coordenadora Chiara Lopes.