Instituto de Computação promove painel sobre a mulher na área da tecnologia
Estudantes e professores da unidade debateram a questão de gênero dentro das ciências exatas
- Atualizado em
Natália Oliveira - estudante de Jornalismo
Mulher e Computação. Foi esse o tema do painel realizado no auditório do Instituto de Computação da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) na tarde da última quinta-feira (1º). A atividade reuniu estudantes e professores da unidade acadêmica para discutir a questão do gênero nas ciências exatas, especialmente na área da tecnologia.
A iniciativa de realizar o painel surgiu no início ao atual período letivo, quando apenas quatro alunas se matricularam no curso de Ciência da Computação e duas em Engenharia da Computação. “Isso é recorrente, mas, dessa vez, pensamos em reunir essas meninas numa sala e mostrar que elas têm representatividade de outras mulheres que já estão no curso”, explicou a estudante, Júlia Albuquerque, que apresentou o momento de reflexão ao lado das alunas Vanessa Vieira e Alessandra Aleluia.
Ainda de acordo com Júlia, no momento em que reuniu as estudantes do instituto, surgiu a ideia de debater a razão de haver poucas mulheres na área da computação e como poderiam agir para reverter essa realidade. “Várias comunidades dentro e fora do Brasil vêm discutindo a importância de ter mais mulheres na área de tecnologia. A mulher usa mais tecnologia que o homem e poucas idealizam e desenvolvem projetos. E isso é um problema. Quem vai colocar a visão da mulher no desenvolvimento dessas tecnologias?”, refletiu.
Durante o painel, foram pontuadas questões que podem explicar a quantidade de mulheres que atuam na área da tecnologia. Segundo Júlia, o afastamento de gênero feminino das ciências exatas é visto logo na infância, onde os meninos são motivados a brincar com carros, legos e instrumentos, enquanto as meninas brincam de boneca, dona de casa e ou professora, por exemplo. “Os brinquedos dos meninos estimulam o pensamento lógico, o interesse pela construção. Já os das meninas direcionam mais para o lado do humano, de relacionamento interpessoal”, apontou.
Outra questão levantada durante o painel foi a representatividade feminina no universo da tecnologia. Na ocasião, foram citadas mentes brilhantes como Stephanie “Steve” Shirley, Margaret Hamilton e Ada Lovelace, a primeira mulher programadora da história. Outra personalidade lembrada foi Grace Hopper, analista de sistemas da marinha dos Estados Unidos, a quem creditam a autoria do termo bug, que, em português, significa inseto. Diz-se que, ao procurar o motivo para um problema em seu computador, Hopper encontrou um inseto morto dentro da máquina e, desde então, o termo passou a ser utilizado.
Representatividade
Para reforçar a representatividade feminina dentro do IC, a professora Eliana Almeida proferiu uma palestra sobre o tema do painel. Formada em Engenharia Civil pela Ufal, a professora é mestre em Engenharia de Sistemas e Computação, doutora em Informática e diretora de marketing da Sociedade Brasileira de Computação (SBC).
Durante a palestra, Eliana apresentou o percentual de mulheres na Ciência da Computação no Brasil, de acordo com pesquisas realizadas em 2011 e 2013. No primeiro ano, a representação das mulheres graduadas, mestres e PhDs foi de 11,7%, 24,6% e 18,4%, respectivamente. Já em 2013, o número de graduadas aumentou para 14,2%, enquanto que o percentual de mestres e PhDs caiu para 21,2% e 17,2%.
Segundo a professora, os números evidenciam a presença minoritária de mulheres dentro do ambiente acadêmico e, em Alagoas, não é diferente. Dentro do quadro de 44 professores efetivos do Instituto de Computação da Ufal, apenas três são mulheres, incluindo ela. “Seria bem interessante se eu tivesse mais colegas aqui. Se não estou enganada, quando voltei do Rio de Janeiro para Maceió, em 1998, eu era a única mulher com doutorado em computação em Alagoas”, explicitou Eliana.
Presente na palestra, o professor do Instituto e coordenador de pesquisa da Pró-reitoria de Pesquisa (Propep), André Lage, reforçou a importância do debate diante da situação encontrada não só na Ufal, como em outras universidades do país. “O que vivemos é uma instância da ignorância e não podemos aceitá-la, muito menos aceitar a intolerância e o preconceito dentro da Universidade. Temos que trabalhar a discussão do assunto, a participação das mulheres nas ciências exatas, especificamente na computação”, ressaltou.