Pesquisadora portuguesa fala sobre ensino superior em países desenvolvidos

Para Luísa Cerdeira, com apenas 15% da população com o grau superior, Brasil ainda está muito aquém do recomendável


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Professora Luísa Cerdeira
Professora Luísa Cerdeira

Thâmara Gonzaga - jornalista

A defesa do ensino superior e a importância dos investimentos públicos na área foram alguns dos tópicos abordados pela pesquisadora do Instituto de Educação da Universidade de Lisboa, Luísa Cerdeira, durante o seminário internacional Demandas sociais nas universidades públicas: os modelos brasileiro e português de financiamento estudantil, realizado nessa segunda-feira (26), no auditório da Reitoria.

Ao falar para Ascom Ufal antes da palestra, Cerdeira ressaltou que “hoje em dia, para o desenvolvimento dos países, o principal desafio é ter uma população que tenha de forma expressiva uma preparação e uma formação de grau de ensino superior”. Ainda segundo a pesquisadora portuguesa, “se há um século ou meio século, o importante para os países era ter sua população alfabetizada, hoje em dia, o objetivo aumentou, ou seja, o que distingue os países desenvolvidos ou não tem muito a ver com a população estar preparada e ter acesso ao ensino superior”, afirmou.

Nesse aspecto, segundo a professora, “o Brasil ainda está muito aquém”. “Aqui, só 15% da população tem o grau de ensino superior. Se o país permitir ficar ainda mais para atrás na preparação de seus jovens e na preparação da qualificação de sua população, pode prejudicar o desafio de aumentar a sua competitividade, a sua economia e de se tornar um país desenvolvido”, alertou.

A economista com doutorado em Educação, e que também preside o Fórum de Gestão do Ensino Superior nos Países de Língua Portuguesa (Forges), apresentou uma visão global sobre o contexto mundial da educação superior, os principais desafios e tendências.  “Para entender o nosso sistema, temos também que ter uma noção sobre como o nosso planeta está a evoluir em relação ao ensino superior”, destacou. Na ocasião, ela também falou sobre as principais tendências e modelos de financiamento da educação deste nível, quer em termos das próprias instituições universitárias, como nos modelos de apoio e financiamento da assistência aos estudantes.

Sobre as principais tendências de financiamento do ensino superior no mundo, Luísa Cerdeira apontou que, em termos gerais, nos últimos 20 anos, há uma tendência na diminuição do financiamento público para a educação superior. “Cada vez mais, há uma participação maior por parte dos estudantes e das famílias no orçamento e no custear das despesas com o ensino superior. Essa é a principal linha a desenvolver”. No entanto, conforme a pesquisadora, os modelos divergem muito. “No Brasil, muitos estão em instituição privada, diferente da maior parte dos países, por exemplo, da Europa, em que a maioria está em instituições públicas. São modelos e situações diferentes que devem ser pensadas e refletidas, pois são experiências bem diversas”, destacou. A pesquisadora alerta que “a educação superior do Brasil é altamente privatizada”. “A grande maioria do sistema é suportada pelas instituições privadas”, afirmou.

Segundo Cerdeira, uma das implicações dessa tendência é a diminuição no repasse de recursos. “Penso que como que está a ocorrer aqui [Brasil], e o que pode vir acontecer, que é tendência de um modo geral, é que mesmo a parte ligada ao financiamento público, universidades estaduais, federais e municipais, poderá ter dificuldades orçamentárias nos próximos tempos, porque a tendência poderá vir a ser cortar ainda mais o financiamento público para esses componentes. Não quero fazer más previsões, mas, provavelmente, diante do contexto político que está vivendo o país, deverá ser esse, infelizmente, o caminho”, disse.

Visita à Ufal

É a primeira vez que a pesquisadora portuguesa Luísa Cerdeira visita a Universidade Federal de Alagoas, mas, há 35 anos, ela vem com frequência ao Brasil. A reitora Valéria Correia, o vice-reitor José Vieira, pró-reitores, diretores de unidades, professores e estudantes acompanharam o seminário.

O evento foi promovido pelo Grupo de Pesquisas em Gestão e Avaliação Educacional (GAE), Programa de Consolidação das Licenciaturas (Prodocência) e Comitê Institucional de Formação da Ufal (Comfor).

“Esse é um evento de grande importância, com um tema desafiador diante de uma conjuntura tão adversa. Em tempos difíceis, o debate enriquecedor sempre é bem-vindo. Enquanto instituição formadora, a Ufal faz parte da luta pelos investimentos nas universidades e também na assistência estudantil”, destacou a reitora em seu pronunciamento.