'A Universidade encontra a periferia' motivou pesquisadores e ativistas
Temas levantados motivaram estudantes em novas pesquisas junto às comunidades
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Lenilda Luna - jornalista
Representantes da comunidade acadêmica e moradores dos vários bairros de baixa renda de Maceió consideraram importante e estimuladora essa aproximação entre a Universidade e a periferia, promovida em mais uma edição do encontro organizado pelo Grupo de Pesquisa Periferia, Afetos e Economia das Simbolizações, liderado pelo professor Fernando Rodrigues.
Para os estudantes e pesquisadores, o diálogo com ativistas sociais e políticos, representantes religiosos e artistas da periferia proporciona uma reflexão importante que motiva um estudo mais profundo sobre as várias situações vivenciadas pelas comunidades periféricas, suas formas de organização, resistência e construção de identidades.
Para os representantes dos bairros, é uma forma de afirmação das ações positivas realizadas nas comunidades. O encontro proporciona a divulgação dos grupos culturais, religiosos e de ação popular que atuam no cotidiano de pessoas que vivem à margem da assistência do Estado e que alcançam os noticiários muito mais pelas notícias de violência e tráfico de drogas, silenciando a voz de artistas, trabalhadores e ativistas.
A organização do evento, que está na segunda edição, é feita pelo professor Fernando de Jesus Rodrigues, doutor em Sociologia pela Universidade de Brasilia (UnB), numa parceria com o ativista social e cultural Ari Consciência, atuando desde a década de 1980 em Maceió, é uma referência em todos os bairros periféricos da capital alagoana; e a jovem pesquisadora, Alana Barros, estudante de Ciências Sociais da Ufal e militante do Levante Popular da Juventude. Os estudantes do grupo de pesquisa também contribuíram na organização do encontro.
Em dois dias de discussão, as mesas de debates foram as mais ecléticas possíveis, colocando lado a lado representantes das religiões afro-brasileiras e pastores evangélicos, pesquisadores da academia e ativistas sociais com muita experiência em organização popular, além de artistas do movimento hip hop e do reggae, que representam a resistência cultural nas periferias.
"Na minha trajetória de pesquisa nas periferias, percebi que muitos agentes culturais e políticos com trabalhos relevantes em suas comunidades não dialogam entre eles. Quisemos construir esse espaço de interlocução, para que eles se conheçam e se aproximem", ressaltou Fernando Rodrigues.
A estudante Alana Barros, além de organizadora do encontro, também participou da mesa que refletiu sobre a aproximação da Universidade com as comunidades periféricas."Esse encontro me proporciona, enquanto estudante e pesquisadora em formação, ouvir como a própria periferia está se pensando a partir dos seus contextos diários, da sua própria realidade", destacou.
Para Ari Consciência, essa aproximação com o grupo de pesquisa foi um grande estímulo, até para pensar num projeto de estudo em breve. "Eu descobri que sou importante não só para as comunidades nas quais morei, como Ponta Grossa e Village Campestre, mas para toda a periferia, por todo o conhecimento e contatos que acumulei nesses mais de 30 anos de militância. Então, quando comecei a colaborar nessa organização, pude fazer essa ligação da Universidade com os cantores de rap da periferia, os 'regueiros', os jornalistas, os organizadores políticos, os militantes negros e capoeiristas. Queremos que essas pessoas tenham visibilidade e contem suas histórias, e com certeza muitas propostas transformadoras podem surgir daí", concluiu Ari.