Pesquisa de Enfermagem conquista 1º lugar em prêmio da ABEn
Trabalho sobre autocuidado da criança autista foi premiado durante congresso brasileiro
- Atualizado em
Thâmara Gonzaga – jornalista
Integrantes de um grupo de pesquisa da Escola de Enfermagem e Farmácia (Esenfar) da Ufal, conquistaram a primeira colocação do Prêmio Jane da Fonseca Proença, instituído pela Associação Brasileira de Enfermagem (ABEn), em 1995 e patrocinado pela Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa da Universidade Federal Fluminense (UFF). A premiação foi entregue durante o 69º Congresso Brasileiro de Enfermagem, realizado do início do mês, no Centro de Convenções Ruth Cardoso, em Maceió.
Os pesquisadores fazem parte do Grupo de Pesquisa em Saúde Mental Álcool e outras Drogas Austregésilo Carrano Bueno (Gpesam). O trabalho Promovendo o autocuidado da criança com transtorno autista através da social stories foi considerado o melhor na área de Enfermagem Psiquiátrica, Saúde Mental e Relacionamento Interpessoal. O estudo é de autoria da enfermeira e mestra em Enfermagem pela Ufal, Patrícia Maria da Silva Rodrigues, sob orientação da docente da Esenfar, Maria Cícera dos Santos de Albuquerque, com a colaboração da professora aposentada do curso de Enfermagem, Mércia Zeviani Brêda, da mestranda do Programa de Pós-Graduação do Curso de Enfermagem, Flaviane Maria Pereira Belo, e da enfermeira Givânya Bezerra de Melo.
“Trabalhar com a criança com Transtorno do Espectro Autista partiu de uma inquietação pessoal de melhor conhecer e cuidar das pessoas que possuem um transtorno que gera tantos tabus, incertezas e inseguranças entre os profissionais de saúde”, argumenta Patrícia Rodrigues. “Ganhar o prêmio foi uma agradável surpresa, que coroou uma experiência incrível, contudo, mais importante que receber o prêmio foi a possibilidade de apresentar este trabalho em um congresso brasileiro e discutir o papel terapêutico e educativo da enfermagem”, ressaltou.
Sobre o trabalho premiado
O estudo premiado buscou aplicar o processo de enfermagem da teoria do autocuidado à criança com Transtorno do Espectro Autista (TEA)-Asperger. “Destaco o quanto enriquecedor foi a construção deste trabalho, tanto profissional, quanto pessoal. Poder adentrar no âmbito familiar, junto aos pais, reconhecer as necessidades da criança, intervir e vislumbrar, paulatinamente, o comprometimento dos pais e a evolução da criança, levou-me a um mundo de reflexões acerca da essência do cuidado subjetivo pautado nas singularidades e potencialidades do sujeito”, afirma Patrícia Rodrigues.
A orientadora, professora Maria Cícera Albuquerque, explica que a “criança com TEA comumente possui sua autonomia limitada, e a capacidade de se autocuidar pode ser prejudicada quando seus pais, por falta de conhecimento e compreensão, não a estimula precocemente, infantilizando-a, superprotegendo-a e, por vezes, ignorando suas potencialidades”.
Segundo Maria Cícera, “tendo em vista, que não existe cura para o TEA, o tratamento visa ajudar a criança a alcançar independência para as atividades diárias, como vestir-se, higienizar-se, adquirir capacidades básicas de seguir ordens simples, comunicar desejos, estabelecer um mínimo de relacionamento com as pessoas e reduzir os comportamentos autoagressivos e inadequados”, complementa.
A docente esclarece que, na pesquisa realizada, “o cuidado ofertado à criança embasou-se na teoria de enfermagem do autocuidado de Dorothea Orem, com vistas a identificar a capacidade e as demandas de autocuidado da criança, avaliando suas habilidades para efetivar ações que satisfaçam suas necessidades de promoção da saúde e bem-estar”, afirma. “De modo a estimular e ensinar o autocuidado na criança, utilizou-se a social stories, criada pela psicopedagoga norte-americana Carol Gray, que é uma história curta, individualizada, escrita na primeira pessoa, com imagens que detalha uma situação social e orienta o comportamento da criança, servindo como script visual”, completa.
Resultados apresentados pelo estudo
O trabalho levou em consideração a realidade de uma criança com 11 anos de idade e diagnóstico de TEA-Síndrome de Asperger.
De acordo com a autora, o trabalho buscou apontar “formas de cuidado capazes de valorizar as potencialidades da criança e estimular o seu autocuidado por meio da aplicação efetiva de uma Teoria de Enfermagem e de uma ferramenta educativa, pouco difundida e utilizada no Brasil, a Social Stories, o que pode contribuir para a inovação da prática de Enfermagem voltada a estas pessoas”.
Ao investigar os déficits de autocuidado, explica a docente, identificou-se que a criança não tinha independência em sua rotina diária. “Ela não tomava banho, não higienizava as mãos, nem escovava os dentes sozinha; não se higienizava após evacuar, não dormia em seu quarto, não conseguia amarrar o cadarço do sapato”, enumera. “Apresentava comportamentos inadequados durante as refeições e ao longo do dia, enquadrando-se no sistema de enfermagem parcialmente compensatório, onde os pais realizavam as ações de autocuidado pela criança”, afirma.
Ao final da pesquisa, após dez intervenções com a social stories, de acordo com as pesquisadoras, a criança tornou-se sujeito ativo no provimento do seu autocuidado, realizando todas as ações sozinhas e abandonando os comportamentos inadequados.
Rodrigues reforça a importância do envolvimento da família para o sucesso da intervenção. “Ratifico que a família foi essencial no processo de aquisição da autonomia pela criança, tendo em conta que a evolução nela percebida foi fruto da dedicação, interesse e engajamento de seus pais neste processo terapêutico”, resssalta.