Ciseco inicia debates com articulações representativas e democráticas
A 9ª edição do pentálogo tem programação até a próxima sexta-feira (30)
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O novo engajamento e as ressignificações do sistema democrático, esta foi a tônica abordada durante a 9ª edição do encontro do Centro Internacional de Semiótica e Comunicação (Ciseco). Jornalistas, relações públicas, comunicadores e estudiosos se reúnem este ano na cidade de Japaratinga, em Alagoas, para debater o tema Midiatização e reconfigurações da democracia representativa.
Na mesa de abertura o presidente do Pentálogo, Fausto Neto, deu as boas-vindas com uma fala ativa e fornecendo ânimo ao evento, relembrando o trabalho construído há pelo menos dez anos por Eliseo Veron, um dos idealizadores do Ciseco. “Há uma década nós analisávamos 20 papers, debatendo um problema do deslocamento das mídias clássicas, entre governantes e sociedade. O que nós vivemos hoje é a mudança de um plano progressista para um conservador, as constituições políticas locais construindo um protocolo de circulação que se instaura neste cenário”, frisa o comunicador.
O pesquisador abordou que apesar dos contingenciamentos de recursos destinados a Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I), o congresso está sendo disponibilizado graças a um esforço congregado com alguns órgãos e universidades. O encontro reúne pesquisadores durante as palestras de 26 a 30 de novembro, e promove um colóquio de trabalhos na próxima quarta-feira (28), que reunirá 24 instituições representantes.
A coordenadora local do evento, Sandra Nunes, cumprimentou a mesa e os estudiosos reunidos, iniciando a sua fala saudando a memória de Eliseo Veron. A diretora do Instituto de Ciências Humanas, Comunicação e Artes (Ichca) da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) agradeceu o apoio concedido existente da parceria entre o Ciseco e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (Fapeal). A Fapeal concedeu recursos orçados em R$ 20 mil para a realização do pentálogo, além de fornecer apoio de sua equipe técnica para a cobertura e logística do evento.
A relações públicas cita que o Brasil ainda deve caminhar muito para tornar a democracia mais ativa. “Nosso exercício de poder deve ir além de uma simples escolha política, precisamos romper com esta sequência no país e ser uma flor plantada no asfalto”, ressaltou Nunes.
Também estiveram presentes na mesa de abertura os diretores Laura Guimarães, Pedro Russi, a representante do conselho consultivo Inesita Araújo, e o mediador da mesa Antônio Heberlê.
Englobando a pauta Democracia representativa: além da midiatização a nova circulação?, o professor da Universidade de Buenos Aires, Mario Carlón, iniciou a 1ª mesa com uma pergunta: A democracia está morrendo na América Latina? O comunicador argentino, explica que este clima é partilhado tanto na Argentina quanto no Brasil. No entanto, a democracia é um sistema de valores que deve estar presente na sociedade, em instituições e coletivos.
Os valores presentes hoje não são estáticos e seguem um modelo adotado pela revolução francesa. Segundo o acadêmico, existem questões que permeiam os direitos de igualdade, liberdade e fraternidade, como o casamento igualitário entre os gêneros, e o debate acerca da legalização do aborto. Os segmentos sociais, por exemplo, começaram a protestar e se posicionar, observando-se na questão do aborto coletivos a favor da legalização, mas também movimentos pró-vida, este engajamento é citado como uma ação relevante.
Outro ponto levantado é o chamado underground dos meios comunicacionais, que segundo o professor afeta as formas de análises. Este termo é atribuído a páginas como Twitter, Facebook e outras redes sociais. Os discursos circulam, porém sem saber em que circunstâncias o produto tramita para chegar aos destinatários.
Já na 2ª mesa do dia José Luiz Prado abordou o Aparelho de insatisfação midiatizada no capitalismo comunicacional: como manter a democracia?, analisando o consumo deste segmento textual. O docente da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP) cita que o comportamento hostil observado atualmente ostenta as diferenças no meio político e cria grupos ao redor de lideranças, ou celebridades. Ele configura que se os comunicadores se rebelam contra este posicionamento, ganham somente um pequeno gosto de liberdade, mas se eles seguem as correntes do capitalismo comunicacional, se veem atados a suas regras no presente sonhando apenas com as promessas futuras.
Na última mesa do dia José Luiz Braga dialogou acerca Das funcionalidades técnicas aos processos da comunicação. O pesquisador da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) argumentou que os processos e questões comunicacionais são constantes no espaço de midiatização, democracia, e as urgências comunicacionais existem desde sempre na sociedade. Neste contexto são geradas as macroestratégias como: informação, debates, democracia, entre outros artifícios usados para enfrentar os dilemas existentes.
O estudioso frisa que hoje é extremamente democrático poder não depender de jornais para se ter acesso e gerar opinião, pois estes veículos podem influenciar de forma política ou possuir interesses diversos. No entanto, Braga alerta que são nestas tentativas de resolver as questões de interação com a mídia que surgem as fake news. “A sociedade hoje é uma fábrica de experimentações sociais, elas são pontuais e dispersas. A democracia costumava ser uma macrobase de articulação na comunicação, sendo construída dentro do debate e da informação”, explica o acadêmico.
O professor conclui afirmando que o modelo democrático se tornou transversal a toda a sociedade não só ao campo político, no qual a democracia é praticamente um processo interacional. “Quando nós estamos numa sociedade em que a democracia se torna um processo de referência, a midiatização se encontra presente no nosso processo de interagir, é um fenômeno abrangente e afeta todas as áreas da sociedade.