Cientista de projeção internacional destaca importância da 70ª Reunião da SBPC
Sylvio Canuto é alagoano e está entre os 55 cientistas mais bem-sucedidos do mundo
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Diana Monteiro - jornalista
Sair do lugar de origem para aprimorar conhecimento é rotina na vida de quem pertence à academia e vislumbra acompanhar a evolução científica da área de aprendizado. Mas se destacar como pesquisador e alcançar reconhecimento internacional, sempre é resultado de uma determinada, obstinada e competente trajetória no mundo científico. É o caso do alagoano e físico Sylvio Canuto, selecionado, por mérito, em janeiro, entre os 55 mais bem-sucedidos do mundo para a Academia de Ciências para o Mundo em Desenvolvimento, conhecida TWAS (The World Academy of Sciences), uma organização internacional criada em Trieste, na Itália.
Sylvio é coautor de mais de 260 artigos publicados em periódicos científicos nacionais e internacionais, com mais de três mil citações e integra o Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP). Nesse Estado é membro titular da Academia de Ciências de São Paulo, da Academia Brasileira de Ciências e coordenador da área de Astronomia e Física junto à Capes, além de representante do CTC-ES no conselho superior, na mesma agência.
O pesquisador, nascido em Maceió, onde morou até os 18 anos, destaca a boa formação que teve em referenciadas escolas públicas de Alagoas, a exemplo do Grupo Escolar D. Pedro II, Colégio Estadual de Alagoas e disse ter saído do Estado para bacharelar-se em Física, na UNB, por não existir ainda na Universidade Federal de Alagoas esse curso.
Sobre sua projeção internacional em área tão específica, como também pertencer a uma instituição de excelência em todos os níveis e em todas as áreas, como a USP, Sylvio faz uma breve retrospectiva: "Sempre fui movido por princípios de busca de excelência e ética aprendidos em casa, com meus pais, e aprimorados por bons professores, colegas e muitas outras referências. A Ufal, onde tenho boas relações com vários colegas, é muito diferente de meus tempos em Maceió e conta atualmente com bons cursos que não existiam na época, notadamente o curso de Física”, diz o pesquisador.
No mês de julho as atenções do mundo acadêmico e científico estarão voltados para a Ufal, que sedia, pela primeira vez, a Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, em suas sete décadas de existência. Sobre o evento, focado no tema Ciência, Responsabilidade Social e Soberania e ocorrer em um Estado que permanece com extremas carências, a exemplo da educação, Sylvio Canuto destaca:
“A Universidade Federal de Alagoas é a alma mater de boa parte da geração política que lidera o Estado, e não pode ser esquecido a um ponto quase irrelevante na educação em Alagoas. Imagine a quantidade de jovens com capacidade científica que não tiveram uma chance de estudar. Perdem estes jovens, mas também perde, ainda mais, a sociedade que desperdiça este extraordinário potencial. Talvez esta reunião da SBPC em Alagoas desperte as lideranças políticas do Estado. Gostaria de ser otimista quanto a isso”, afirma Sylvio Canuto.
Ele acrescenta que a Reunião Anual é impactante sob muitos aspectos e que não seria nenhuma novidade enfatizar que o progresso de uma comunidade, cidade, estado, país, está associado ao seu nível de instrução, escolaridade, saúde, desenvolvimento científico, dentre outros, com a ênfase e prioridade com que estes temas são tratados. “O Estado precisa recuperar estas prioridades”, diz.
Segundo o pesquisador, fazer ciência é fazer uma escolha de dedicação à busca pelo conhecimento, de um modo geral. “É a ciência que busca a solução dos problemas do ser humano e da sociedade como um todo. Ciência, como diz o nome, é conhecimento, mas é também a capacidade de formular e resolver problemas, buscar novas soluções. Evidentemente, há implicações tecnológicas e econômicas, mas essencialmente é uma paixão pela solução de problemas e compreensão ampla, da natureza, do seu meio ambiente, meio social, momento histórico”, acrescenta.
Canuto reforça que a universidade e os centros de pesquisa no Brasil se desenvolveram muito e estão em condições de enfrentar problemas do Brasil, que está entre os 13 maiores do mundo em produção de artigos científicos. E dizendo que a pesquisa científica é a busca pelo conhecimento novo e a curiosidade é inerente ao ser humano, Sylvio Canuto aproveita para deixar um recado aos estudantes da Ufal: “Acreditem no seu potencial e se dediquem aos estudos que, certamente, o conhecimento será um bem maior não só para atingir sua plenitude intelectual mas, para entender um mundo em crescente e acelerada transformação”.
Projeção internacional
Ao destacar sua trajetória de formação, iniciada em Alagoas, o pesquisador enfatiza que a efervescência cultural e científica vigente na USP é um estímulo constante para o crescimento acadêmico-científico e o engajamento com os problemas do país. Ele cita como outra positividade em sua trajetória que vivenciou, ainda muito jovem, o ambiente científico de uma universidade de 500 anos durante o doutorado em Química Quântica na Universidade de Uppsala, na Suécia. Nesta instituição, Sylvio Canuto acumulou publicações científicas em coautoria com colegas de mais de 25 países diferentes e seu pós-doutorado foi feito na Universidade da Flórida, nos Estados Unidos.
Sobre a eleição como membro da renomada The World Academy of Sciences ele diz: “É muito honroso e gratificante para mim. A eleição para a TWAS é normalmente vista como um reconhecimento por uma trajetória científica de contribuição em vários níveis. O que, no meu caso, não é apenas um alcance individual. É decorrência de muitos anos de trabalho persistente realizado com estudantes e colaboradores e com apoios institucionais onde as pesquisas são feitas e financiadas”.
Na Índia, Sylvio Canuto recebeu a Palestra Memorial MN Saha (Índia) e foi homenageado pela Universidade de Havana (Cuba), pelo International Journal of Quantum Chemistry. Já no Brasil recebeu homenagem na 12ª Escola Brasileira de Estrutura Eletrônica.
Conheça a TWAS
É uma organização internacional que tem como objetivo associar diferentes sociedades científicas dos países em desenvolvimento na busca pelo desenvolvimento científico e tecnológico, incentivando pesquisas pela concessão de bolsas e prêmios. Os 55 membros eleitos para as diferentes áreas, tomarão posse no segundo semestre deste ano.