Músico radicado em Paris faz manutenção em instrumentos da Camerata Acadêmica

Henry Guerra realizou trabalho gratuitamente para alunos da Escola Técnica de Artes

Por Simoneide Araújo - jornalista colaboradora
- Atualizado em
Henry Guerra presenteou a Camerata com a manutenção dos instrumentos que vão para Fernando de Noronha
Henry Guerra presenteou a Camerata com a manutenção dos instrumentos que vão para Fernando de Noronha

Considerado um dos maiores archetiers [construtor de arcos, a haste com que o músico toca o instrumento] da atualidade, o paraibano Henry Guerra, radicado em Paris há 14 anos, esteve em Maceió na última semana e fez uma surpresa aos integrantes da Camerata Acadêmica da Escola Técnica de Artes (ETA) da Universidade Federal de Alagoas. Ele realizou a manutenção, gratuita, dos instrumentos usados pelos alunos.

E por que ele fez isso? Além da amizade com sua conterrânea de Campina Grande-PB, professora Lílian Pereira, que coordena a Camerata Acadêmica, Henry também se dedica a trabalhos sociais e tem motivos de sobra para ajudar. É que este mês, próximo dia 16, o grupo da ETA vai fazer um concerto em Fernando de Noronha, no 1º Festival de Música no Forte, a convite do professor Alessandro Borgomanero, diretor artístico do evento.

A experiência com a Camerata Acadêmica é uma continuidade do trabalho social que Henry vem desenvolvendo ao longo de sua carreira. “Foi um prazer muito grande, especialmente por Lílian, uma grande amiga que tenho há mais de 20 anos, desde a época da universidade. Eu sempre fui envolvido com projetos sociais em Campina Grande. Já dei aula de violino para apenados e chegamos a fazer uma orquestra de câmara. Também me envolvi com a implantação de outro projeto, uma iniciativa de um empresário local, que existe até hoje e abriga mais 400 crianças”, completou.

Lílian Pereira disse que a atitude de Henry foi um presente para ela, seus alunos e para a Escola Técnica de Artes. “Ele chegou e disse que ia dar a manutenção dos instrumentos da Camerata. Claro que fiquei muito feliz porque em Maceió não tem um profissional que faça esse trabalho. Até falei com Davi [Farias, diretor da ETA] da necessidade de criarmos oficinas, trazendo profissionais para ministrar, inclusive o próprio Henry se dispôs a vir ministrar e trazer alguns professores franceses. Nosso objetivo é iniciar esse processo de lutheria aqui, para fazer manutenção, construção e ensinar noções básicas, fazer uma troca de crina, por exemplo”, explicou.   

Paixão pela archeteria

Henry é bacharel em violino e descobriu sua paixão pela arte de construir arcos justamente pela necessidade de comprar um arco de violino. “Comecei a me interessar pela fabricação da lutheria [atividade do luthier, profissional responsável pela construção, reparo e manutenção dos instrumentos de corda]. E depois, na necessidade de fabricar um arco, foi quando eu comecei a me apaixonar mais por essa área da confecção do arco, a archeteria. Acompanhei um amigo que fabricava arco na Paraíba e pensei: rapaz, esse negócio eu consigo fazer. E foi assim que comecei esse trabalho”, disse.

Depois da descoberta, procurou uma escola para se especializar na arte da lutheria. Foi para Brasília, mas o que havia por lá era muito amador e voltou para seu Estado natal. “Foi então que, por meio de uma amiga, conheci um francês, professor de uma escola de lutheria e archeteria, em Paris. Ele viu meu trabalho e percebeu que eu tinha talento e me ofereceu uma bolsa para um período probatório e disse que, se eu passasse, iria fazer o curso. Ele enxergou o potencial. Uma coisa que descobri na Europa é que lá o que vale é a competência; não é a indicação; não é a amizade. Se não tem competência não tem ninguém lhe coloque lá dentro”, contou.

Henry conseguiu fazer o curso de fabricação de arcos, estudou durante dois anos e também fez o estágio em Paris. “Lá o estágio é obrigatório e fui para o ateliê Pierry Neurh. O dono viu meu potencial, gostou do meu trabalho e, a partir daí, começaram a surgir os primeiros contratos. Depois virou uma bola de neve e não saí mais de lá”, comemorou.

Atualmente, desenvolve um trabalho com o grupo Luthiers sem Fronteiras. “Graças a esse projeto consigo colaborar com muita gente. Consigo cordas que para os luthiers não servem mais, mas que estão em boas condições. São usadas por um mês ou dois e depois são descartadas. Agora não são mais porque podem ser usadas por quem está começando. Levo para as crianças em Campina Grande e as do projeto Prima, uma iniciativa do Governo do Paraíba. Também deixei algumas aqui com Lílian”, completou.

Mesmo morando há 14 anos em Paris, Henry não esquece das raízes e sempre vem à Paraíba, ficar com a família e com os filhos.