Pesquisadores de Arapiraca exploram soluções internacionais para semiárido

Programa de Desenvolvimento Regional inicia o diálogo com universidade de Israel

Por Naísia Xavier – Ascom Fapeal
- Atualizado em
Isabel Portugal, da Universidade Ben-Gurion, Israel
Isabel Portugal, da Universidade Ben-Gurion, Israel

É comum ouvir que Israel é um país do tamanho do estado de Sergipe. Lá, pelo menos 55% do território nacional está no deserto do Negev. Para sobreviver, nos últimos 60 anos, Israel se fez líder em tecnologias para reaproveitamento de água, produção agrícola em condições de escassez e captação de energia solar.

Seria possível traçar algum tipo de paralelo com Alagoas? Pesquisadores de lá e de cá responderam que sim, dialogando sobre o assunto no campus da Ufal em Arapiraca, na última quarta (30), durante um evento sobre as similaridades nos estudos das áreas áridas, semiáridas e desertos.

Dos 102 municípios alagoanos, 38 estão no semiárido e, portanto, susceptíveis à desertificação, devido à degradação ambiental em períodos de menos chuvas. Os pesquisadores mostraram que dados de 2016 afirmaram que, pelo menos, 230 mil km² do Nordeste se encontravam em processo de desertificação.

Em Alagoas, os estudos apontam que 63% dos municípios apresentam áreas assim, com os níveis mais graves registrados nos municípios de Ouro Branco, Maravilha, Inhapi, Senador Rui Palmeira, Carneiros, Pariconha, Água Branca e Delmiro Gouveia.

No workshop em Arapiraca, pesquisadores do agreste e sertão alagoanos apresentaram seus dados sobre as tecnologias alternativas para armazenar água no semiárido. Por sua vez, uma cientista brasileira que atua no deserto do Negev, em Israel, veio acenar com a oportunidade de intercambio para brasileiros que se interessem pela experiência daquele país.

O evento, no entanto, não foi apenas acadêmico. Por meio de articulação do Sebrae, também participaram do diálogo  a Cooperativa dos Produtores Rurais de Arapiraca (Cooperal) e a Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de Alagoas (Fetag), além dos estudantes de graduação e pós-graduação em Agronomia, Zootecnia e Biologia.

Conhecimento e soluções

A professora Mariah Tenório é doutora em forragicultura, ramo da ciência que estuda as plantas utilizadas como forragem animal e a interação delas com os animais, controle de solo e meio ambiente. Bolsista do Programa de Desenvolvimento Regional (DCR) da Fapeal, ela falou a respeito das diversas tecnologias alternativas utilizadas para captar recursos hídricos nas áreas mais secas e com menos infraestrutura e das técnicas de manejo sustentável dos recursos florestais da Caatinga.

Muito disso são as soluções desenvolvidas ao longo do tempo pelos próprios habitantes locais, em seu cotidiano, que vêm a se aperfeiçoar por meio do conhecimento técnico de especialistas e são difundidas por ações governamentais.

Patrimônio

Também foi apresentada uma pesquisa sobre etnobotânica, ou seja, a relação das pessoas com as plantas do seu ambiente, para construção do seu modo de vida, que mapeou o conhecimento popular sobre as plantas do semiárido alagoano, a partir da experiência de vida de assentados rurais, que delas tiram remédios, combustível, abrigo, asseio e alimentos para si e para os animais. O responsável pelo levantamento é o professor Henrique Costa Hermenegildo, biólogo com doutorado em ciências florestais. 

Intercâmbio

De Israel, veio a pesquisadora brasileira Isabel Portugal, bióloga especializada em aquicultura, e doutora em estudos desérticos, com PhD em Biotecnologia. Ela apresentou sua instituição de pesquisa, a Universidade Ben-Gurion (BGU), localizada entre o deserto do Negev e a antiga Judá.

A instituição tem interesse em alunos pesquisadores estrangeiros, e oferta bolsas para tanto. Dentre as linhas de pesquisa com potencial considerável de interesse para os pesquisadores do semiárido alagoano, estão: Energias alternativas (combustíveis verdes, solar, termoelétrica) e pesquisa em deserto e água (agricultura e aquicultura desertas, recursos hídricos; sobrevivência em terras secas).

Os interessados nas oportunidades de pesquisa internacional na BGU podem encontrar mais informações neste link. E em novembro próximo, Fortaleza recebe o 2º Biward, Workshop Brasil-Israel de Pesquisa e Desenvolvimento em Agricultura e Água, com o tema Tecnologias da água e agricultura sustentável — inovação para o desenvolvimento de terras secas.