Conferência debate acesso democrático às práticas de esporte e educação física

Estudo apresentado mostra as dificuldades e responsabilidades dos profissionais no alcance social a diferentes práticas corporais

Por Mara Santos - estudante de Jornalismo
- Atualizado em
Debate sobre acesso democrático às práticas de esporte
Debate sobre acesso democrático às práticas de esporte

Debater e apontar a necessidade, oferta e acesso democrático da sociedade, de forma geral, às práticas de exercícios ou atividades físicas. Este foi o assunto da conferência Responsabilidade social das ciências do esporte e educação física para o acesso democrático a diferentes práticas corporais, dentro da vasta programação da 70ª edição da Reunião Anual da SBPC. 

O professor e pesquisador da Universidade Federal de Santa Catarina, Giovani de Lorenzi Pires, iniciou a palestra afirmando que há, no Brasil, uma certa qualificação e crescimento das pesquisas relacionadas a Educação Física nos últimos 20 anos. No entanto, ele ressaltou que é preciso observar se essa expansão chegou, efetivamente, à sociedade. 

“Quais as possibilidades de associar os avanços teóricos das pesquisas com o comprometimento de chegar à sociedade, como responsabilidade e compromisso social? Chegam de fato? Estamos fazendo chegar?”, indagou o professor, provocando a reflexão de estudantes e pesquisadores presentes. 

Mestre em Ciência do Movimento Humano, Giovani Pires contou que as pesquisas em Educação Física têm se desenvolvido e há uma grande produção de trabalhos, mas impera a dificuldade em disseminar os estudos. A maioria das pesquisas é microssociológica e desenvolvida localmente. São importantes, mas, não têm oportunidade de propagação, grande parte,  Segundo ele, devido às exigências impostas que fazem com que os pesquisadores optem por trabalhos que têm menor foro e geram menos custos. 

Pesquisas avançadas 

Pires mostrou resultados de um estudo sobre as práticas de atividades físicas, ou esportes, que aponta a existência de um sedentarismo ainda considerado grande no país. A média nacional é de 43% das pessoas sedentárias, entre 35 e 44 anos. O trabalho também mostrou dados importantes: as mulheres são maioria com relação ao sedentarismo; 90% das pessoas iniciaram alguma atividade física ou esportiva sem orientação de profissionais ou professores; muitos apontam a falta de estrutura em locais públicos e a dificuldade financeira para pagar uma academia; a maioria dos idosos é de sedentários; e os jovens de até 24 anos que não se exercitam é porque não gostam ou não querem. 

Para o pesquisador, as desigualdades sociais contribuem para a falta de oportunidades de práticas destinadas à população, assim como elas determinam diferenças significativas de acesso a bens e serviços oferecidos e produzidos pela – e para a – sociedade. Essas desigualdades também são encontradas nos serviços das chamadas práticas corporais, que são exercícios e atividades físicas vistos como forma de lazer, saúde e bem-estar. 

Giovani Pires comentou que o Governo deveria proporcionar maior alcance da população à prática de exercícios e relacioná-la à saúde. Ele ressaltou que as escolas deveriam se manter mais ativas quanto à não obrigatoriedade em oferencer educação física no 1º ano do ensino médio. Pires acredita que as práticas corporais devem ser apresentadas à população desde a infância, mantendo uma constante de prazer, lazer, saúde e relaxamento. 

Prazer e saúde 

Durante a conferência, o professor citou três variáveis para que as práticas corporais sejam um meio positivo, possível e democrático para a sociedade. A primeira delas é atitude positiva em relação às práticas. Segundo ele, é preciso ter interesse e estar aberto à possibilidade. Também é importante que as condições de espaço, tempo e orientações sejam favoráveis. Pires acredita que um ambiente propício faz com que as práticas sejam benéficas e prazerosas. E, por fim, informação. O conhecimento permite maior autonomia nas escolhas. 

O professor lembrou aos presentes que a melhoria do desempenho físico ou da qualidade de vida é fundamental para a sociedade. Isso aproxima as pessoas e proporciona  um prazer cultural, desde que tragam bem-estar na prática por lazer, necessidade ou profissão. 

Política pública 

Giovani Pires concluiu a palestra afirmando que sem abdicar do compromisso pedagógico, no interior da escola, nos programas sociais de esporte e lazer nos quais estamos envolvidos, os profissionais de Educação Física, talvez, tenham que ampliar a atuação profissional para outros coletivos. Sejam comunidades de bairro, grupos organizados em busca de melhores condições para a sociedade, sejam partidos políticos, sindicatos ou representações coletivas capazes de mobilizar o governo na definição de prioridades. 

“Talvez a gente tenha que ‘ensinar Educação Física’ para as lideranças desse público. Pois se essas pessoas estão representadas pelos dados que vimos aqui, elas nunca vão colocar na ‘cesta básica’ das reivindicações atividades físicas e esportivas. Não é prioridade para elas, elas não estão representadas nisso. O nosso papel é persuadir esses grupos de que é necessário e importante essa reivindicativa estar presente na ‘cesta básica’”, sugeriu o pesquisador.