Conferência debate os impactos da crise sobre a mortalidade na infância

Especialista em avaliação e monitoramento de políticas públicas, Rômulo Paes de Souza, apresentou pesquisa para participantes da SBPC Alagoas

Por Mara Santos - estudante de Jornalismo
- Atualizado em
Conferência no auditório da Reitoria
Conferência no auditório da Reitoria

O epidemiologista e especialista em avaliação e monitoramento de políticas públicas, com ênfase no impacto social, Rômulo Paes de Souza, realizou uma conferência na 70ª Reunião Anual da SBPC, nesta quarta-feira (25). Com o tema Os impactos da crise sobre a mortalidade na infância, a palestra reuniu estudantes e profissionais na área de saúde, política e educação que lotaram o auditório da Reitoria, no Campus A.C. Simões da Ufal em Maceió.

Os estudos apresentados pelo médico visam políticas de proteção social de erradicação a pobreza, através de indicadores de desigualdades e informações aplicadas a estudos sociais e urbanos. Souza  foi responsável pelo monitoramento e avaliação do Programa Bolsa Família e realizou trabalho junto aos ministérios da Saúde e do Trabalho.

Rômulo fez uma breve avaliação sobre as crises vivenciadas em países europeus, de renda alta e média, mas ressaltou que a maioria deles possuem um sistema de saúde mais robusto que os brasileiros, além de apresentarem uma situação econômica melhor e serviços de qualidade. Em países mais pobres, os momentos de crise geram uma gama de problemas que podem fazer com que estes demorem anos para se estruturar e superar.

Durante a palestra, o pesquisador disse que o Brasil tem um modelo híbrido de saúde, com serviços públicos e privados. Falou que em momentos de crise o financiamento corporativo é totalmente afetado, o que gera uma redução de ofertas de serviços, impacto sobre as forças de trabalho e ausência de recursos financeiros.

“Quando há desemprego, nós temos uma redução da procura de planos de saúde, redução na oferta de serviços, ausência nas doações à medicina filantrópica, diminuição das ações e vigilância relacionadas à saúde e perda de qualidade no atendimento”, elencou o médico.

Crise no Brasil

Segundo Rômulo Souza, a dinâmica econômica de vários municípios brasileiros não oferece empregos e faz com que grande parte da população dependa de ações de políticas públicas. Todos os componentes de uma família, em idade produtiva, são importantes para  desenvolvimento financeiro da mesma. Na atual crise do país, há muitos jovens e adultos desempregados e a ausência dessa renda afeta o conforto familiar, além de impactar negativamente a economia.

A recuperação de uma crise pode levar anos, de acordo com os estudos apresentados pelo médico. Para a de 2014 o Brasil tende a iniciar uma recuperação econômica em 2020, mas o bem-estar da população deve demorar ainda mais para ser restabelecido. “Na hora em que a economia começa a se recuperar, alguns têm melhorias ainda melhores que outros, ou seja, quem já tem passa a ter mais. E a recuperação do bem-estar leva mais tempo que a econômica”, ressaltou.

Mortalidade infantil

Rômulo Souza afirmou que estudos comprovam o sucesso do Programa Saúde da Família (PSF)  na diminuição da mortalidade de crianças maiores de cinco anos. A faixa etária foi escolhida para a pesquisa devido à facilidade do cálculo do denominador e também dos dados demográficos.

A política pública precisa ter tamanho para acomodar a nova demanda de pessoas em situação de baixa renda. As medidas de austeridade podem agravar os impactos da crise econômica e aumentar os números de pobreza. Segundo o médico, o Brasil começou a ter indicadores de mortalidade infantil instáveis, seus estudos mostram que ela continua caindo, mas em ritmo e profundidade menor.

No entanto, Souza declarou a gravidade das últimas notícias mostrando o crescimento dos óbitos e a redução da cobertura vacinal, em alguns casos, pela recusa das famílias, “Isso é muito preocupante”, reforçou. O palestrante concluiu dizendo que os níveis de mortalidade na infância tendem a ser impactados por políticas públicas ruins e que é preciso escolher meios que aumentem o combate à pobreza.